domingo, 23 de dezembro de 2012

Mais Uma Vez


A consciência invisível de um vácuo interior,
confundida com instinto, justifica o transfigurar-se
cada vez que se está em busca de um torpor
para os sentidos, como um bálsamo que lhe acalmasse

Se não fosse pela efemeridade,
poderia essa ser a chave da felicidade
contudo parecem desconhecer a fugacidade
inerente a relações de não alicerçada intimidade

Copiosamente perscrutei mentes e comportamentos
debalde almejando equacionar a raiz dos tormentos
que vêm paralisando o encaixar-me, reduto pacífico,
nada que meramente uma projeção do inefável idílico

Ante a constatação de ser um organismo,
pertencente a meus próprios organizadores,
a dissipar-me o pessimismo, o materialismo...
sobrava em mim a necessidade de mediadores.

O esforço agora faz-se na direção
de remodular as mais íntimas convicções
e descobrir impensáveis dilacerações,
saciar minha ânsia cromossomática de união.

Pelo frio, ao meu redor, gerado por você
minha busca é alimentada e impulsionada,
um elemento crucial para eu não me perder...
Pois fosse a mim dada uma felicidade beatificada,
perder-me-ia, inebriado em ilusão,
a sua imagem, ainda cultivada, da perfeição.

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Talvez eu deva esperar fisicamente o recomeço, marcado, assim, pelo tempo cronológico. É que me sinto mais confortável no final do que no início, portanto, às vezes, desejo que não passe. Mas estou confiante. Não naquilo a que o poema se refere, mas em algo novo. Eu tentei, na última fração deste ano, uma coisa boa, que eu consegui cavar e achar. Mas, ao virar o dia 31, eu não mais olharei para trás. Demarcações feitas em última hora... Eu estou entendendo, então, sobre o que se trata. Trata-se de animar-se com o totalmente novo. E eu estou totalmente empolgado. Pois pode ser que seja isso: algo infinitamente novo. 

domingo, 25 de novembro de 2012

Às portas

Tenho tentado evitar um confronto mais explícito, registrado, pretensamente organizado. Mas não se trata de drenar-me mais, como antes era. O que eu pretendia agora era apenas colocar, uma por cima da outra, as imagens que as letras são capazes de construir magicamente e tentar entender como me sinto neste momento que começa a se formar, ainda tímido, ainda experimental.
Desde que me dispus a sentir novamente foi eu represei, ao velho costume, gestos significativos e marcas de algo menos racional, embora haver seguido a essência emotiva da qual sou fruto me fizera alimentar os questionamentos e desilusões, as tomadas de decisão que falharam na hora de cumprir com meu objetivo primordial que era o compromisso que tenho comigo mesmo. E agora, a intenção é não mover demais, refletindo sobre algo que não existe e está além de mim, como eu quero construir este nada que tenho nas mãos?
Foi quando eu tive uma lembrança, filtrando o passado eu pude resolver uma peça de minha mente, um entrave. Parece que o caminho que se desenha estava em mim o tempo inteiro, pois tudo foi desenhado com  minhas próprias mãos. Não sinto mais como se dependesse de mim. Pelo menos minha mente me traiu em tudo o que imaginei até agora e sinto um alívio por isso. Eu estou esperando pelo momento do "sou feliz". Quando poderei ser, realmente, fora de mim, meio suspenso, meio aéreo, mas minhas ações espelhando meus sentimentos mais sublimes, não mais censurados. Estou, acho, mais perto de me liberar para a felicidade. Eu a mantive longe todo este tempo, odiando-a por ela não ser minha porque eu não a abraçava. Ela é livre em si mesmo, ela existe além de nós e do que nos circunda.

E quando eu me dou por mim, sempre estou pensando em você. Ignorando que você sempre fez parte de tudo isso, ignorando que não há outro destino pra nós que não estarmos juntos, eu rechaço isso. Que medo enorme me faz não ter você em vez de perder você? Que medo me consome de que você desapareça, quando eu mesmo que desapareço da sua vida, para evitar que eu sofra, eu sofro ainda mais desistindo de você antes que você me dê uma chance de ter a chance de chegar a você. Mas toda a minha neurose é tão real e pesada no que tem a ver com você, porque eu amo tanto... Isso é o que eu jamais senti e sempre esperei sentir, mas sempre quis sentir. É assim mesmo, mais ou menos como eu havia suposto que seria. Mas quando de fato será? Eu preciso esperar que aconteça, eu sou tão egoísta. Em meu egoísmo, uma pessoa difícil, complexa, sua doçura tem meu feito ser um pouco mais feliz e eu não sinto que mereça alguém tão maravilhoso, porém, eu, não vou quebrar você ao tocar-lhe. Parece tanto que você é tão quebrável...

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

The Wait

As it unfolds, some kind of rebirth, as foreseen, but still bound to awe... Despite having avoided it successfully, it now clings having been sent by you, as if magically, through invisible breath. Your heat perceived, I now am enveloped again in your absence, having occasional confort, as it brings me closer to you, your mind to mine connected, as if further wasn't necessary. That always seemed to be the way you saw us. But, then, I, with my so peculiar need for human grasp, have been left with a virtual touch of your care. I appreciate having been unerasable from your memory, as you've been my comfort all this time... I, then, though filled up with nothingness, couldn't help smiling.

As I reach the doors of myself anew, the physical reflection of a world built by my bare hands, I can clearly see the soon-to-be picture of emptiness surrounding me as I look around this new beginning, starting from scratch, so needy of your face as I'm openly ready again to give in. My defenses lowered, my fears left behind, no experiences to look back on and all ahead of us... Thriving in the joy of being fully sure all my effort has been real and you are worthy of my being utopian, for I have never been as secure as you've made it feel like. All is forgiven, all is past, all before was part of my crawling, all that has brought me closer to this very moment, when I can be sure the grief was necessary. But all is coming to an end.

As I remove the last thorn from my tired foot, I will sleep for one whole year, so as to be woken up by your arrival. Feeling alike, words will be unecessary, since we know each other as we've always known through the centuries. And though it aches now and my sight is quite blurred when it comes to your reality, just a glimpse of  me in your eyes has been enough to fire me up and lift me up higher. I'm about to tear apart this demise and it's the end of the line for a world I've forced myself to fit in. All is natural from now on, all is true. And I have, yet, to clean up what's left of this impenetrabe shell. I can see, now, as time is so futile. I'm in charge of time. I'm in charge of my own illusions.


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Diacrônico 1

Será que eu deveria ter superado desejos um tanto idealistas? Claro que hoje em dia, encaro meu idealismo um tanto nato de uma maneira mais real. Mas me pego enganando a mim mesmo que não sou mais idealista. Eu busco isso. Resolvi colocar aqui algumas passagens que me espelham, e, mesmo vendo que não foram escritas por mim e isso para mim denota que talvez isso não seja algo a ser superado, porque é característico de pessoas, mesmo assim, eu sinto como se tivesse mais a aprender. Pode ser, então, a próxima lição. Mas a questão é: isso é algo a ser superado? A maioria deveria ser um modelo para mim? Até que ponto minha autenticidade se basta?


My romantic gene is dominant
And it hungers for union
Universal intimacy
All embracing
May I, should I or have I too often
Craved miracles
Como se tudo o que eu quis, mesmo que simples em palavras, fosse tão irreal a ponto de ser um milagre e isso seria a causa das minhas sempre frustrações. Pelo menos acho que passei da fase de jogar essas frustrações nas minhas costas. Trazer para o biológico a causa do amor me acordou como sendo algo mesmo inevitável, impossível de superar, mas hoje, mesmo sabendo que isso é a raiz de minhas quedas, não é algo do qual eu queira me livrar. Mas, como ter certeza quando eu estiver frente e frente com o que pode realmente valer a pena? 
I'm 13 again am I 13 for good?
Essa sim foi uma idade-chave para mim, foi lá que tudo tornou-se mais claro. Devagar, mas aos poucos, tudo foi fazendo mais sentido... Foi ali que comecei a encerrar-me em auto-análise profunda, quando os anos passaram envoltos em auto-críticas, em desespero, em dúvidas, eu estava sozinho e de mãos atadas, as quais eu mesmo atei. Eu me queimei por dentro até tornar a ausência uma parte de mim para que eu me acostumasse com ela e ela fosse uma comigo e eu não mais a sentisse. Naquela época, eu me bastei. Quando abri os olhos, tinha-se passado tanto tempo... Esse imenso vazio eu jamais consegui superar, esse vão que foi eu me conhecer durou o que a minha vida deveria ter feito acontecer. E eu aprenderia assim naturalmente? O que aqueles seis anos de lapidação interna, de burilamento mental, letras a fio, noites em auto-consumo, imaginação profusa de espectros construídos a minha volta na ânsia automática por acalmar-me, o desejo de auto-punição que recentemente emergiu, porém já dominado, o que esses anos significaram de fato? E vencer essa sensação de vazio tem sido mais fácil agora... Mas eu me moldo ainda por essa época, o que eu era com 13 anos ainda está aqui, ressurge em saltos, cobra uma vida que abafei em nome de que? Em nome de descobrir uma forma de domar meus medos... E novamente, depois, eu repeti esse erro, mas de outra forma. Isso me modificou de uma forma que eu não queria, que eu repudiava... Mas, devagar, estou começando a voltar a ser eu mesmo. Eu sei disso. Eu amo o que eu era. Estou começando a amar novamente.
Stars fading, but I linger on, dear,
Still craving your kiss;
I'm longing to linger til dawn, dear,
Just saying this:
Sweet dreams til sun beams find you,
Sweet dreams that leave our worries behind you;
But in your dreams, whatever they be,
Dream a little dream of me
Parece que é algo que limparia qualquer sofrimento ou daria um sentido a outros sofrimentos. Eu consigo entender quem não consegue desprender-se de um sentimento antigo, ou de um sentimento platônico, mas e quanto a desprender-se de um sentimento embrionário? Algo que urge por tornar-se real, por desenvolver-se? Mas aqui eu voltaria à questão anterior: é algo do qual deve-se desprender-se? Parei de lutar contra isso. Quero apenas sentir autenticamente, sempre racionalizei impulsos, querendo achar a explicação, a rezão, o motivo pelo qual o sentimento brota e, mesmo isso talvez sendo uma vontade oculta, por medo, de deixar que ele de fato brotasse, eu acabei não conseguindo evitar o orgânico, mas, bloqueando o mental, eu impedi o físico e toda a apatia que derivou disso parece ter me congelado ao longo do tempo. Eu consigo enxergar em mim agora um leque de fatos que fazem de mim além de meras palavras depreciativas, as quais afixei tão intimamente em cada célula viva e ainda por nascer. Perdendo a naturalidade com a qual eu raciocinava através de toda a reflexão e todos os fatos conjugados que despertaram em mim uma luz a cada segundo de vida, eu renovei a forma como a minha mente conduz seus pensamentos e perder a essência depressiva na qual é fácil acomodar-se deixou-me leve sem motivo. Estou feliz, então, posso dizer por ter estado sozinho quando me conscientizei do fim de um aparentemente infinito processo. Acho que "fim" não é a palavra mais apropriada... Digamos o fim de uma etapa de um infinito processo, pelo menos infinito até onde posso conceber. Sei que o que eu quero teria me desnorteado a tal ponto que eu confundiria a razão que me fez libertar-me. Eu consegui por mim mesmo e agora sim, estou a caminho de agregar sensações e crescer, não mais usar experiências como muletas para uma salvação mítica.

