terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Refletindo sobre tudo isso...

Esta postagem não chega a ser nada literário, com a licença do uso da palavra para classificar meus outros textos. É que eu sou mais poético quando tento expressar meus sentimentos no cerne, porque acho que o discurso mais prosaico não dá conta. Mas não é esse o caso, o fato é que eu estou muito intrigado como eu não tenho nenhum controle sobre as coisas que acontecem na minha vida. Sempre paro e observo o que aconteceu há alguns dias ou meses ou anos atrás e analiso fase a fase como que a pintar um muro e vejo que uma coisa se encaixou na outra, mas eu não tinha planejado isso. Pode parecer meio estúpido que eu trate esse fato como algo surreal, mas é que isso reforça a minha crença de que eu realmente não estou sozinho e tem alguém me guiando, deixando que eu sofra quando necessário, que eu passe por tribulações quando elas me forem benéficas. Posso falar sobre isso agora mais claramente e sem receio de me expor, porque sei que sou muito enigmático às vezes.

E o propósito de um blog é expor-se, não que eu não o faça, aliás, quase ninguém lê isso aqui mesmo, mas eu consegui sentir algo tão bom e, mesmo eu tentando frear isso, me consome de tal maneira que parece muito especial. Mas a diferença é que não é unilateral. Esse é o ponto no qual eu estava para chegar, é que me acostumei de certa forma a não receber nada, a não exigir nada das pessoas e apenas suprir suas necessidades e, assim, quando sou suprido sem nem ao menos precisar pedir, como devo me sentir? Claro que tenho medo, cautela, receio, ceticismo... Meus velhos amigos... Mas dia a dia eles estão sendo afastados, mesmo que eu os force a ficar, não sei, eles me protegem, sempre me protegeram, mas cobram um preço muito caro, que é o de eu me isolar, ficar paralisado, deitar na minha zona de conforto, abraçar minha solidão. Mas isso não tem sido suficiente, acho que eu mudei de tal forma que meu velho eu não cabe mais em mim, como se ele fosse muito menor do que eu sou agora e preciso de mais, muito mais, dar uma guinada na minha vida e, assim, esses velhos companheiros de quase 3 décadas tornaram-se obsoletos, é que, por costume meu, eles ainda estão se agarrando a mim veementemente.

Pode ser o momento de colocar tudo a prova, de descobrir se toda a teoria converge para esta hora. Parece que confiam que eu esteja pronto e este amor que não dói por nada intrínseco a ele mesmo, apenas por fatores externos, é algo do qual nem me lembrava mais. Estou maduro, estou mais velho, sou um homem agora e não se pode julgar meus sentimentos com base em devaneios adolescentes de um menino cru e totalmente influenciável como eu era da primeira vez. Não desmerecendo meus sentimentos de antigamente, mas faz quase 10 anos e ouso dizer que envelheci de experiência o que há pessoas de mais de 30 anos que não envelheceram ainda. Eu estou pronto para algo sublime, para algo vitalício e impávido, algo que é possível que desabroche em vários ramos e, desses ramos, floresçam almas que eu ainda nem conheço ou me foi dado esquecer. Estou muito emocionado agora e sem a sensação de estar sendo infantilizado e cheio de utopias, porque mantenho os pés no chão. Toda a falsidade que me circundava dissipou-se e eu vi a verdade, não vislumbrada, ela foi vista, sentida, acariciada, beijada, absorvida. Como posso eu haver conjugado tudo em perfeito momento? Não pode ter sido eu.

