domingo, 29 de abril de 2012

Big Bang


Movendo-me levemente no início,
os espinhos fincados em minha cabeça despregavam-se
tanto mais forte era de pura insatisfação o indício
do que me guiava, as amarras afrouxavam-se.

Envolto por enevoadas brumas hilariantes
perscrutei toda uma estrada transparente e povoada
por fantasmas esmeramente desenhados pelos semblantes
e expressões sorridentes e convidativas, a alma lavada.

E era o princípio da paz eterna,
mais leve de mim,
todo um asqueroso passado que hiberna,
julgado morto, sem provas de seu fim.

Vem desse passado uma fagulha,
a rasa previsão de um futuro em miragens
concretizando, antes do meu pensamento, meras imagens
com o peso final e tamanho de uma agulha.

Estupefato com a minha vida convergindo
de acordo comigo, como o centro de mim externado
o universo fazendo sentido, o sofrimento antes amalgamado
agora desfeito, a compreensão suprema, o esperado fluindo

E com a força da justiça embrenhada em tudo o que faço,
por dentre mim, rasgando meu ponto fraco exposto
meu esqueleto pulverizado, deformado meu rosto
inerte agora, os olhos vidrados, impossível qualquer passo.

Por horas estagnado, minha mente um turbilhão,
eu ainda vagando fora de mim atônito,
um grito afônico,
mas não cabia mais o modus operandi de até então.

Eu não era mais capaz de ser o de costume
e uma distração que me elevou para além do superficial
e se apagou na hora certa, um mal?
Em nenhum momento fora, mas nas trevas um lume.

Travestido de mil máscaras e adornos, jóias e panos,
maquiagem e trejeitos, scripts e planejamentos,
ordem e previsão, desejos moldados há anos,
vontades artificializadas, cálculos enfraquecendo momentos...

Era eu, como hoje me vejo, e me despi de toda a carapaça
e nu, com meus pelos humanos e meus defeitos e feiúras
caminho pela rua, e o mundo inteiro passa
ao meu lado e me toca com todas as mãos duras
de quem não sabe o que é um corpo humano
as correntezas do planeta fechando meu primeiro ano.
E neste quarto completamente vazio
espio dentro da minha boca a alguma procura
de qualquer som esguio
que me dê a resposta, a gota mais pura
de incrível satisfação simplória
em vez de toda a ostentação, para mim, peremptória

Não havia nada e volto a olhar
as paredes brancas, geladas, são confortáveis
e a cama, tão doce, tão cômoda, um mar
onde sinto meu corpo afagar-se, em ondas amáveis
e posso ser tranquilo novamente
e ser, a todo o tempo do mundo, ausente.

Que todas as direções me levem ao ponto de partida,
e passarei por mim sem saber
como numa nova vida
sem ter
o que sempre sonhei que teria
e não tendo é que eu conseguiria
nunca se tem como saber.
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Como pode o ser humano magoar tanto, ser tão gentil, ser tão incoerente, ser tão atencioso, ser tão insensível, ser tão sublime, ser tão patético, ser tão artificial, ser tão cruel, ser tão amável? Eu tiro por mim que sou algo diferente a cada instante, mas sei hoje quem eu sou. E sei mais sobre o que eu quero, ainda que não consiga concretizar tudo isso. Mas eu sei. eu sei onde tenho pisado e onde não quero pisar, eu sei milimetricamente o que se passa e o que todos têm em seus pensamentos, eu consigo ler as mentes do mundo e eles não falam, eles não dizem uma palavra e eu conheço tudo sobre todos e espremo seus coraçõezinhos amedrontados num abraço infinito de amor ou de ódio profundo. O sentimento sou eu agora, completamente humanizado e eu estou em tudo o que todos sentem e compreendo o amor do mundo, mas pouquíssimos de fato amam. A maioria não passa de egoístas, não passa de orgulhosos, não passa de mentirosos falsários. São como os dois pássaros no fio. Mas eu não apenas tentei. Eu voei para bem longe.

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