Eu vou continuar esse post, em um próximo post.



segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Caminhando

Basta que eu conheça alguém e esta pessoa já pertence inteiramente a mim. Basta que eu a veja passar para que seja enclausurada em celas que mantenho para uso em momentos que eu esteja distraído ou vazio. As mutações pelas quais passam inundam o ar com brumas invisíveis das quais apenas pode-se depreender o que elas provocam. Como se fosse feito apenas do que é calmo e frio, abraço essas brumas involuntariamente enquanto convido quem quer que seja a partilhar o que de mais precioso tenho a oferecer em forma de sonhos irrealizáveis, experiências elevadas do desfrute do mais puro sentimento, o cerne das sensações, lapidando um simples toque em uma união físico-mental transcendental, passando pelos contornos da vida unida, mantida separada dentro da união, passando pelo sombreado de dentro dos contornos, caminhando até preenchê-lo por completo.

E não há quem se doa desse encontro cósmico encarcerado. Porém, entrevejo pelas redomas espalhadas num espaço vácuo pequenos rompimentos, mais como buracos, algo fácil de ser conseguido, mas até aqui evitado. A coragem com que se estabelece uma micro-comunicação reticente, o lastro de um impulso embrionário contido por uma gestação secular, a maturação do ímpeto, cuidado pelos dias para que não promova um ataque ao equilíbrio de toda uma estrutura dita vital do cotidiano, talvez o cotidiano em si. O nascimento deste impulso, metamorfoseado no que a mente já tantas vezes concretizou no invisível é temido tanto quanto a felicidade. Ele, assim como ela, paralisar-nos-iam, esvaziar-nos-iam de toda a filosofia que nos conduz ao melhoramento de nós mesmo. E não sempre foi esse nosso intento? Por isso estamos tão afastados. Dourando nossos corpos nestes espinhos que são todas as pessoas, e saindo ilesos, quando assim conseguirmos, saberemos, que estaremos finalmente prontos um para o outro.

Porque uma via crucis encerra-se. E sem seu sentido amargo, como se deixasse rastros de decepção e derrota. Tenho reparado que o suplício é o alvo, conquanto estaríamos afogados em júbilo a princípio, mais tarde abater-se-ia sobre nós uma diferente sequência de calamidades, a qual só faz sentido sofrer junto.

Estranho que eu ainda desconheça quem faria todo o sentido. Mas foi então que eu achei. E não era uma pessoa, era um momento, era uma união de diversos fatores entrecruzados e o mais importante foi que tudo ocorreu exatamente comigo, da maneira como foi, cada passo, cada ausência, cada falha, cada dúvida, cada dor, cada incoerência, cada não, cada sim. O tempo de eu tornar natural o que eu sempre apenas entrevi. Quantos anos eu avancei neste relativamente curto espaço de tempo? Esta pode ter sido a mais importante de todas as lições, mas e agora? Agora eu estou pronto para começar algo. Mas eu não sei ainda o que é.  

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Metamorfose

Por que não mais olhar aquelas fotos? Se o fizesse sentir-se bem ou mal, não faria mais diferença agora. De tanto tempo que teorizara sobre os mínimos segundos que compunham o caminho até chegar à sua felicidade, agora ele acostumara-se ao deleite de sentir a falta. A falta, miraculosamente ele havia conseguido transformar algo vazio em concreto, palpável, o nada em tangível. Saudações a este pequeno milagre que era em si um atestado, uma prova inegável de que estava pronto para tirar de si a vontade de encontrar-se e, enfim, havendo encontrado prazer em sua companhia, poderia dividí-la. Mas e as fotos?

Ao passar de uma para a próxima, as conversas já não doíam mais e o sofrimento parecia tão longe... Mas estava um pouco descrente que houvesse superado-se, livrando-se do casulo que era em si uma proteção mais do que um receptáculo propenso ao seu desenvolvimento, amadurecimento. Ele continuou, olhos fixos, a tela movendo-se cada vez mais rapidamente por entre as lembranças que despertavam aquele sorriso franco, tão aberto e gentil. Por mais que escondesse os resquícios sentimentais, os pedaços pendurados de um amor embrionário, esquecido há tanto tempo por aquela pessoa, ele sabia, mas nada de concreto havia que o fizesse lembrar, com certeza. Aquela pessoa havia resistido à ânsia de entregar-se a esse amor. Uma vitória, um teste, era isso o que ele havia sido: um teste vencido.

E com as luzes ainda vivas em sua mente, cada feixe que ilustrava o canto de um sorriso ou uma mania marcante de ajustar a face dependendo do que era dito, todos os detalhes concentrados como marcas de um tempo bom. Segundos bons, horas... Ele sempre havia almejado além do que meramente acontece. E eternizar essa beleza, ainda que não fosse o ideal, era o seu ideal. Ele fazia questão, aos poucos, de esquecer-se do peso que acompanhava a lembrança e, fazendo-se além, tratava a saudade como natural. Não sofria mais, não estava mais apático.

Ao perceber-se, cessara a necessidade de abraços e quando sentia-se só, apenas vivia e lembrava do tempo feliz que passava sem pensar na necessidade. Por que realmente precisar de outra pessoa? Se estivesse isolado do universo faria alguma diferença? Sentia, talvez, o peso da pressão que ele mesmo absorvera, a pressão que o mundo gerava de todos os cantos, nas mais diferentes formas. Não sabia para onde iria, guiado por uma força maior do que a sua compreensão. Entregando-se ao prazer de si mesmo, sentia a felicidade partida ao absorver-se em êxtase. Quando foi que o sensível tornara-se tão palpável. Observava no vento o carinho de uma vida leve, um caminhar alheio aos perigos de se estar vivo e conseguia ver a beleza das pessoas e o peso de suas, muitas vezes, duras palavras.

Havia cavado por dentro da poeira de sua própria decepção e vulnerabilidade, impregnando-se com esses microscópicos flocos de desânimo e resiliência. Era o que sempre almejara ser, ou, pelo menos, começava a caminhar para o que achou somente possível a partir de um simulacro. Mas não. Enquanto pretendia fingir, nada brotou, mas naturalmente... Ele apenas sabia ser natural e sendo ele mesmo, conseguia ser alguém diferente. Não sabia se era esse quem ele sempre fora ou se realmente havia se transformado. E transformar-se não é ser ele mesmo? Nossa essência nos guia para a mudança, e não estava satisfeito, porém, descansara. Ele, que nunca achara possível dormir sozinho, agora cochilava e a energia de um dia inteiro a frente pulsava.

Agora sim, estava pronto.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Nascimento

Debalde rechacei meus constituintes primários, em obséquio de metamorfosear-me, como passara decênios desejando. A imagem esculpida mentalmente, perfilada à frente das qualidades idealizadas traduzidas por minha naturalidade milimetricamente intencionada...

Uma mudança.

A fantasia me alimenta e nela eu vivo a realidade imaculada. A real realidade. Eu sou o alimento do qual provo para me sustentar em vivacidade. Estou feliz por amar a mim mais agora que entendo ser o que eu queria sempre ter sido, o que sempre fui. Provando desta fração do passado, que me fiz perder, corroboro toda a minha opinião sobre o universo que estava sendo posto em questão. Eu estava certo sobre mim mesmo e assim os dilemas se dissipam. Não houve perda naqueles tempos longínquos. Houve apenas o que há ainda hoje. E eu amo que seja assim. Que eu seja assim.

Arrancar espinhos da pele recém-curada, as manchas inevitáveis de sangue sofrido não mais me fazem pesar. Eu abracei a dúvida, meus questionamentos surtiram em resposta, a observação e o silêncio me guiando e eu estou pronto. Pronto para meditar por séculos a fio até que chegue à presença do que sempre acho haver já encontrado. A sensação indescritível ainda não me motivou a me regozijar com a ausência de palavras para descrevê-la.

Então, é desconhecida.

O que eu sempre quis foi a ausência do nome. Foi o irrespaldável, o etéreo, místico, poeira sobrenatural de sentimentos. Resgatando-me de minha própria invalidez, eu me concentro prazerosamente em analisar minhas ações, meu ser guiado pela sinceridade do que sinto e na certeza de como eu sinto. O mais importante para mim, e todos me ajudaram, todos me ajudaram. Pisar na ferida aberta fez com que eu chegasse ao abismo de mim mesmo.

E de lá escalar.


segunda-feira, 16 de julho de 2012

Desconhecido

Qualquer tremor é o catalisador da agitação de átomos, almejando desordená-los, fundidos estão, como que aglutinados. A estrutura molecular, oriunda de remotíssimo empirismo, encerra uma personalidade sobre a qual apenas se sabe vislumbres, a centelha que a anima é o que se procura descobrir, com o nome sentido da vida. O meu sentido da vida. E para cada um tal qual o seja.

E não estou ao ponto de lançar-me pela fenda cataclismaticamente gerada. Mas as lacunas que me formam são a prova da ausência como construtiva, pode-se fazer um tudo com nada. Reticente, como era de se esperar, os geradores de dores agudas, porém afáveis, como salvadores erguem as mãos, um castigo especificamente formatado aos infiéis. Nunca fui fiel a mim, e foi tão fácil ser leviano.

Reencontra-me assim, anos depois, uma coisa disformemente deslumbrante, quanta beleza na emoção de abraçar o passado desta forma, cada vez sou menos feito de átomos e mais de coisas que não têm nome, não nomear exime a responsabilidade e aumenta a coragem, no criadouro de engrenagens cegas, uma fábrica de carne e osso trabalha sem férias para que o mundo seja perfeito. Estou atrasado para ser o próximo produto final, desde quando eu saí do projeto? Quando me foi dada essa coisa de estar acordado e dormindo voluntariamente?

Como estou vazio em todos os sentidos. Como se a processar-me novamente, cada pelo de meu corpo é um arcabouço de vida, coletando milhões de impulsos a cada segundo, no fluxo do pensamento, a cada olhar esbarrado, cada auto-reprovação e quando mínimos medos são vencidos. O que se faz para amar ignomínias? Está além de mim provar-me o quão maior posso ser e, no entanto, por vezes é obviamente natural a infantilidade desses opróbrios. A questão, em .epifania, se desdobra, humilhada pela carência de mistérios, ela se relaxa e adormece e eu a vejo clara e banal. E toda a árvore. Seus galhos contam a história e eu tenho tudo na minha memória e é uma pena reler. A riqueza de detalhes suporta todas a aparente insensatez atirada, como que bela, como que madura, como que plausível, como que natural, como que inocente, como que coerente, como que coesa, como que inofensiva.