Então agora eu me sinto mais seguro, sabendo que é um amparo que me resguarda de errar sem rumo. Há um rumo, há um compromisso e um objetivo e parece tudo estar dando tão certo... Pode ser que chegue a hora em que eu tenha que sacrificar de vez as âncoras que me respaldam... Eu já fiz isso uma vez, eu me lembrei agora. Há muito tempo, além da vida humana... Eu fiz isso que parecia uma loucura juvenil e eu sei que fui feliz e quem teria a grandeza de me incentivar? A minha felicidade nas minhas mãos, com os meus pés no chão... Eu morri por ter amado uma vez, isso está gravado em mim. Não deveria eu, então, recusar isso com todas as minhas forças? Eu abraço, ao invés, porque eu palpito de amor, transbordando por todos os meus poros, ansiosos por serem expandidos até que eu possa banhar-me todo em minha essência. Sim, a essência que eu carrego, que é lasca flamejante da origem imaterial de onde fui gerado, essência planetária, cósmica, amor universal.

O Desterro da Covardia

O intento fora grudar ao meu corpo o que contivesse apenas lascas de vida, como uma vacina. Qual não foi minha surpresa ao retesar-me de dor pelo desenvolvimento silencioso dos espinhos da velha besta ilusória, fonte de redobradas expiações, como o assoalho envelhecido ainda roído por cupins apenas cumprindo uma necessidade vital. Não eximindo a vil criatura de seus atos levianos, quando enrosca-se por entre as frestas de seus hospedeiros a retirar-lhes o bálsamo de vida, injetando-o em seu próprio corpo agora já raquítico pela prévia morte - um renascimento custou-lhe esforços magníficos. Jamais hei de poupá-la, porém é-lhe intrínseco o comportamento parasitário e debalde acreditei estar enganado, como se houvesse tudo não passado de confusão mental construída por uma visão deturpada pelos canais prismáticos pelos quais a enxerguei. Mas nada ali de errado atribuir-se-á a mim, posto que da besta parte o acinte enevoado de canduras e dóceis discursos.

Rasga-se minha pele com o avançar dos ferrões, caminhando livremente por meus vasos sanguíneos, costurando-me ao centro nervoso do pária que, aparentemente por escolha própria, abrigo, protegendo o punhal que me dilacera, amando o garrote que lentamente faz-me esvair-me. Todo o antigo conhecimento e perfeita catalogação do espécime agora me soam frívolos, como uma sensação longínqua e infantil. Centrado, agora, em um momento pós-guerra, confio-me plenamente capaz de sensatez incontestável. Debruço-me ao incerto, contemplando minha dor e agonia e pincelando meu futuro de acordo com as exegeses do que ainda não li, vulto sacro que se decalca com a imponência de um destino inexorável barra-me o pensamento racional por mim tão enlevado. Tudo não passa, ao fim, de artimanhas da besta covarde em tornar-me uma marionete de seus caprichos, usando-me como lodo que ingere para satisfazer seu insaciável corpo em regeneração. Ao degolar-me, ante minha súplica por findar o martírio, a via crúcis encerrar-se-ia com meu corpo sendo incorporado ao ser ignóbil, como uma célula desprovida de auto-estima, apenas executando suas funções primordiais apaticamente, ausente de si.

Traçado estava o mesmo caminho de outrora, mesmo previsões de um futuro abjeto passaram-me pela mente... Quando interpelado fui por uma turba de inefáveis experiências, todas concentradas em momentos que, amalgamados, foram capaz de suplantar mais de um ano corrente de tribulações e perfídias. A vibração que elevou-me ao nirvana de mim mesmo alicerçou o tardio achincalho desta besta patética e, em realidade, pobre em seus sortilégios. A cada novo segundo no qual eu respirava profundamente, fui impelido a digerir a realidade deste Houdini encarcerado em seus próprios antagonismos e aviltar toda a constelação de imbricações traumáticas que o assombra. E quando, finalmente, pude rever esse vampiro, tudo o que pude enxergar foi um vácuo em seus olhos, como se a verdade que eles detêm fosse tão tripudiada diariamente que perdeu-se, imiscuída em verdugos emocionais.

