sábado, 31 de dezembro de 2011

Ao meu ano velho

Na verdade, não se fechou um ano, fechou-se um ciclo. E ao mesmo passo que a verdade é magnífica, é também um fardo de grande responsabilidade. O progresso agora é obrigatório, pois corpo e alma em comunhão não mais aceitam a estagnação tão característica de horas em reflexão. Ao passo que se arranca um pedaço da própria pele, há que se perder alguns minutos lambendo o próprio ferimento a fim de sarar-se, cuidar-se, ouvir-se, libertar-se.

Permitir de uma vez por todas que as inquietudes sejam bem-vindas e que a liberdade oriente a cura dos medos mais profundos, arraigados em práticas comuns do cotidiano, no receio de fazer a vida melhor. Pode assustar um pouco, de repente saltar e não saber onde vai cair, nem como, quem irá encontrar e como falarão. Assim, se o medo que é instinto primário não fosse o que é, estaria eu morto por agora e não haveria ninguém no planeta. Isso porque não tiro o crédito de coisa alguma. Porém, ele não deve suplantar-nos. E Nessa caminhada, em algum momento, brumas conjuradas de um azul espesso e quase negro turvaram obviedades e linhas de raciocínio lógico, naturalmente tão elementares.

Um passo em falso guiado por uma bagagem invisível e o instinto perseverou no cancelamento de tudo o que eu sei existir de real dentro e fora de mim. Os espinhos, provocadores de sensações tão afiadas, agora não passam de um incômodo supérfluo, brilhantemente contornável. O esforço que me guiava, agora soa como prática indispensável feita pela manhã, uma manhã de trabalho. E o alívio de estar vivo, como se memórias fossem feitas de anos longamente derrubados, é o que salta em mim agora mesmo.

Mas palavras apenas são como água. E concretamente tenho conseguido erguer uma muralha, ainda muro, de momentos que me corroboram. Não que eu precise de provas, mas alguns aspectos carecem de veracidade material, exigem que o toque se faça. Todo o meu existir se baseia, porém, e não paradoxalmente  dentro de um escopo milimetricamente designado por mim mesmo. É necessária a construção de barreiras. Sim. Barreiras que sirvam de construtores de personalidade e não de impedimento. De alguma forma eu sempre soube disso, de alguma forma eu não errei quanto a isso, apesar de crer-me errado durante muito tempo. Eu me construí eximiamente e tal labor foi minha obra-prima, justamente a razão de minha queda e crises existenciais. Não mais. Dentro da eternidade, um segundo de dúvida, mas saber-se mais hoje do que ontem não tem preço.

E com o sopro de vida renovado, os objetivos podem ter mudado, ou continuam como de um longo tempo atrás. Isso não tem nome, ainda não foi inventado, talvez ninguém conheça. Eu olho a minha volta e não consigo perceber um lampejo de vontade, mas aos poucos, nas reentrâncias, percebo desejos bem contidos e temerosos, bem infantis ainda e cambaleantes de transformação, de insatisfação. E essa é a jóia mais preciosa dos universos.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

No Enquanto

Pela madrugada, farpas invisíveis.
Por mais que eu me rebata, é constante
a paraplegia de limitações intangíveis,
por todos os meus músculos, e além, tornando-se contagiante.

Ninguém ousaria falar frente a minha dor,
Pois que ao senti-la, em tormento, a língua se desfaz,
o grito não tem por onde evaporar e o torpor
dessa sensação excruciante esmaga, uma origem mística,
de há milênios condensados em anos atrás,
vaga, inóspita, fagulhas embebidas em veneno de uma ironia artística.

Embalde compus, de poéticas fibras, uma vítrea redoma
e canonizei uma imagem de mim mesmo em chuvas de pétalas,
admirando-me a pureza, de tão alto, de sublimes qualidades uma soma.
Inabalável estrutura e complexos compostos cerebrais, formando
tão inigualável obra-prima de altivez e hombridade excelsas,
cego por seus auto-clamores, ao toque de si próprio, tombando.
Eu me vi em pedaços, obrigado a curvar-me para reconstruir-me.
A humilhação de não ser inteiro, os sentimentos escorrendo em terra firme.

Eu corto em um braço e arregaço a pele com os dedos,
quanto maior a ferida, mais ela é o eu mais sincero,
mais ela diz de mim, mais ela afaga meus medos,
que adormecem, então, um adormecer singelo.

Tudo um ar tão presente, embora o mesmo espectro
de um passado enterrado, o cheiro do cadáver entorpece,
como se diariamente vivesse em retrospecto,
dia após dia se torna um passado, amalgamado, alimentando um cadáver.
Quero parar o passado de existir, ele se envaidece
de me atar e logra que eu não passe a ser
mais do que eu mesmo,
infinitesimal agora,
vivendo a esmo,
(por hora.)