Desta vez, haja um pingo de sangue aguado no chão e eu o restituirei a quem o derramou, certo que meus olhos continuam imaculados. Um tiro celeste vindo das profundezas da Terra agora soa como um sopro de vida, eu provo a vida que me energiza e ocupa os espaços vazios, continuando eles, porém, vazios e os quero assim. Quero-os engrandecendo-me, buracos que me ausentam de tudo o que achava e achavam sobre mim mesmo. Eu sou infinitos a cada pessoa que passa por mim e não sou nenhum deles com os quais elas compararam. Anos depois, eu quererei encontrar-me como agora e abraçá-lo pelo impávido que foi, algo que eu jamais conseguirei repetir. E não por apenas um momento, mas os inconstantes percursos, inimagináveis e complexos... Nada mais que verdades derramadas, como um selo, como um diploma. Eu jamais errei na minha vida. Se errar era estar no mesmo lugar. E quando eu me reverter em pó? Quando direi para isso tudo o que ficou o quanto eu não me arrependi, o quanto eu sempre soube, a cada instante que estava sendo a base de mim mesmo. Desconhecido.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Desvio

E quanto tempo se passou desde que sentamos e pudermos rir de verdade sem planejar a próxima fala e sem esperar o que quer quer fosse ser dito. Quando pudemos, pela última vez, sermos nós mesmos sem saber que estávamos sendo autênticos, fazendo algo muito diferente do que sempre é feito? Eu consigo enxergar o através de qualquer atitude, q não-abnegação por detrás de todos os modos, inconscientemente dissimulados, jorrando o patético de ações pela metade. Pouquíssimas vezes o que estava entre meus dedos realmente era um pedaço de pele desgarrada a força por unhas fomentadas pelo desespero de servir. E esse pedaço de pele, enfiado pela minha ferida, curando uma parte invisível do meu sofrimento repetitivo, essa pele agora também faz parte de mim e sendo uma pele minha, passou-se a ser eu também quem eu amo e assim se constitui o amor. O amor não sou eu sozinho.

Mas não me deixe descobrir que era tudo feito de vidro oco como não há diferente forma de ser. A ilusão com a qual me revisto sempre é mais espessa do que meus olhos conseguem alcançar. Eu danço com sombras criadas por mim mesmo, são reais projeções de como o vejo, o mundo inteiro, concentrado em minhas mãos e eu leio tudo o que é dito, todos os milimétricos movimentos não passam despercebidos. tantos anos que esperei sentando debaixo da neve dos meus sentimentos aguçaram meus olhos e enrijeceram meu julgamento. Eu consigo ver o que acontece do outro lado do planeta e entendo perfeitamente. A consciência que me foi entalada, tão procurada outrora, já está enraizada em mim como eu jamais pude supor. Meu regozijo está em não ter ao lado o que eu mais queria. O ciclo infinito.

Para, então, que se fecha a recorrência de agir conforme a consciência, eu descobri não deter poderio sobre  o bem. Este, ao invés disso, se desdobra e é manipulado por mãos descuidadas em suposto benefício próprio ao custo do auto-sacrifício comedido ou explícito. Uma felicidade camuflada sobre a qual não é permitido jogar pedras, uma que, frágil, desabaria sem qualquer reação. E é tão frustrante não caber a mim que o melhor seja feito em qualquer circunstância, posto que me abstenho, então, de qualquer intervenção, finda o propósito da existência de qualquer troca e seca, assim, o canal. Outrora abundante, comigo a intensidade parece sempre ser inversamente proporcional ao tempo de duração do jorrar das águas. Eu me cansei por diversas vezes e a dor nas costas que sinto se intensifica a cada dia. Preciso dormir.

Pode ser que eu tenha queimado energias de uma vida inteira. Mas estou mais do meu lado agora. Sacrificando o que eu mesmo quero para que eu mesmo fique bem, em uma vontade de controlar a mim mesmo que me torturo infinitamente, agora tentando me reeducar. Eu sou meu mestre e algoz, mas sujeitando-me a duras punições, eu agora, depois de tanto tempo, tento apaziguar-me comigo mesmo e ser além de apenas eu, mas comprometido comigo, quero mudar e estar em paz. Ainda que assim eu precise me privar mais um pouco, ser cruel comigo mais um pouco, destruir a rebeldia em mim mais um pouco. Eu sempre soube o que sou. Eu sempre prezei pela minha autenticidade. Um orgulho para mim.

terça-feira, 22 de maio de 2012

O Ponto Fraco

Um pouco encostado numa árvore repleta, as sombras que ela projetava deixava entrever raios de sol fracos que queimavam de leve apenas a epiderme renovando o cansaço de um dia de intenso desgaste mental. O torpor do sono se apoderando dos músculos já relaxados, a mente divagava sem que se percebesse por campos mais verdes ainda, uma calma apenas incomodada pelo soprar de uma brisa quase imperceptível. Aos seus ouvidos, bem ao longe chegavam sons indefiníveis, então ele não prestou atenção, na verdade não os havia notado ainda. E relaxou, talvez tenha dormido.

A cada hora, porém, o som se definia em contornos sonoros, assemelhando-se a sensação quente, como se algo o provocasse com extremo zelo e vontade de ser notado. Sonhos multicoloridos, adornados na linha do tempo o fazia ignorar que era um ser humano e vivia dentro de si próprio neste constante estado de relaxamento mental e era auto-suficiente. Nas mãos sentia a grama se tornar mais viva e escorria verde-clara de suas mãos. Ainda que insetos chegassem a pousar onde ele repousava, nada havia que o fizesse erguer-se, ele era uma completude. Mas ao longe, menos, mas ainda longe, os sons se repetiam.

Ao abrir os olhos, porque o despertara, tais sons só podiam ser passos, mas sem corrida, sem qualquer ambição que não fosse apenas andar naquela direção. Ali estava algo que não pertencia a todo esse universo mansamente designado por ele e fibras que não houvessem sido tecidas por sua imaginação eram como existir água dentro de um vulcão. O que há que a isso se assemelhe? Ele, porém, fechou os olhos, estes por tanto tempo quanto antes já não permaneciam relaxados e ocasionais miradas na direção do azul infinito eram repletas de esforço hercúleo, mas ratificado.

Decidiu que ele mesmo era o mais importante com o que se preocupar, enquanto estava ocupado em saber-se mais, os passos se alargavam (ou fora o som apenas?) sem que ele sequer notasse e havia se tornado o mestre na arte de desviar-se. Até que a ausência deles despertou seus olhos para o que pudesse estar perdendo, uma vez que todos os mundos não poderiam ser previsíveis a seus comandos e conhecimentos, mas ele não sabia disso. Por julgar-se ciente até do que não se enxerga, quando abriu os olhos, deparou-se com uma torrente de sensações que o fez querer não mais o que sua vida inteira o havia satisfeito além de suas perturbações. Mas o gosto do novo que não estava em sua boca o tornou um ser ausente de si mesmo e ele não sabia viver sem saber o que fazer. E não viveu. Mas isso não era para ser vivido. Isso era alguma coisa que assim foi e, melhor que não tivesse sido, ele não sabia administrar que não fosse como ele sabia que tinha que ser. A faca enfiada no peito, se auto-justificada, é melhor que flores como presente.

Quando os passos se afastaram, um vazio controlável o fez uma reminiscência de alguma coisa ruim antiga, apenas ali enterrada, levantara a cabeça de leve para lembrar que nada no mundo é para ser definitivo. E as lições que havia aprendido o fazia não mais estar perto de alguma árvore. Mão sabia onde estava, na verdade. Era a parte que não entendia, era a parte que lhe havia sido negada, era o que ele buscava, e jamais havia tido. O que julgara seu apenas por seguir descansando dessas tempestades que provocava dentro de si e engolindo toda a tormenta, ele julgava que fosse estar perto de se libertar e o inevitável o completaria com a abertura dos céus e de lá tudo o que ele não havia feito nada para ter e estava acontecendo naquele momento, era isso, era agora! Era o que estava na história que havia escrito, detalhes repetidos em diversos momentos, como uma recompensa múltipla por ter sido além de si mesmo. E ter duvidado de si soava agora tão estúpido, agora que ele via na sua frente o universo inteiro fazendo um sentido cósmico vazio de razão. Ele se bastava.

E o que havia desvirtuado essa certeza? E onde o pé havia se enterrado na areia? E em que momento ele deixara de ser um ser humano? E se suas qualidades o superavam,então por quê? Por que aqueles passos ainda podiam ser ouvidos e ainda eram cheios de significado se nada acordava com sua lógica mais do que provada? E por que a vida era cheia de fel? E o que era que tudo aquilo queria dizer? Não poder tomar as rédeas da situação parecia uma impotência nunca sequer vislumbrada de ser aceita. Há tantas formas de cortar essa falta de autenticidade e adiar ferimentos inocentemente provocados, uma vez mais entrando pelo mesmo caminho já retrilhado a exaustão, até na força essa fraqueza perdura impiedosa. Não há como compreendê-la, talvez não haja como livrar-se dela e o rasgo, essa vontade adormecida emerge novamente enquanto todos dormem tranquilos em seus travesseiros fofíssimos. Ele tem nas mãos e os dedos estão imobilizados, a mão não fecha.

Aquilo, assim, sem sentido o fazia relembrar algo que se esforçara tanto por esquecer. E o havia feito. E como não sabia lidar com o mesmo raio caído duas vezes no mesmo lugar?

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Covardia


Dentre as ventosas pelas quais engole o que lhe falta, serenidade e paz de espírito, tem o costume, esta criatura, de vagar em lodosas superfícies, seu peso monstruoso apartado pelos corpos que repetidamente se atiram a seus pés em admiração forçada, não sabendo de onde vem. Tudo canalizado pela abjeta forma amorfa, desfigurada em sua essência, a boca torta pingando dentes sem funcionalidade, sugando a pureza e jogando todo o erro de sua existência, frustradamente tentando justificar-se estar neste planeta. A massa decomposta se arrasta e sua carcaça putrefata vai emitindo tentáculos que se prendem às pernas de quem passa, uma suave simulação de espirros doces atraem quem tenha buracos em suas almas, à busca de conforto, inocentes por desenvolverem seus sentimentos mais acolchoados, a besta selvagem lambuza com sua gosma corpórea fétida qualquer um que esteja alienado de si. Por ela se matam, por ela se privam, por ela se confundem. A enorme covardia do ignóbil enviado pelo mais invejoso dos deuses sobrepõe-se ao asqueroso simples fato de esse reles lixo tóxico respirar.