Salvo que fui, aportei em mansa baía e dormi, acariciado por um vento lento e frio, os olhos sem o poder de se controlar, forçaram-se a fechar para poupar-me de qualquer evento. Mas nada sucedeu-se. Dormi em seus braços... Ainda não despertei.  
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Parece meio óbvio, mas eu escrevi esse texto como uma continuação de um texto que escrevi em Maio do ano passado chamado "Covardia". Eu até achei que houvesse escrito isso um pouco depois de maio, mas enfim, só reforça o que eu já deveria saber desde há muitos meses atrás. Mas foi bom, foi ótimo eu ter enfiado a minha cara em chorume mais uma vez, porque deste ato repugnante e humilhante surgiram oportunidades profundíssimas de reflexão. Eu refleti muito. Ah, acho que isso merece até outra postagem.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Uma Folha

Há que se respeitar o que não se conhece, por medo ou cautela, o que não se compreende e o que se move de maneira familiarmente estranha, como um tímido mover-se nas profundezas da inconsciência, um mover-se do qual sabe-se a existência, é reconhecido, porém não se pode precisar, explicar, desenhar ou expressar. Ele se basta, essa coisa alguma que é tudo. E apenas por sinalizar sua existência, projeta profusões de sensações tão confusas à mente humana, mas tão cheias de vida que escapam à delimitações, às noções maniqueístas, à teoremas tão logicamente construídos.

Sou fascinado pelo que não se sustenta sobre dóricas colunas, preferindo os intangíveis caminhos, ausentes do que lhes guie que não o sentimento atemporal e auto-suficiente. Quando pude, finalmente, ainda que brevemente, descansar desta peregrinação infinda, refestelei-me sobre minha calma e eternidade condensada... Acordando de um salto, pus-me a par de mim mais uma vez, de volta que estava de uma viagem longa, da duração de vidas celestes - a convenção a qual chamamos "tempo" expressa-se por nossos parâmetros reduzidos, que, uma vez desabrochados, são relativizados e contestados ante a fatos que são gerados pelas coincidências do acaso. O ser humano sempre a ser posto em contradição pela magnitude do mero fato de existir, banalizado. - E de volta que estava, olhando para trás, vi dias e mais dias, semanas, anos... Não sei mais, a sensação reside em mim, jamais esquecida, sem necessidade de ser esmiuçada, para mim, sem sentido para mais quem olhe, a não ser que fossem eu. E o amor pela sustentação sólida e robusta ganha seu prestígio com o cronológico pulsar do relógio concreto e tangível para ser apreendido pela consciência física, que jamais se entende totalmente com o indizível.

É canônica a consequência de uma experimentação inclassificável, porém tal algoz cria-se pela ansiedade de pormos tudo em seu lugar, mas, uma vez que comparemos instantes com a eternidade, pode-se crer clara a ausência de distâncias e o alcance do que socialmente nos foi ensinado que se deve abafar, que a vida deva seguir uma ordem cronologicamente e milimetricamente pré-definida. Nada poderia escapar ao determinado e seria nosso próprio erro e, por conseguinte, dever restaurar a ordem, o equilíbrio, o inteligível. Eu sempre traio a norma, empiricamente atesto a falsidade dos constituintes desta base piramidal que se chama ordem "natural" das coisas... Em todo o meu corpo, espalham-se células nucleadas pulsantes de algo mais do que organelas, algo que as alimenta de ímpeto de viver, de vomitar os vermes tóxicos que me são empurrados diariamente quando sou obrigado a justificar-me o tempo inteiro e proteger-me o tempo inteiro. Justificar meus sentimentos e impulsos... Proteger-me do que possa me magoar e machucar...

Mas a dor tem sido algo além de carrasco, e, caso ela seja presente, eu ainda não estou pronto. E sempre que ela se fizer, ela me avisa que não estou pronto, que ainda não é a hora, que estou no caminho, que estou aprendendo, que estou sendo eu mesmo, porque sou feito de dor, de amor, de paixão por estar de pé, de depressão crônica e frustração, de resiliência... pelas frestas de uma promessa feita a mim, eu entendi o propósito, ainda que não desdobrado, porém contido. Ele me diz algo, como um feixe de luz a ser decifrado... O processo de sentir-se vivo apesar de tudo.