O futuro convertido em pré-memória,
O amor convertido em carga viral,
de muitos a mesma história,
de apenas um, algo real.

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Poesia sempre me cerceia de alguma forma. Nada mais adequado, acho eu. Mas ainda assim tento evitar. Me traz muitas lembranças e não é do que eu preciso, lembranças.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Medo

É além de mim precisar em você fisicamente o que me revolve, em algum ponto da mente, estalos sincrônicos, todo o meu corpo parado, viajando por tubos de sensações confortáveis onde tudo é construído a partir do princípio que dará certo. Mas recentemente as ilhas de flutuação sensível, muito além da massa humana cega, embora junto a ela, têm se feito mais e mais concretas, interligando-se em sequência lógica, toda a vegetação respirando em direção a um príncípio comum macrocósmico. Por debaixo das minhas unhas escorre uma vontade quase que inviolável, tão cristalina por sua pureza, constituinte básico de sua estruturação química.

Em toda uma posição imóvel, como numa fotografia, eu consigo agarrar o sentimento que se materializa, uma intuição, ele é o acúmulo de toda a minha história de desejos, toda ela materializada. Construído está o meu desejo eólico feito de ossos que se articulam sob músculos e banhos de canais incontáveis, massa gordurosa e recoberta de pele tão estética; ali está, com a respiração e vontades humanas. Os lábios, assim, movendo-se milimetricamente no ritmo de uma melodia evocadora de emoções sublimes. Cada tonalidade que se alimenta da luz presente revela matizes jamais alcançados de uma profusão multicolorida, envolta por uma fina conexão vital com o tato. Mas minhas mãos, ao aproximarem-se, retesam-se na mesma velocidade... Eu ainda estou como desde o início dos tempos, parado abaixo do sol, olhando para o calor por entre folhas de natureza virgem, clamando sem linguagem por algo que me explique o porquê de eu estar sentindo essa fome nunca saciada, essa fome que repudia alimentos e todos os insetos que me atravessam, eles são a natureza em sua forma mais bestial e completa.

O clímax da canção! A nota mais alta, a mais difícil, a que mais consegue percorrer o caminho entre sua origem imaterial e o príncipio de uma lágrima. Eu avisto um brilho de relance, mesmo que não tenha brilhado. E duvido. Mas não se nega um olho, não se nega o que o físico constata e afastando-me eu me torno cada vez mais conhecedor de mim mesmo, ciente de todas as minhas múltiplicidades e inconstâncias. Eu, quando da mão da Terra, em seus confins fervescentes, irrompi, tal verme arrebenta constituintes humanos, na superfície, alérgico aos raios solares, cerrei minha mão na terra fofa, amassando pequenas folhas de outono espalhadas aos milhares pelo mato verdejante e parcamente iluminado, coberto pela copa das densas árvores ao redor. O cheiro de limpidez abriu meus pulmões e pude distinguir muito vagamente que se tratava de um caminho, um lago, cachoeira discreta, e a vida pulsava naquele ambiente brilhante e multicolorido. Todas as minhas necessidades eram as necessidades ao redor, o saber era íntimo e incontestável, uma espiral de sentimentos afagava todo o meu corpo, acolhendo-me entre a normalidade de ser algo incompleto e sem culpa alguma, completamente limpo de todos os meus pensamentos, eu caminhei por anos sem me cansar.

Ao fundo, em meio ao que vi de mais belamente erguido, a casa que estivera lá há milênios, com a porta aberta e tudo em seu lugar. Como se houvesse passado apenas uma hora, tudo reconhecível e a saudade havia sido como contar cada gota de todos os oceanos. Descendo as escadas, uma palavra soa realmente como ela se configura, nada havia de preocupação e nem desconfiança, tudo estava em seu lugar, mesmo que não houvesse um lugar. Eu nunca saberia se esse seria o destino final, mas uma plenitude, ou a inauguração de uma sensação nos eleva e tudo se acalma. Havia não-sido inúmeras vezes, mas eu conservava em algum canto uma certa inocência pueril de que há o certo. E não importava mais acreditar, pois tudo acabava da mesma forma e a sensação era sempre a mesma e encarada diversas vezes como a última vez, como a melhora por vir. De minha boca, infinitas contradições assolam apenas meus ouvidos e meu corpo caminha contorcido a mando de minha auto-defesa para longe demais do que me maltrataria com delicadeza. Além de todo o mal que eu sempre causei a mim, parece que nunca se desiste de provocar o pior sem piedade. De mãos alheias de si, o nevoeiro de todo um teatro que se passa na minha mente, o sentido intrincado em sua própria linha do tempo, eu me afogo em conclusões que irrevogavelmente me afastam de tudo, mas desta vez eu não tenho tanta certeza ainda. De qualquer forma, algo foi estranhamente composto e a raiva se ergue dentro de mim como pretexto para eu ser forte uma vez. Tudo posto, por que, então, se é, foi anteriormente minimamente sugerido? Eu estou confuso dentro de mim ao ponto de fazer o que sempre faço. E acho a solução a cada vez que viro uma rua, a solução está espalhada, mas jamais a alcancei! Onde era para eu estar agora e onde estou?