Mestre em dissimular-se, como líquido que se encaixa em qualquer recipiente, se alarga e ocupa as faltas de seus hospedeiros, dando-lhes o conforto tão sonhado, eles se sentem um só com o pusilânime parasita, seus olhos retorcidos, como fendas em meio ao corpo repugnante, uma visão de horror do centro-vivo de uma alma deturpada e corrompida por suas fraquezas maximizadas e egoístas. Embalados em sono profundo, ausentes do asco que suas vidas se tornaram em comunhão com tal aberração incoerente, um fruto bichado e merecedor de todo o escárnio que lhe sobrevier, odiar tal fonte de infelicidades é o perdão merecido pelo mais alto escalão da santidade. Paradoxal citar beleza em mesma linha de pensamento que a escória do universo. E drenando as almas muito vagarosamente, inebriando suas vítimas com seu falseamento que é a razão de continuar a existir, o vírus começa a transmutar-se, livrando-se de seu alimento, pisando mais aliviadamente e enganando-se de que é algo melhor do que fora, como se tal evento possível fosse, ignorando que é intrínseco a sua nojeira vital que sofra a cada vez que respira, uma justa punição por roubar o ar do mundo, tão abjeto pedaço de engano.

E houve quem se desse conta de que era impossível ser humano aquele acúmulo de frustrações e palavras calculadas, impostadas em um discurso polido e neutro, era impossível que corresse sangue quente naquela tentativa de modelo de virtudes, naquele arremedo de gente, tão artificializadas eram todas as suas atitudes, tão inconsistentes eram suas frases, tão vazios e fracos eram seus movimentos. A estagnação aparente condenava o pantanoso ser abissal a julgar-se capaz de definir não relativizar situações e fatos, por estar acima do mundo, quando jamais havia caminhado metros além de seu ponto de partida e após tantos séculos de existência era o mesmo infantiloide débil-mental que sempre fora, imaturidade em um corpo tão incapaz de ser humano, tão falho e limitado, tão privado e tão bem-disfarçado. A consciência que inflava suas vítimas as pulverizavam ódio e o histórico de finais catastróficos não era mais nenhuma surpresa, agora sim, era mais do que justificável e pouco havia sido o que lhe sobreviera. Antes houvesse cessado de vez que tal traste permanecesse a caça de pobres coitados.

E conduz-me ao centro de mim, reavaliar-me por meu próprio mérito a realidade. Jamais considerar-me com a superficialidade pseudo-conflituosa característica dos inertes em auto-comiseração contemplativa, dos submissos a vontade alheia, dos derrotados no âmago de si. Eu desmembrei a besta aleijada, retirando cada pedaço de sua nojenta carapaça e grudando ao meu próprio corpo para que o nojo de mim mesmo próximo a qualquer fato que me lembrasse esse imenso e profundo buraco me enchesse do ódio necessário para querer fazer a morte parecer um alívio bendito. Não mais palavras vazias e falsidade teórica. Não mais cenários fantasticamente coloridos, pintados com tanto talento por mãos reticentes e hesitantes. Eu enfio a mão na carne e esbaldo meus dedos em sangue pulsante e pedaços de matéria humana, o clímax do ser orgânico. Cuspo nesse amalgamado de transparências holográficas recheadas de utopias pueris e etiqueta burguesa. A moderação patológica guiada por uma crença em um auto-valor soberbo auto-infligido e invisível constitui o cerne de um vendaval de mentiras, como uma fortaleza de vidro. A armadilha perfeita.

domingo, 29 de abril de 2012

Big Bang


Movendo-me levemente no início,
os espinhos fincados em minha cabeça despregavam-se
tanto mais forte era de pura insatisfação o indício
do que me guiava, as amarras afrouxavam-se.

Envolto por enevoadas brumas hilariantes
perscrutei toda uma estrada transparente e povoada
por fantasmas esmeramente desenhados pelos semblantes
e expressões sorridentes e convidativas, a alma lavada.

E era o princípio da paz eterna,
mais leve de mim,
todo um asqueroso passado que hiberna,
julgado morto, sem provas de seu fim.

Vem desse passado uma fagulha,
a rasa previsão de um futuro em miragens
concretizando, antes do meu pensamento, meras imagens
com o peso final e tamanho de uma agulha.

Estupefato com a minha vida convergindo
de acordo comigo, como o centro de mim externado
o universo fazendo sentido, o sofrimento antes amalgamado
agora desfeito, a compreensão suprema, o esperado fluindo

E com a força da justiça embrenhada em tudo o que faço,
por dentre mim, rasgando meu ponto fraco exposto
meu esqueleto pulverizado, deformado meu rosto
inerte agora, os olhos vidrados, impossível qualquer passo.

Por horas estagnado, minha mente um turbilhão,
eu ainda vagando fora de mim atônito,
um grito afônico,
mas não cabia mais o modus operandi de até então.

Eu não era mais capaz de ser o de costume
e uma distração que me elevou para além do superficial
e se apagou na hora certa, um mal?
Em nenhum momento fora, mas nas trevas um lume.

Travestido de mil máscaras e adornos, jóias e panos,
maquiagem e trejeitos, scripts e planejamentos,
ordem e previsão, desejos moldados há anos,
vontades artificializadas, cálculos enfraquecendo momentos...

Era eu, como hoje me vejo, e me despi de toda a carapaça
e nu, com meus pelos humanos e meus defeitos e feiúras
caminho pela rua, e o mundo inteiro passa
ao meu lado e me toca com todas as mãos duras
de quem não sabe o que é um corpo humano
as correntezas do planeta fechando meu primeiro ano.
E neste quarto completamente vazio
espio dentro da minha boca a alguma procura
de qualquer som esguio
que me dê a resposta, a gota mais pura
de incrível satisfação simplória
em vez de toda a ostentação, para mim, peremptória

Não havia nada e volto a olhar
as paredes brancas, geladas, são confortáveis
e a cama, tão doce, tão cômoda, um mar
onde sinto meu corpo afagar-se, em ondas amáveis
e posso ser tranquilo novamente
e ser, a todo o tempo do mundo, ausente.

Que todas as direções me levem ao ponto de partida,
e passarei por mim sem saber
como numa nova vida
sem ter
o que sempre sonhei que teria
e não tendo é que eu conseguiria
nunca se tem como saber.
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Como pode o ser humano magoar tanto, ser tão gentil, ser tão incoerente, ser tão atencioso, ser tão insensível, ser tão sublime, ser tão patético, ser tão artificial, ser tão cruel, ser tão amável? Eu tiro por mim que sou algo diferente a cada instante, mas sei hoje quem eu sou. E sei mais sobre o que eu quero, ainda que não consiga concretizar tudo isso. Mas eu sei. eu sei onde tenho pisado e onde não quero pisar, eu sei milimetricamente o que se passa e o que todos têm em seus pensamentos, eu consigo ler as mentes do mundo e eles não falam, eles não dizem uma palavra e eu conheço tudo sobre todos e espremo seus coraçõezinhos amedrontados num abraço infinito de amor ou de ódio profundo. O sentimento sou eu agora, completamente humanizado e eu estou em tudo o que todos sentem e compreendo o amor do mundo, mas pouquíssimos de fato amam. A maioria não passa de egoístas, não passa de orgulhosos, não passa de mentirosos falsários. São como os dois pássaros no fio. Mas eu não apenas tentei. Eu voei para bem longe.

terça-feira, 24 de abril de 2012

O Maior de Todos os Abraços

Tão distante me encontrava do maior de todos os abraços, que nessa agonia por ter meus braços de volta não conseguia distinguir entre os infinitos formatos, a textura da pele, a cor, o cheiro e os pelos que roçavam, ocasionalmente, meu corpo inteiro em um envolvimento pleno. Mas bastava que eu meramente fechasse os olhos e um som longínquo, aumentando com o passar dos minutos, às vezes mais rapidamente, às vezes mais lentamente até virar um estrondo me despertava. Eu, atônito, percebendo-me sozinho, precisava de braços novamente que tapassem minha nudez, deixando-me no regaço de quem pudesse fechar os olhos comigo enquanto eu dormia. Mas quem o faria? Antes que eu pudesse perceber, mais uma vez, o formato era diferente, tudo era outro, mas o conforto era o mesmo, ainda que por dentro minha pele se contorcesse. E não achando o que eu sempre busquei, quando achei, eu procurei com tanta dedicação, anos aparando meu cérebro para que chegasse a meu próprio convencimento de que toda a violência, arrancar pedaços de si, era a coisa certa e melhor a ser feita. Mas quando achei, eu, de alguma forma, virei apenas braços e todo o resto de mim, jogado a um canto da minha memória, se espremeu de dentro para fora, no processo interrompido no qual eu havia me dedicado totalmente a ser unicamente eu.

Da árvore que agora era, galhos eram arrancados com a mesma fúria com a qual cresciam, de minha cabeça começava a florescer o que eu era finalmente, brutalmente ameaçado de secar por minhas próprias ações, eu plantando insetos devoradores de sentimentos e ervas daninhas ao redor de meus pés fincados em toda a terra do mundo. Jamais eu poderia supor que o meu objetivo era o que sufocaria minha colheita, se da forma como eu o estive enxergando todos esses anos, ele apenas poderia cortar-me no final e tornar-me uma árvore em meio a um campo de verde vibrante. Qual o mérito que uma folha tem de existir entre mil folhas? Mas a minha, brotando de entre as rochas secas do sertão conseguia ser uma folha multicolorida, ameaçada em sua luz infinita por minha ideologia de vida, arraigada em mim como um vírus, me devorando poucos milímetros a cada mês que eu fechava desapontado.

Eu não sei explicar como os braços me contornaram, tão macios e quentes, sugando toda essa fraqueza que me desmotivava, fazendo-me sentir completo novamente. Braços que transbordavam presença e amor, um amor forte, de posse, mas uma posse feita inteiramente de proteção. A beleza dos braços me deixaram estupefato, de imediato eu soube, naquele instante, que minha busca cessara, o maior de todos os abraços estava ali tornando-me um ser superior a mim mesmo em extremo conforto comigo mesmo, ele havia feito-me o que eu sempre sonhara. Em prantos, desesperado por querer encontrar o resto de quem havia me feito aquele bem supremo, senão Deus mesmo, me provando que existia! Mas não o encontrei, uma voz apenas. A voz de Deus, sussurrando no meu ouvido, um êxtase inexplicável e a certeza de toda a felicidade e que todo o futuro seria de prazer sublime... Ele me disse, completamente desprotegido, ele me disse que eu havia encontrado o melhor que o universo poderia me oferecer, que eu estava nos braços mais familiares do mundo, eu olhei ao redor, eu me abraçava e não conseguia me largar.

