Eu já tive um blog uma vez. Mas ele era só meu e de algumas poucas pessoas. E talvez este continue assim, mesmo que ele seja anunciado. Pode ser porque nada de interessante esteja escrito nele, pode ser porque ele não tem pretensões, ele é vazio de apelo, é branco e pálido dentro de uma redoma vítrea fosca. Ele está num canto e existe por si só. Existe porque eu quis, mas não lhe dei nada para fazer com sua existência. E por isso relutei muito em nascer outro blog. Porque... Para que?
E todo esse atravessar vales e florestas atrás do sentido por trás de tudo me exauriu já a um grau infinito para uma vida inteira e eu nem estou na metade dela. Então resolvi fazer algo por fazer. Um blog, distraído, tomou um empurrão na vida e eu disse "vai, blog, ser nada" e ele foi. Ele está sendo e mesmo que eu nunca mais o olhe depois desta postagem, ele continuará sendo. E nós? Seríamos isso? Jogados aqui para sermos e bem-aventurados os que acharem uma função na vida? Mas... E se de repente eu perder a vontade de achar essa função, mas mesmo assim quiser viver? Seria eu oco? Seria eu superficial? Seria eu parte da massa? Logo eu que sempre soube ser diferente não-positivamente, mas fiz disso um positivo de dentro para fora. Que ironia eu ter de repente perdido a sede da busca. Pode ser apenas por este minuto e logo após eu volte a buscar. Mas agora, agora eu me sinto mais leve. Tudo o que qualquer pessoa fala me dá uma pista, me faz entender melhor, me faz ser diferente. Eu mudo de opinião em segundos, eu me critico e aos outros centenas de vezes e volto e apago e redesenho, me desculpo, amo, desamo, me apaixono, quero matar todos, quero dizimar sentimentos, quero conhecer o profundo da sensação mais sutil, quero conversar, quero brigar, quero desafiar, quero escrever e escrever e escrever sobre tudo isso sem saber o início nem o fim dos meus textos. Quero guardá-los aqui e esquecer como se deleta, ou eles vão também se perder. Essa veia não jorra por muito tempo, ela se fecha e se abre quando ela acha que está saturada e, depois de tanto tempo, eu me sinto na necessidade de lembrar que tenho sangue dentro de mim. Fiz isso. E é delicioso saber que, no cerne, somos orgânicos. Eu sei, alguns mais orgânicos que outros, mas ainda assim, mesmo que as pessoas insistam em se diferenciar, tem coisas que nos mantém idênticos. É perfeito ser diferente, mas, mais ainda, em alguns pontos, ser igual.
Acabei, talvez, explicando o propósito de algo despropositado. Eu tento criar palavras, tento me expressar através delas, mas elas me faltam, elas não se completam, elas são tão imperfeitas em suas múltiplas combinações. As palavras dão conta de uma gama infindável de possibilidades, menos, de fato, dizer.
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