Fisicamente começo a existir e a dor é excruciante. Tudo o que me destaca dessa vil massa ambulante pode estar prestes a apoderar-se de mim com intensa simplicidade. Meu distanciamento aprisiona faltas em nome de uma estagnação contemplativa e reflexiva. Mil metros acima do que se julga satisfatório, a observação causa repulsa e ao mesmo tempo medo. Medo de um dia ser irreconhecível. Tudo graças a não poder contar, não poder crer. Uma infinidade de obstáculos de ar pesado.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Lacuna

Tenho sentido a falta do ar, meus pulmões buscam mais de mim para assegurarem-se vivos. Pelo minuto no qual estive ausente, por esquecer a parte que me cabe no todo cósmico, tenho pagado por dias esse deslize frente aos degraus cada vez mais íngremes. A vontade de reescalar não levaria à salvação, como parece, como é tão impregnado em mim esse sentimento de correr pelo que já me é familiar. Um braço estendido, timidamente, oferecendo que tudo seja o que deveria obviamente ser. E o nada no que tudo se tornou? E as crenças que se desfazem por completo? E meus sentimentos tão verdadeiros, tudo tão sincero! Por que sempre tudo parte de mim? Eu não consigo sentir nada além de amor, um amor profundo e enraizado fluindo de cada hemácia, seu rastro derramado nas paredes dos vasos, vazando pelos órgãos, bombeado por todo o organismo, pulsante, integrando moléculas de DNA, como se não houvesse sido programado. Esse ataque independe de comandos cerebrais, está intrincado ao próprio funcionamento místico dessa máquina orgânica, um corpo a flor da pele, trabalhando para sustentar-se, ainda que espetado em vários sentidos por espinhos microscópicos. A cada movimento, o músculo retraído comprime em suas fibras essas esferas afiadas, promovendo múltiplos cortes, a sensação pungente e desconhecida, cada movimento é interpretado como um passo à concepção idealizada da plena felicidade. É auto-defesa.

Tão próximo estava de ser o que finalmente... E tudo se encaixava, obrigatoriamente deveria dar um passo em falso e não saber mais como caminhar. Como se vivesse em pleno espaço, cercado por constelações e milhões de orbes espaciais, corpos celestes e seres que nunca souberam o que seria uma raça humana. Nesse vazio recheado de possibilidades, na ausência de gravidade, somos livres para flutuarmos como pensamentos. Somos pensamentos, meros instantes energéticos libertos de concepções e contexto, libertos de olhares e sílabas, os gestos, não impedidos, são os mais sinceros e falam todas as línguas. E se todas as estrelas forem, na verdade, algo diferente de estrelas? E se, fora daqui, tudo for diferente do que é aqui? Caso estivéssemos inconscientes seria tudo diferente? Num sonho, num delírio, num êxtase, num coma, nos primeiros instantes antes da morte... qual seria? As mãos se unem finalmente nesse espaço-tempo imutável, que rebaixa tudo com sua magnânima infinidade e enterra em buracos negros toda uma tradição de opiniões e comportamentos. Só nós importamos e o que flui é mágico, o que estava sempre por aqui é o normal e o normal é extraordinário. Eu sempre busquei mais de mim para ser mais para todos, quando ninguém nunca quis mais, ninguém nunca soube a diferença.

Do centro da Terra emanam todos os impulsos cataclismáticos, anunciando, a cada rachadura vagarosa da crosta, a necessidade de emanciparmos nossos sentimentos a outro nível de desprendimento. Antes concentrados em nos desfazermos, amarrando os fios de nossos impulsos cuidadosamente para que não doesse tanto, agora forço-me a consumir meu tempo buscando cada nó para que ele seja desfeito. Olhares de reprovação ainda não se conscientizaram sobre a urgência do planeta em modificar-se, em limpar-se de todo o supérfluo. Sinto no interior de meus ossos o regozijo por estar caminhando sobre essas folhas secas feitas de pele humana já envelhecida e quebradiça. Meus passos as pulverizam em direção a uma nova existência, onde a não gravidade é aqui, onde toda a comunhão de corpos é possível sem que esteja distante. O amontoar de corpos sadios, em transe fascinante por outro corpo vazio, uma união universal indistinta de todos os seres que se se cortaram, arrancando seu sangue e filtrando todo um corpo, bebendo em homenagem a uma renovação hiperbólica. Preciso de tudo além, uma reestruturação excelsa, o amor ocupando cada átomo que me estrutura, que me traduz em matéria, cada átomo repleto das ínfimas partículas plasmáticas constituintes do sentimento. Meu corpo exige mais de mim, mais comunhão, mais vida, mais do ar que respiro.