- Toda uma vida desperdiçada atrás de uma pedra que estava no meu bolso?
- Nenhum tempo é perdido, nenhum sofrimento é inútil, nenhuma epifania é mera divagação.
- Meu arrependimento queima a sola dos meus pés, de onde parte toda a coroa de flores, agora um pouco chamuscada pela vergonha de me entregar ao ínfimo de mim inúmeras vezes.
- Se preciso, eu me faço carne e sangro mil vezes, apaixono-me pela mulher mais vil e imunda da alta-sociedade e sofro com o olhar de desdém que ela me lançará, pisando em minhas declarações de amor incondicional, lambendo o chão que ela cospe. O amor que me atravessa me faz humano tanto quanto me diviniza e ao olhar essa mesma mulher, anos depois, com indiferença enquanto ela tenta me apunhalar novamente, eu estarei sendo um pouco mais fiel à luz inabalável que carrego no fundo de mim, esperando onde possa jorrar.
- O que temo é o eterno.
- O que é, que não o agora infinitas vezes?
- Essa certeza é como um diamante, falta-me algo.
- Estamos todos na eternidade agora mesmo, assim, não existe espera, não existe dor, nem ausências, só existimos nós e quem amamos, pairando sobre nosso momento eterno, uma marca em nós, parte de nós.
- Todos que carregamos, todos que amamos, de mãos transmutadas no maior de todos os abraços. E apenas eu posso dá-lo. Eu apenas que tenho em mim todos que amo de uma vez só e tudo o que sinto quando estou perto deles, cada um de uma vez e todos de uma vez só. Eu sou o maior de todos os abraços, eu sou os mais tenros e mais fortes braços que já me tocaram. Eu tenho os braços de Deus colados aos meus, mais um, na verdade, como mais um junto a todos.

Uma felicidade eterna, feita do que se condena todos os dias. Eu não preciso do que sei seria minha maior falta, eu não preciso. Mas, um dia, estarei, ao lado deste símbolo, além de mim e aglutinarei incontáveis felicidades umas nas outras. Um retalho do planeta, sem compromisso algum de obrigar ninguém a nada. Eu nem tenho mais controle sobre mim, é um caminho sem volta deixar-se guiar por si mesmo.

domingo, 22 de abril de 2012

Cacos

Adaptando cuidados que já me foram familiares, eu tento forjar uma imagem do passado, tão bela como eu não sou mais. O objetivo passa a ser copiar o que eu desaprendi, com tantos cortes, cada vez mais profundos, transformaram-se em cicatrizes, e outra vez abertas. Estranho eu não saber olhar para frente.

Uma coleção de qualidades intocadas, um código de conduta impecável resume todas as suas ações e controlam cada passo e cada pensamento. O que se diz poder ser mais racional do que ignorar qualquer razão emocional para jogar-se de cara na camisa de força do bem-agir? Uma honestidade patológica assoberba-te, mas o erro que o certo evoca é imenso demais para ser digerido. É melhor deitar sobre estacas finíssimas do que cobrir-se com um manto, o qual encontrou ao acaso, andando, preocupando-se, um momento leve no meio do caos.

Por diversos lapsos, pego-me cogitando dar novamente um passo atrás que poderia ser mil a frente sem que eu saiba. Mas então pequeníssimas palavras são capazes de fazer meu sangue gelar e voltar a curvar-me para dentro de mim. É impossível eu ser refém deste medo e estar tranquilo, o tempo de agir sempre foi o maior problema e as dores se acumularam, algumas curadas, mas não se sabe o que tem ainda por baixo. E em quanto tempo as coisas não mais teriam a possibilidade de ser como foram e estão sendo? Eu apenas não vislumbro qualquer chance de um futuro agradável, não-repetido.

Uma gota de chuva no deserto. Apenas, mas nunca pareceu mais do que isso, é bom estar no árido do deserto, o sol escaldante, eu prefiro a honestidade do sol a essa gota inconstante e irreal. Palavras animadoras, mas nunca consigo perceber o real, nunca consigo saber o concreto dos sentimentos... E deveria saber? Não é a velha mania, não é. É apenas querer saber algo mais e não saber como. Eu prefiro, então, a claridade do sol extremamente quente. Estou bem aqui sem chuva.

Uma companhia que me tem adocicado as atitudes, mas eu não consigo me revestir de pouco. Eu preciso de muito mais do que qualquer um que conheço pode me dar, eu ridicularizo os fracos, eu menosprezo os pequenos, eu escarneço dos humildes, eu provoco os bons, eu repudio os satisfeitos, eu piso nos incompletos. Para mim, aceito apenas o infinito, preciso do abraço de mil braços e da satisfação do amor pleno sustentado. Eu sou sincero e não temo minhas fraquezas e nem meus sentimentos obscuros, eu gosto de arrancar sangue de quem me ama para ver se me amam até na dor, eu os faço chorar e espero que se contorçam de dor dizendo palavras misturadas de carinho e ofensas. A autenticidade deles me faz ser real, porque o meu amor é sempre o maior do mundo inteiro, minhas ações são sempre em prol do melhor para todos e eu estou acima de todas as demonstrações reles de sentimento que até hoje presenciei. Patéticos seres, ninguém é capaz de alcançar o que eu vejo tão claramente.

Acabou que mergulhar em fantasia e idealização sempre foi mais aprazível do que confrontar arremedos de pessoas as quais valeriam mais se servissem de experimentos científicos do que espalhando suas imbecilidades pelo mundo. Acabou que estou tão cansado dessa necessidade que cada vez mais me apaixono por mim. Que maior há em termos de tudo o que eu sempre sonhei? Pequenos grãos, o que eu não daria para que todos se aglutinassem e assim talvez suas falhas se cancelassem e suas qualidades conseguissem restar, pelo menos uma e já seria uma grande diferença. Por que eu me esforço tanto em unir-me ao que não se deve ser unido.

Isto aqui não é o exterior, quando me sacrifico em pensamentos estou revendo tudo o que me faz sentir mais vivo e delicado, o conforto de poder despir-me e dormir até para sempre, nos braços que irão me acalmar se eu tiver um pesadelo, e eu não precisarei manter uma pose de que estou acima de tudo e sendo forte o tempo inteiro, eu quero poder ser que eu escondi num fundo de mim que se revela por momentos em que estou sendo completamente amor. Eu, parece que eu só queria estar assim sempre, ser assim de novo. Ser esse amor que sei que guardei em alguma parte de mim para usar de novo quando a hora chegasse. Eu consigo vê-lo por vezes, eu o vi há algum tempo. É mais lindo do que qualquer visão do paraíso. É o que eu sou de verdade...

Eu o contenho e por dentro e descobri que não estou completamente podre, ao contrário, a podridão eu externei. Por dentro sobrou apenas o amor que vaza quando sou descuidado e quando me sinto um pouco mais encantado. Eu me agarro a essa sensação, eu não sou como me amo sem ela. No final, eu não tenho como negar, eu preciso disso...

segunda-feira, 16 de abril de 2012

O Eu que Renasce

Algumas coisas nunca haviam sido pensadas. Simplesmente existiam e era assim que havia sido desde sempre e por elas se devia morrer, por elas se devia ter alegria de viver e sem elas os dias se arrastariam até que a inanição traria ao desfalecimento e o tempo seguiria em frente. Por algum tempo chorariam, mas depois todos seguiriam suas vidas preocupados com seus próprios "não-ter". Todos pensam antes em si. Até quando pensam nos outros, pensam antes em si, em seu desejo de ser mais do que são a outro, uma arrogância de ditador.

Eu tampouco queria pensar em certas coisas, por ser apenas mais fácil buscá-las e tê-las por meta. Porém, o que fazer quando o labirinto converge para essa reflexão? E encarando o monstro nojento que é a fantasia, uma gosma amorfa gigantesca, babando por diversos orifícios, com mil olhos fechados, tentáculos agoniados saindo por de dentro da massa esverdeada meio transparente, ela está injetando em toda a humanidade um aroma inebriante delicioso. Ter essa asquerosa mutação por perto apenas serve para que permaneçamos andando em fila sem que percebamos isso e lutemos para nos livrarmos dela, achando que ela pode ser vencida por nós mesmos. Mas somos nós que a seguramos com tanto amor.

Ela sempre foi meus pés e meus órgãos internos, me ensinou opiniões e a lidar com quem se ama. Como soa cortá-la assim de meus poros como se fosse um vírus maligno, um câncer com o qual vivi tantos anos e era para que eu estivesse melhor sem ela? Como uma mãe para todos os seres humanos, mas eu a amei mais que todos, apreendi todas as suas palavras e a reverenciei, acreditei nela e sei que no fundo ela queria me fazer feliz, mas não está em seu cerne fazer ninguém feliz, ela amortece a vida, ela se alimenta de toda a dor que despejamos em seus campos pacíficos e jamais solitários.

E mais do que a qualquer um, saber que preciso ficar sem ela está me matando. Quanto tempo até eu entender? Quanto tempo para que eu esteja pronto? Quanto tempo para que eu saiba que finalmente chegou a hora de algo autêntico? Meus sentimentos condicionados por mazelas do passado são rasos e infantilizados, são exteriores a mim, auto-destrutivos e autoritários. Quando vou estar frente a frente com um sentimento puro e ausente de todas as minhas necessidades condicionais? Elas ainda não foram eliminadas então? Investigar tudo novamente com um outro olhar clama por algo mais real. Eu ainda não sou, então, uma pessoa renovada.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Um final.

Indubitavelmente perfilei meus sentimentos de modo a execrar o que fosse manchar de qualquer ângulo qualquer menção de pensamento que pudesse ser chamado "nosso". Eu me desconheci neste processo de sucumbir ao meu orgulho para deixar que eu me igualasse ao que você necessitava. Mas eu falhei.
E é essencialmente dilacerador, farpa de metal por debaixo da pele mais grossa da planta do pé. A cada passo, você regurgita do âmago e eu te engulo novamente para manter qualquer coisa sua dentro de mim, eu estou me desprendendo do meu próprio sangue e não tem como eu ser o mesmo eu quando acordar.
As imagens dse mesclam ao meu desgaste e sempre sinto como se o futuro estivesse brilhante de felicidade, eu quero desconhecer o futuro e estou sentindo algo que não entendo muito bem, que não consigo raciocinar em cima, uma torrente de tortuosos vazios brevemente preenchidos ao custo de uma conflituosa reflexão derradeira, o meu fim. Mas e o renascimento? Ele sempre existe, mas quantas vezes preciso renascer até que eu possa descansar? Até que eu possa viver? Até que eu possa ser feliz? Quantas vezes mais precisarei me ferir e insistir em me machucar até estar calmo e satisfeito? Até quando precisarei me apegar às minhas emoções para fazer de mim agradável? Eu vi tanto sentido no amor que brotava tão espontaneamente... Estou anestesiado.

Cansei disso tudo. Preciso fazer o que me propus. Pensar em mim.

domingo, 25 de março de 2012

Hoje eu quero reunir toda a teoria e fazê-la real daqui para frente.

Talvez eu não esteja assim tão fortificado fora de minha mente, se qualquer sopro, até acidental, faz desabar toda uma linha de raciocínio, provocando fissuras em minhas convicções. Mas pode ser que eu esteja, por estar agora pensando que isso não devia me incomodar tanto. Porque expor-me ao que me machucará com certeza, cedo ou tarde, é a maior coragem do universo, você se jogar em uma bacia de ácido pelo prazer do vento que afaga seu rosto durante a queda. Uma sensação sublime.

