quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Juntando os Rascunhos em Ordem Cronológica

Houvesse, porventura, real orgulho, do qual envergonho-me de ostentar a mim mesmo e frente a quem diz amar-me, haveria eu de conjugar ações com sentimentos sem ao menos hesitar, tal qual orientado pelo instinto? Que instinto é esse que se desenrola, de dentro para fora, originário de configuração celular ainda não mapeada? Espraiando-se por um corpo sujeito às naturais agruras, a febre, alinhando-se ao torpor decorrente da prolongada falta de apetite desnorteiam mental e fisicamente a capacidade de raciocinar sobre o tempo que se alarga e se confunde em relação à realidade de sua duração e peso sobre as costas desse corpo.
Enquanto esse impalpável recanto, de uma placidez absoluta, reconfortado por decoração vítrea e pulsante de vida, sereno em seus sons melodiosos que refrescam a pele apenas ao reverberarem pelo ambiente de um frio ameno... Enquanto esse recanto reforça o teor de vida que borbulha atrás da placidez do meu rosto, deixa-me faltante, em vãos ao longo de minha coluna vertebral sobre a qual recosto e sinto, a cada passo, essa dor vazia. Como pode algo não-concreto se fazer presente, mais presente que a existência em si? Fortalecer-me contra mim mesmo, para que eu não afunde minha felicidade tão duramente conquistada e ainda embrionária... Mas tão quente...
 Eu tenho certo medo, medo do que eu estou sentindo, medo de ser a hora, medo de ser verdade, medo de, na realidade, não ser real o que se aproxima tanto da verdade.
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Avançando pelos limites intransponíveis, uma rede de sentidos é costurada de microscópicos momentos afixados no plasma sem cor do universo. No hercúleo esforço por alterar o parâmetro pelo qual seguem os pilares que sustentam minha consciência, guiam meus sentimentos, orientam meus movimentos, impulsionam minha catarse; destaquei apenas um componente do mural de amplas possíveis sensações e, engolindo sua essência, pus-me a perambular por qualquer caminho que se abria. Em mãos, uma reorganização pessoal, uma meta que me transcende.

Ao raciocinar sobre o feito, eis que se desenhava com a mesma sinuosidade a qual outrora me fora tão familiar e eu reconhecia uma vida inteira exemplificada em apenas horas. Ao passo que se levava o dia, ficou claro que uma nova ordem apenas era uma reconstrução de um íntimo sentimento jamais destroçado e impossível de ser pulverizado. Era isso o que me sustentara e sustenta, como se cada átomo que me compõe pulsasse de paixão por vida, pela intimidade pura, inquestionável, inquebrantável, inviolável, incólume, infinita.

A magnitude com a qual me dedico ao que me ordenam os sentimentos fragiliza ao extremo e suplanta, muitas vezes, meu bem-estar. Ainda não consigo enxergar tal característica como a ser superada, sinto meu corpo vivo pela irrigação sanguínea movida pelo sentir. Desde esferas longínquas, moldadas por mãos imateriais, o fluxo da eternidade ansiava por este momento no qual um turbilhão de reciprocidade daria vazão à construção

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Fincando as palmas das mãos na coluna de gelo maciço, atravessando-a como espuma frígida. Nenhum toque humano que não o das mãos desenhadas no vazio sombrio de onde este gelo, cristal a cristal foi depositado pelas frustrações e espasmos duvidosos dos seres mais próximos do Criador, poderia produzir o calor para derretê-lo. A água que brota das frestas antárticas, em suas moléculas microscópicas carregam, banhando-me as mãos, toda uma era que acumulou-se em pedaços gélidos. Desfazendo-se entre meus dedos, a fortaleza que ergui para de onde não mais saber escapar, em labirínticos corredores, a espreitar um alívio para o tormento que eu mesmo havia planejado, como justificativa para todos os meus atos de salvação, a julgar-me mártir salvador, erguendo as cruzes de meus amores.
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Nossas mãos encostadas, sem que qualquer movimento quebre a harmonia de uma proximidade fria, ainda tímida. Eu sei tudo o que se passa por entre o que nos impede de contato, mas tanto quanto suas feridas estão ensanguentadas, tanto assim estão as minhas... O sangue vazando que eu já desisti de tentar conter.
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Por que eu me importo se houve algo de fato? Já entendi que minha concepção é diferente da sua, então é possível que tenha havido e os desdobramentos tenham sido diferentes para cada um de nós. Eu aprendi a me separar de mim mesmo para poder analisar imparcialmente algo que é intrínseco a mim, contrariando meus sentimentos. E foi bom. Eu posso entender por entre suas palavras que me magoaram o amor querendo evitar meu sofrimento. Acho que tudo aconteceu tão cedo... Eu não entendi ainda a causa de havermos agarrado para nós a hora errada. Não havia como brotar nada dali, naquela época... E, como tudo o que eu já vivi, eu consegui enterrar, colocando o remorso como lápide, você, por algum tempo.

Eu percebi a fragilidade dessa separação, se ao mero acenar eu já estou profundamente afetado, podando anseios turbulentos e estrondosos, tentando acalmar essa reviravolta colossal que motiva uma orquestra desesperada. Eu tentei e estou tentando, mas é recorrente. Você é uma parte que não consigo ignorar. Eu quero tanto

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Hoje, novamente, de súbito um frio. mas aplacado com a calma de quem já tem intimidade com o sentimento invisível. Eu não consigo evitar estes caminhos que perpassam minha mente em infinitas idas e vindas. magicamente desenhado para que eu chegue a mesma conclusão de antes. Foi extremamente difícil este mais de um mês que passei em silêncio. Pois toquei o vazio e agora ele me toma como que naturalmente e eu estirado debaixo dos panos que ignoro serem apenas a cobertura de uma vão infinito que tenho fingido haver superado. Na verdade, encarando-o agora de outra maneira.

Eu tenho umas coisas em mim sobre isto tudo, como sempre. Estou em vontade de escrever... Só um pouco decepcionado por perceber-me ainda refém das circunstâncias...
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E durante o dia, quem me vê, vivendo, nem diria que toda a noite eu choro este vazio.