Na verdade, eu quero ser mais simples, eu fui um tormento para mim mesmo durante muito tempo e isso poluiu tudo a minha volta, se arrastando em volta das minhas pernas, para derrubar quem fosse e me isolar e deu muito certo. E nessa certeza de estar sendo errado, porque dava tudo errado, eu não conseguia acertar, mas na verdade eu não estava errado, estava sendo apenas eu, diferente do eu que queria ser. Eu me idealizei e encontrei quem eu não queria em mim... E nesse processo, eu, me julgando superior a mim, exacerbei meu orgulho e ele foi apenas o que me sobrou, impedindo-me de olhar para os outros como eles são e sempre querendo mudá-los para o que eu tinha certeza do que seria melhor que eles fossem.

Mas hoje eu não estou imerso em minhas analogias e metáforas, encerrando o que eu penso em proteções atentas e belamente construídas para fazer belo ou plástico algo doloroso e horrendo. Eu sou eu mesmo hoje e meu modo de escrever sem adereços. Não estou feliz, não estou satisfeito, mas acho que consigo ser triste de uma forma mais saudável, tentando entender a minha tristeza e porque ela continua aqui, mesmo eu entendendo tudo. E não quero me censurar, quero me fazer de momentos.

Não estou com muita vontade de viver, é verdade. Me desanima estar aqui, pode ser que um dia eu leia isso tudo e ache uma bobagem, pode ser um sentimento um pouco egoísta e tudo o mais. Mas o fato é que não me matarei nem nada, mas estou extremamente sem vontade. Acho que ainda estou humilhado por descobrir que estava tão errado sobre tudo o que eu acreditava e as minhas verdades mais preciosas, minhas ilusões mais amadas, tudo o que eu sempre cultivei desde sempre, desde que eu tinha 13 anos, tudo desmoronou aos poucos e agora foi-se a última dessas convicções.

Isso pode ser bom por um lado, estou em branco para novas ideias, mas também dói aceitar que nada era real e realmente aceitar as coisas como estão. Eu não sou bom de aceitar nada, eu quero que tudo saia como eu imagino que deva ser, pois faz todo o sentido. Eu ainda não consegui entender uma coisa: o modo como eu espero que os fatos se desdobrem sempre leva em consideração o bem-estar dos envolvidos. E leva em conta também uma questão de justiça, por merecimento, por lógica também. Ou seja, como é possível que tal fato não aconteça? Como é possível que o certo não ocorra? E eu ter que engolir isso está sendo o maior esforço que fiz na vida. Eu poderia não engolir nada, bater de frente, mas sinto que isso me faria sofrer e estou cansado de sofrer... Eu não aguento mais a ausência, as mesmas sensações que se arrastam há anos. Alguma coisa precisa ser mudada.

Pode ser que tudo faça sentido e é impossível você compreender um livro começando pelo meio e depois indo ao início, um pouco mais depois do meio e agora o final e depois logo antes do meio. A ordem parece confusa, porque eu não entendo, mas pode ser que nada esteja errado, pode ser que eu precise entender muita coisa antes que eu seja quem eu almejo ser. Antes que eu esteja em paz e possa, assim, estar pronto para algo especial. Digo isso em todos os sentidos. Mas eu não quero ficar ansioso pelo especial. Eu quero sugar cada aprendizado e quero ouvir cada palavra, porque têm sido, algumas pessoas, meu infinito aprendizado.

Eu queria comer algo, mas estou sem fome. Estou embrulhado. Toda a vez que eu me sinto assim, imagino que seja uma parte do meu orgulho me perfurando por eu estar me humildando. Não quero perder de vista quem eu sou, meu limite e nem meu valor. Eu não serei um capacho, existe uma diferença que as pessoas ignoram entre humildar-se e humilhar-se. Humilhar-se passa por cima de você mesmo, não é saudável e te prende, te faz sentir menor, te faz ser infeliz, te faz desacreditar de você e do mundo. Humildar-se é infinitamente mais difícil, porque envolve coragem. Precisa-se de uma coragem inabalável para saber-se errado e reconhecer o outro como certo sem perder-se em frustração. Eu não estou reconhecendo ninguém aqui, estou apenas comigo agora, desfazendo meus castelos e vendo como erguer algo real, nem que seja uma casa modesta, mas algo real. Pode ser que ela desmorone em um dia, mas terá sido real. Eu não posso mais viver em fantasias, em palavras doces de adoçante.

Eu penso em algo bom. Eu me esqueço às vezes que sou muito, mas muito jovem mesmo. Parece que já vivi centenas de anos e estou exausto deste mundo e suas decepções. Cansado de ver as pessoas errando inutilmente, cansado de ver o de dentro de tudo enquanto todos vivem suas vidas pacatas e cansado de achar medíocre e despropositado algo que comove alguém, por exemplo. E também cansado de ser comovido por pontos em minha vida guiados por uma imaturidade minha, eu não consigo aceitar minha imaturidade e eu estou tão na idade de errar, eu posso errar em algumas coisas, eu não sou perfeito. Por que eu quero tanto ser? E por que meus sonhos nunca são eu estando sozinho? Mas até isso estou começando a entender, a não censurar, a ser mais eu mesmo e honrar o que sinto e me respeitar. Eu sou assim e vou mudar o que me incomoda e o que me faz sofrer, me atrasa. Mas não preciso mudar coisas que me fariam ser outra pessoa.

Na verdade, eu estou sentindo mais perto de mim a ausência como jamais senti e posso tocá-la até. Como posso sentir algo que não está aqui? Eu só fico pensando se... é, se... sim?

terça-feira, 20 de março de 2012

Verdade

Rasgou sem que eu nem percebesse, essa fenda por onde escorregam partículas geladas. Um frescor interno, ameniza as ideias, com o suor agora é sinônimo de calma e jamais excedendo o limite novamente pelo próximo segundo. E ao contato com a pele, como uma pelúcia verde em tons mesclados, a mistura de aspectos traduz-se no toque em alto relevo. Mas pelo corpo inteiro. Aos meus olhos chegam as paredes de madeira com alguma divisória vítrea ou janela de chão encharcada pela chuva. E algumas plantas. Os móveis organizados em algum alto desse andar térreo, o outro envolto em vendaval macio, os ambientes frescos pela própria natureza, a maciez em cada passo e tudo finalmente consegue se intercalar. Mas como se durasse um fim de semana, as palavras são cheias de normalidade e as surpresas aparecem como momentos luminescentes a partir de mim e eu mesmo, mas agora não mais só nós um. Minha mente evoca sensações físicas as quais não consigo precisar, mas sinto como se me tocassem, produzidas pelo invisível mental, são reais e me confortam tanto quanto me perturbam. Eu consigo perceber algum toque mais sutil do que antes, agora intensificado em mim, passando pelas minhas dúvidas e percebendo minhas incertezas e taxando de mediocridade os meus dias contemplativos, eu quero dragar a sua existência para o meu abismo de divagações e intersecções metafísicas com sortilégios místicos, fumaça esotérica e conclusões holísticas, pesadas exigências de intervenção divina, a música que cheira a chuva e me lembra de meu choro de infância, a razão infantil de eu me magoar está no fundo deste abismo sem fim, eu vou, mesmo sabendo, eu vou descendo cada vez mais e você não consegue ser infinito assim, na sua estagnação controladamente complexa e cautelosamente saudável. Eu estou apaixonado pelos meus ideais. Por onde podemos respirar se estamos debaixo d’água? Mas na minha mente tudo faz tanto sentido, até eu estar imerso vai produzir o efeito esperado, mas você, devagar, me disse, sem falar, que escolher é o que a palavra quer dizer, ausente de opiniões. Eu me segurei para não expressar qualquer obviedade antes de pensar bem e, eu mesmo sabendo que era real, insistia em, sem me dar conta, agir ao contrário. E estou aqui, pronto para ser maior do que eu finalmente e insistindo em diminuir-me. Recostado na cadeira sem cor, eu não vejo ninguém agora e não há mais razão. Só o barulho, o ronronar, a escuridão confortável após um dia de trabalho e eu rasguei meus pulsos pelo simples prazer de amarrar minhas veias umas nas outras. E tudo que eu faria antes, eu faço hoje com outros motivos, com outras pessoas, com outros objetivos e eu entendi quando você me falou sem palavras que eram por ações e eu sem saber sentir senti quando você respondeu o que eu queria de uma forma diferente da que eu queria mas que foi boa também. E eu destruí, naquele momento, um pedaço do meu orgulho. O que eu tinha de melhor era o meu pior. E quando o som coincide com seu som interno, movimenta todas as células com o mesmo ritmo, o corpo inteiro encontra-se com o que sempre fora feito para ser, nenhum corpo, neste estado, é menos que outro corpo que se assemelhe à divindade, eu estou aos pés da música que você toca da ponta dos dedos em contato com o formato dos pensamentos mais íntimos transmutados em guias das suas ações quando nos vemos e nos vemos sempre e estou eternamente plácido de mediocridade ordinária. E o nada me cai muito melhor. Eu consigo me alcançar, um carinho que me entrego, e desejo estar comigo assim, tão intimamente, olhando em meus olhos e sentindo meu próprio beijo, experimentando meu amargor e destilando de mim toda a incúria no trato comigo mesmo e com o universo, eu sinto faltar o ar duplamente, dois corações que se aceleram juntos e as mãos que se afagam, eu sinto a vontade de consumar-me a partir de mim e de sentir-me como outrora seria impossível neste devorar-se voraz de ambas as partes, eu avanço por dentro de mim e sinto como que tendo por inteiro agora, sem nenhuma outra respiração que não a minha, eu percebo meus gestos de prazer mais secretos e a dominação de mim causa o maior prazer antes já sentido por entregar-me ou possuir uma entrega voluntária. Eu relutei em deixar-me. Eu deposito em mim mesmo o que eu sei que tenho, produzido organicamente e levo a boca tudo o que sou de mais intenso e sensível, resvalando por todo o meu corpo que sou, despindo as faces que acreditei serem minhas reais. Eu sou o que brota de dentro de mim. O real, nesta comunhão se evolam todas as minhas faltas e eu me abraço ao fim para ter certeza, eu não preciso mais cogitar, eu me abraço até me entrar em mim pelo corpo inteiro, formando o eu novamente. O eu único. Eu sou eu unicamente em mim e pronto para seguir na busca, o fim nunca haverá.

Ao completar-se uma parte, eu sou agora irrestrito em relação a pulverizar milhões de partes em mim até me sentir completo do que não se pode unificar sozinho.

domingo, 18 de março de 2012

Pós

Eu estou aqui, sentado, sentindo a terra ainda receosa e gelada. Com os joelhos abraçados, a cabeça enfiada no vão que eles formam sem coragem de olhar para o que tenho ao redor e vivi muito tempo assim. Porém, agora, sabendo que a minha volta os ventos que rodopiavam foram incapazes de me retirar de minha posição contemplativa, eu sinto o sol queimando minha cabeça e costas e sou obrigado a erguer-me, com um pouco de desejo e alívio, para admirar o mar que quebrava a minha frente e eu jamais havia reparado. Posso levantar, bem devagar e sem ajuda alguma, apenas amparado pelo invisível, meu melhor de mim. Eu estou de pé, eu estou caminhando em direção a essa água infinita e misteriosa, oculta de suas verdades e, ao tocá-la, eu tenho a sensação de tocar na sua mão. É algo delicioso, mas ao mesmo tempo frio, já calejado pelo costume em estar pela metade.

Qualquer fio que teço novamente, usando essa água como linha, me leva a um lugar novo, mas acaba voltando a você e eu estar te contando isso é porque eu não consigo disfarçar, eu não consigo aprisionar nada em mim mais, parece que a escolha que fiz de ter me soltado me causou esse efeito colateral e só consigo ser eu mesmo agora. É como se máscaras não encaixassem mais, logo eu que estava acostumado e usar a frieza. Mas quando eu chamei, você sempre veio e então eu chamei mais e mais e eternas vezes, até que não fui mais ouvido. Eu estou de pé, eu estou tecendo novamente e a água espirala e abre fendas por onde saem maiores filetes e voam por direções adversas e eu sei que em breve terei que me cortar novamente para deixar sair de mim você aos poucos, que já se esgueirou pela minha corrente sanguínea.

Porque a sua prolixidade em qualquer ambiente me completa, eu que não sou muito de palavras. Em qual gota sairá você? A parte final de você e eu estarei livre, sem sangue já ou com muito pouco, esperando quem possa bombear mais em mim e me fazer eu de novo. Eu não posso ser infinito sozinho! Por que eu sempre preciso me refazer sem ajuda? E apreender as indicações de quem me ama, assim, no ar, e me esquivar da certeza de que irei me magoar novamente. Eu quero estancar, então, o corte, logo me arrependo de tê-lo feito e não quero te perder assim, com tanta dor, a dor de enfiar um estranho que não estava ouvindo a conversa, assim, de repente, enfiá-lo na minha carne e obrigá-lo a enxergar tudo o que meu corpo expulsa a força, em meio aos meus gritos e súplicas contra mim mesmo para que eu não faça isso e tenha você, ainda que não recebendo todo o calor que está pairando a minha volta, eu o envolveria e acobertaria você inteiramente, impedindo o infinito de sofrimento. Esse estranho precisa ver você gotejar, seu sorriso, seus olhos, seus trejeitos, sua boca, assim, se mexendo, seu cabelo, assim, exatamente assim como você não gosta, e tudo em você sendo retirado e tudo doendo e eu pedindo para não sair... Eu preciso desse amparo, de mais de um estranho, ou o mesmo realizando as várias perfurações que minha carne sensível ainda precisa e assim........

Eu fecho o ciclo de renovação em mim, posso nadar nessas águas, manchando-as com meu sangue para que ele desapareça no fundo do mar. Foi com você junto toda a minha alegria de ter te conhecido e todas as conversas doces, as palavras de ternura e os afagos e a raiva foi embora também e o amor está dormindo. O extremo de mim para amar, para odiar, para ferir-se, para ser feliz, todo junto foi como uma bomba atômica explodindo na minha mão e eu resisti a todos os golpes de lâmina afiada que você me deu, sempre com pena de mim, e eu me humilhando a cada passo, largando meu orgulho que é o que tenho de mais precioso e você não viu isso... Não viu que eu estava deixando até o meu orgulho de lado, isso eu jamais faria, mas o recuperei depressa e agora usarei isso contra você. Eu falhei em algum ponto, talvez em não ser tudo o que foi dito que eu seria. Eu preciso lutar contra o você que está em mim, o você que me magoa, eu preciso amar da maneira correta e estou querendo acabar comigo agora mesmo por ter chegado ao fim. Chegou ao fim. Eu não estou feliz, não consigo viver dos momentos felizes que tenho apreendido. Eu preciso do para sempre, eu anseio o eterno, o sólido, o inabalável e tudo o resto me parece pouco.
Eu me lembro de cada palavra. Eu me lembro de cada conversa e eu agora mesmo estou digitando sem poder parar porque se eu parar eu vou fazer de novo e eu achava que estivesse livre disso, mas eu não vou parar de digitar até que vá embora, precisa ir embora, mas agora, eu não , sei eu não sei porque está vindo com imensa força como meu coração palpita e minha mente só consegue embrar da última imagem, foi hoje mesmo, aquele tom de cor que nunc mais vai sair da minha cabeça e estou cansado com meus dedos doendo agora mesmo estão doendo meus dedos de tanta força que estou empregando para escrever isto aqui, mas eu não posso parar porque se eu parar eu posso acabar errando e eu prometi que não faria mais isso, mas a vontade é tão infinitamente intesa, mas eu quero ser mais que o infinito e parar com isso. Por que você está deixando que eu passe por isso, você não devia estar aqui para me proteger disso? Você não devia ser meu porto-seguro? Não foi para isso que tudo se deu? Eu não estou conseguindo aceitar e nem entender isso... Eu não sei mais e todo o meu corpo dói agoa, talvez se eu deitar eu conseguirei manter-me sem fazer isso e eu já me cejo indo lá e olhando fixamente e apenas olhando, vou ensaiar mas não vou fazer, eu juro que não, a casa está vazia e eu não posso, alguém tem que chegar neste momento, eu estou sozinho aqui e é isso. Eu estou indo lá, mas eu volto, eu esperonada eu volto. Com certeza eu volto eu sinto que pode ser a hora mas eu volto realmente estou sem coragem mas minhas mãos não aguentam mai... minhas costas e eu eu eu já volto.

Um pouco do enjoo permanece e a dor no peito também. Ela atravessa do peito até as costas, eu não sei o que ela é. Mas minhas mãos tremem agora pelo após. Quando entro em contato comigo, sem querer, eu pareço ser o que sou, ou não aguento o que tenho em mim e estou tentando aprender a controlar os efeitos disso. Mas eu estou tão cansado de tentar, e ter que fazer isso sozinho. O que me dói é que parece que o mundo sempre tem ajuda, mesmo não merecendo, mas eu não tenho. Eu não sei se mereço ou não, mas acho que eu poderia ter... Não é errado querer ter, acho que não é errado querer ser levantado por um braço enquanto o outro se apóia no chão para completar o reerguer-se. Eu sinto que fui levantado, mas fui largado e a queda assim era desnecessária. Abriu uma outra ferida que antes eu não tinha e esgarçou a outra que eu já carregava. Muito obrigado. Você salvou uma vida. Eu que salve a minha.

Só exausto. Apenas.

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Pareço não estar conseguindo manter a mesma linha quando escrevo. Será que estou assim tão fucked up? Estou reavaliando tudo, querendo sumir agora. Tudo extremamente desnecessário... estupidamente inútil, eu não vou conseguir aceitar, mas preciso e tenho que seguir. Deve ser este momento, estes momentos, eu vivo intensamente.

domingo, 4 de março de 2012

Ainda sem Definição.

Um suspiro de alívio por saber-me agora o arquiteto de todas as muralhas que ergui ao redor de mim em várias direções, respingando o concreto endurecido por meu corpo inteiro, meus movimentos, assim, retardados. De fato, sinto-me perturbado por andar em solo invisível, suscetível a falhas, mas tais impossíveis de serem previstas. Mas toda uma cadeia respiratória conta com uma sucessão fixa de processos sapientes dos limites de seus sucessores e antecessores, de modo que não se digladiam... Eu evito, hoje em dia, empunhar armas ou enfiar punhais em meu coração em dramático espetáculo, um monólogo sem platéia, uma chuva de demonstrações tão profundas de tão complexos sentimentos reveladores de inteligências tão aguçadas que cultivei dento de mim por tanto tempo, um orgulho por estar além, observando as massas se amarem futilmente quando minhas opiniões e ações rodeiam o sublime em cada gesto... Uma inutilidade completa.

Pois o achar-me exacerbadamente inumano me faz mais mundano do que o universo e nisso está a glória de estar vivo e eu me sinto vivo em cada fibra. Uma emoção sem origem, atacando profundo, movendo todas as células em um furacão... Mas como tantas vezes, algo se sucede, é que eu acho que desta vez a ordem se reverte e diferentemente da outra única vez, mais rápido agora, pelo menos a enchente de sentimentos parece ser autêntica e eu estou me preocupando agora com cada passo e cada palavra e me arrependendo de não ser perfeito por corroer em mim essa noção de ter de ser sempre o melhor para todos e para você ainda mais, porque eu sinto você tão precisando de mim e eu nasci para ser uma proteção, eu nasci para me auto-destruir não mais, eu não quero. Eu queria ser egoísta agora, mas aí então veio você e não me deixou, não me deixou mais ser como eu tinha planejado após tudo ter dado errado de novo e agora eu não consigo acreditar mais em nada que eu vislumbre que pareça certo e está parecendo tão certo mas eu vou fazer algo pra que não seja certo e assim eu volte ao que eu sempre fui. Não não... ... ... .................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... e para que se não importa o que ocorra, eu não encontrei uma vulgaridade e nada é ordinário no que se refere e tantas vezes, tantos sorrisos acumulados, eu amo tudo o que se passa.
Eu cavei defeitos e só encontrei tudo muito natural.

E meu plano?
E minhas conclusões?
E minhas resoluções?
O que eu aprendi serviu?
Eu era tão forte quando me levantei.
Era pra isso que eu me preparei?
Estou me enganando? Ou tentando me sabotar de novo? Ou realmente enganado?
O que eu sinto?
Quando começou isso?
Podia ter acontecido?
Era iminente quando da criação de mim, planejado há centênios?
É?
E toda essa naturalidade feita concreta?
O que é esse real palpável?
Eu estive imerso em tanta divagação e teoria, tanto tempo cogitando e tentando entender, tanto tempo suspenso e aéreo, inconsciente que agora.... Eu estou paralisado, mas caminhando. A vida que se arquiteta fora de mim e eu tenho minhas escolhas. Eu acertei então?
E o tempo?
Isso é estar alegre e eu estou achando que é tormento por não saber lidar com qualquer coisa boa?
Eu vou...
Eu estou indo...
Eu só preciso de uma noite...
Sozinho...
Para deliberar.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Reconstrução\ Sobre o Momento

Cada parte que é recortada cai, apodrecida, um pouco coberta de pele descamada. Por baixo, fios ainda ligam o tecido ensanguentado à nova pele, uma pele transparente, ainda nua. Ela se expõe aos poucos, se arrepia ao tocar o ar, se sente indigna de ser iluminada por qualquer luz, não sabe o que fazer ante qualquer olhar. Essa pele, uma pele que nunca ouviu sons com sinceridade, pela primeira vez assim, viva, carrega uma fagulha de vontade. Ela se alastra, seu desejo faz dela como um abraço há muito tempo reprimido, ela se espalha ao redor de si própria e vira a peça central, se torna a protagonista, não mais é uma, ela é. E sendo, ela não sabe como agir, não sabe interpretar o frio, o calor, a dor, o toque de outra pele, não sabe como se deixar levar, não sabe. Se sente tão pequena agora em sua totalidade, se sente vazia, mesmo tendo alcançado a grandiosidade. Ela não sabe mais como se chamar.
Ainda assim, mesmo sem saber bem do que precisa, mesmo sem ter certeza sobre o que quer, não achando certo que queira o que acha dever querer, ela existe. Pode ser que isso baste, pode ser que essa seja a resposta que tanto procura. 

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Esse texto foi o que iniciou tudo, mas coloquei-o no facebook e resolvi passar para o blog, porque ele está sendo um diário de sentimentos mesmo. Esse texto é de 7 de setembro de 2011, vou usar a data para marcar alguma coisa que estou pensando agora, mas não tem forma definida ainda em palavras. 

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Talvez seja que durante um momento, só ele importe. E nada do que construiu os que estejam nele envolvidos valha de nada. Pode ser que o momento se baste, que seja seu próprio começo, meio e fim, como num conto. Prefiro achar que ele seja como uma crônica, mais próximo, mais verossímil. E não perceber que o momento se refaz eternamente, mas espaçado; sendo incompleto, mas amplo e infinito dentro de sua característica mais particular que é a de ser desejado, não preceber isso pode ser fatal. Não compreender que o momento necessita ser ausente a maior parte do tempo, que ele necessita deixar-nos inquietos e saudosos, que ele necessita que o busquemos, nos angustia. 
Que profundo egoísmo e imaturidade querer que o momento perca sua essência mágica, tornando-o ordinário, tangível a nosso bel-prazer. Aprender a lidar com o que ele realmente é, sim, é a verdadeira beleza. E apenas assim pode-se tê-lo autêntico.
Mas e a paz de espírito? Pode ser que ela esteja em saber viver no tempo corrido sem ansiedade, sem querer, sem esperar que a vida se desdobre a nossos caprichos. Sabendo que qualquer gerador de felicidade só pode ser momentâneo. Vivemos de ilha a ilha, ficando mais leves a medida que seguimos, ou deveríamos ficar... Mas, em vez de querer, apenas ficar. E essa luta para compreender, esse esforço para se superar e todo o suor que brota do embate contínuo, o desgaste de tudo pode ser inútil. Inútil no final das contas.


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Esse é do dia 19 de setembro. Acho que eu estava começando a traçar metas para mim, mas ainda meio confuso sobre o que fazer. Não estou muito esclarecido hoje em dia, mas precisava compreender o que eu achava de momento. Isso continua sendo um sofrimento para mim, isso de momento. Eu quero aprender o que eu disse que deve ser feito. Eu estou devendo a mim mesmo postagens sobre temas que tenho medo de escrever sobre. Um eu já comecei e estou postergando por puro receio. Mas será a próxima postagem, tem que ser.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Um Momento

Não havia maneira de bipartir o que havia nascido unificado. Como se a esgueirar-se por corredores funestos de ácido esfumaçante, uma lâmina de vontade oposta, criada pelo desprendimento de energia vital em fazer adoecer alcançou o cérebro de neurônios finamente interligados em sinapses hiperbólicas. Deliciando-se em passear pelos sulcos que naturalmente impediam as células de se aglutinarem, já que a simbiose não é saudável, promover-se-ia uma ruptura, esfacelando traços de memória. O resquício do sentimento de identificação adormeceu no âmago invisível do inconsciente, onde jamais haveria de ser perturbado, ainda que por si próprio o quisesse. E assim percorreram milênios de olhares antagônicos, um frio entre os dedos das mãos, um constante recompor-se de uma lepra interior em meio a um dia normal... E eu ainda mantive-me no centro de mim, para observar a rotação das infinitas partículas que a minha volta dançavam, ao mover de cada músculo, eu sabia prever todos os passos que se seguiriam, eu sei olhar de dentro para fora de tudo e expelir desejos incontroláveis antes que possam ser dissimulados. Eu sou o avesso do fingimento, eu sou o estupro do ser humano por si próprio.

A pele chamuscada ainda sofre arranhões constantes, a unha finca no sob-a-pele rosado e o sangue discretamente, um sangue cristalino embalsamado de ilusões pueris, esvai-se, como que acompanhando a água salgada, muito semelhante em sua constituição cristalina, um abraçar-se irrevogável, com pedidos de desculpa entre os dentes, as veias na testa querendo explodir involuntariamente, acentuando seu desejo de não mais habitar essa rotina a qual já tem por dentro de seus canalículos mais com esmero fabricados. Eu tentei alcançar o mais íntimo possível, na ânsia de não mais precisar esfolar as pontas dos meus dedos em teclas de computador. A vida inteira que é mais eterna do que eu jamais pude entender parece ter acumulado em minhas costas todas as minhas intermináveis auto-percepções, mas não, não é bem disso que se trata.

Recuperando o fôlego, tentando manter-me além de mim um pouco, para olhar para o lado e não reconhecer o outro lado como uma parte impregnada de mim e minhas emoções e meus transtornos falsamente contornados, e abrir mão de tudo o que me embaça os olhos, acostumados a fecharem-se para um mundo de necessidades fisiológicas e barbáries desviadoras de atenção. Eu corto com uma serra meu braço direito, logo abaixo do ombro, por ter a certeza de poder recolocar em seu lugar um braço idêntico, que vou encontrar no segundo seguinte a dor de perder meu próprio, o que vem é como se fosse o meu próprio e sei que será feito o sacrifício da doação abnegada sem nenhum pesar. E viver com apenas um braço tem sido meu maior desafio até então e não sei mais caminhar, perdi o equilíbrio do corpo inteiro e não sei mais realizar as mais básicas atividades diárias. Olho-me no espelho e sinto um nojo e vergonha de meu auto-sacrifício ingênuo, aprendendo a viver por mim mesmo, dependendo da ajuda alheia, mas ainda assim rechaçando-a. Se eu fosse incapaz de me entregar, seria a solução?

Eu me julguei tão abstracionista, imaculado ao alto, isolado em minha torre ebúrnea, tão mistificado e pulverizado de alegorias que me dificultariam a compreensão, sendo a expressão mais pura e verdadeira do que sinto, a origem do sentimento, meu sangue primordial vazado por vontade própria, como se eu me cortasse de propósito para poder continuar vivendo. Mas ao redor de todo o vidro, das escamas multicoloridas, eu não consegui me mesclar com essa vida mundana e todas as minhas tentativas de ser ordinário me corromperam até a doença algum órgão vital. Após reestruturar-me, despejei o arrependimento de acreditar-me capaz de ser diferente de minha essência que pulsa em paredes suaves de um veludo vermelho-sangue, o aconchego quase como uma colcha de seda em uma cama com trezentas e vinte e cinco almofadas. A proteção a qual confino tudo o que sou realmente me identifica com o utópico do ser humano, o qual agarro com afinco de animal instintivo e não meço palavras, não meço ações, recaio em mágoa profunda e idealizo tudo diferente, como se fosse reconstruir um mundo inteiro apenas pela minha vontade e eu não tenho medo de acreditar que a perfeição (para mim) é real, a essência muda, mas nunca se transforma quando é boa, ela adormece, camufla-se, torna-se receosa e tímida, mas em terreno fértil ela volta a desabrochar. Era dessa água que eu falava uma vez, quando ofereci uma parte de mim lindamente composta e feita concreta. Era dessa água que bebi quando me foi ofertada abundantemente, ainda que involuntariamente, e eu consegui, pela primeira vez em tantos anos, lembrar exatamente como eu havia sido há muito tempo atrás, mas que me dá a impressão que amanhã ele vai recomeçar e nada disso que passou teve valor, era como um meio pingo d’água na eternidade.

Mas agora, ainda um pouco atordoado e acumulando mais pedras enquanto tento caminhar em linha reta, aos poucos estou deixando de me importar novamente. Todo o fracasso e humilhação chegaram a um estatuto que me arrancaram as forças para afugentá-los ou fingir que são fantasias. Eu não me importo. Eu sigo sem dar valor ao que sempre dei e olhando para o nada com a certeza do nada. Querer sempre foi minha fonte maior de frustração. Não quero mais. A qualquer vislumbre de vontade, arrancar do cerne da hipótese sua matriz fundamental e enxergar o real cada vez mais intensamente. Eu quero o real do que posso encostar. Estou exausto.

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Acho que não consegui passar o que queria tão a fundo como estou sentindo. Mas estou sem vontade também de tentar me espremer mais. Como se não houvesse pensado nisso o suficiente, quero tentar seguir. Eu amo este blog, estas paredes pretas e esses pingos brancos, como se fossem uma luz, como se eu fosse todo esse blog e meus textos fossem pequenos focos de luz que saem de mim, tentando me resgatar. Já que ninguém parece conseguir fazê-lo, nem eu mesmo. Só queria saber porque para todos é tão simples, estou desejando coisas horríveis neste momento, apesar de me considerar uma boa pessoa. Vou parar agora, não quero mais sentir isso.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Foi um aprisionamento de todos os desgastes erosivos simultaneamente. Um feito de sutilezas e resvalos nos pontos invisíveis mais sensíveis, obcecadamente perscrutando o vácuo, balbuciando palavras inteligíveis, a imersão na espiral do desequilíbrio.
E como a ignorar uma demarcação minuciosamente acertada, andei a esmo ignorando minhas vozes superiores julgadas erroneamente, mas sempre tão próximas a mim. Ao que indefinidamente rechaçadas, não se opuseram a enlaçar-me no tecido amarrado de todos os eventos planejados, contrariando a certeza visível e sentida como um corte bem rente ao pulso, um sopro de vida por dentro deste mesmo corte se espalha por todos os vasos sanguíneos, tornando coesos todos os caminhos que levam ao destino de suas criações, uma funcionalidade em perfeita harmonia. Do âmago dos cristais gelados magistralmente esculpidos que enrodilham cada fibra, minúsculas fontes de profusas sensações inibidoras, surgem lampejos de cores indefinidas que se amalgamam em material citoplasmático. A energia que se depsrende do foco de toda a paralisação por vezes a faz falhar, logo de todo o processo estará independente quando, ao entrar em contato com o sentimento em sua totalidade, até então desconhecido ou esquecido, absorver dele a essência, incoporando-o a si para reciclá-lo, dividindo-o com o meio-ambiente e pronto a fazê-lo parte constituinte de si em simbiose voluntária e consciente. A migração para o inconsciente a partir de um voluntário esforço físico-mental há anos ensaiado.
Consigo esticar meus braços de ponta a ponta  

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Escrevi isso, porque estava sentindo uma grande alegria. Eu pretendia continuar, mas os pequenos percalços foram me impedindo, coisas da vida pragmática. Mas foi o tempo que perdi mais precioso, porque agora não estou mais sentindo isso, eu voltei à estava zero. Não é novidade, está cada vez mais curto o período de intenso auto-martírio que sucede minhas grandes alegrias. Bem, eu uso o que sinto genuinamente como combustível. Já sei minhas duas próximas postagens sobre o que serão: a seguinte será sobre tudo o que aconteceu, minhas impressões e a posterior sobre algo que já queria ter escrito antes: uma projeção do fim de meu processo de auto-conhecimento. Ou, pelo menos, não o fim, mas o clímax satisfatório, o que finalmente me deixará pronto para a real próxima etapa.