A boca é por onde entrevejo tudo o que posso conhecer de mais profundo sobre um corpo em seu sentido mais primitivo. Por entre os dentes e sobre a língua estão os primordiais elementos, os dados mais humanos, toda a voracidade dos ancestrais transmutados em apenas um corpo novo. A dor que sinto é ausência pura, o nada se fazendo sentir. O buraco negro da existência, um nada que a tudo consome e tudo engloba. Por vezes não me lembro mais o que era de início e no que me tornei, tantas foram as transformações. Eu só queria muito pouca coisa, na verdade.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Ao Final de uma Etapa

Andava com a cabeça no mesmo lugar, por ruas a fio, mecanicamente, trocando palavras consigo para evitar o tédio da distância percorrida múltiplas vezes. Apesar da invigilância aparente, notava cada rosto que atravessasse seu caminho, reparando o canto do olho de cada pessoa, a fonte de todos os seus sentimentos, a fonte da realidade. Movia-se em uma velocidade normal, o fim do dia não reservava nenhuma surpresa. Era dormir e acordar para recomeçar nessa escada horizontal e enrolada no próprio eixo derrubado. A caminhada, a caminhada pela mesma distância percorrida múltiplas vezes. Seu canto do olho mostrava o que era real em si? Mas ninguém reparava.

A observação não era, porém, gratuita. Buscava algo em alguém que não existia. Nenhuma das duas coisas existiam. Apenas a ausência. Quando acordara na pele, não soubera o que fazer dessas sensações que se assoberbavam continuamente e sem explicação. Não teve escolha, a não ser rogar a um Deus que se prontificasse a responder seus anseios mais íntimos, posto que nenhum ser humano o seria capaz. Mas nunca soube entender a resposta, supondo que ela havia sido enviada.

Mas ao se afogar no primeiro pingo d'água, sentiu todo o seu corpo transportar-se para absorver aquela gota e mais cada uma que se aproximava, devagar, depois rápido. As moléculas vindas do céu se misturando com as suas eram como um sopro de vida da ponta da língua de Deus para todo um humano que não tinha mais a certeza de haver sido realmente um dia diferente de um bando de órgãos involuntários. Elevando o rosto, a pouca luz ainda ferindo os olhos acostumados a dormir, recebe, pela boca, limpando tudo por dentro, a água da chuva, impensada, apenas dos recônditos jamais alcançados por mãos humanas, uma floresta virgem.

Enquanto caminha em suspensão, o amor que brota da ponta dos dedos evola-se para fazer do mundo um lugar um pouco melhor e derrete qualquer palavra viscosa que, naquele momento poderia ser cogitada. Apesar de palavras imundas, as ações cristalinas e sinceras somam-se por cima delas e as inutilizam. Prefiro palavras hediondas a ações dissimuladas. O amor invisível é o mais precioso e quente. Ele queima todo um coração que absorve essa água, pulsando a essência da vida por artérias cansadas de serem subestimadas. O calor que invade todo o corpo, desesperado por transferir esse calor, ansioso por achar o recipiente de si. Um corpo que caminha sobre si dia após dia, vencendo-se e chorando por razões múltiplas, sempre achando algo que o faça mais necessitado desse calor que é inexistente por si só.

O desejo de união pulsa, resguardado no fundo de mitocôndrias, um elo partido, dos quais fragmentos se espalham por cada organela, buscando uma a outra, introjeta no inconsciente do corpo a falta inexplicável que suga o ar dos alvéolos. Células instintivas, incompletas desde a criação dos tempos, em seu DNA está espiralada a ausência que é a constituição do ser humano. Mas como se me fosse íntimo, percebo uma leve alteração química quando estou na presença do que, ainda que seja mera representação, remeta-me a completude. O esforço por livrar-me da impressão equipara-se a exigir que o fígado abandone sua função exócrina, em meu corpo firmo tudo o que me suspende quando não suporto mais viver entre meus iguais.

Mas, com a mão fechada, guardando riscos de água, chega ao final da caminhada não antes de atravessar a rua. Um pequeno olhar de precaução para ver, em sua direção, o ônibus que ignorava qualquer exceção. Em sua frente, contrastando com a escuridão do final do dia, muito claramente, sua frente assemelhava-se ao que fosse uma passagem para onde a compreensão é absoluta. Irresistíveis milhões de impulsos são gerados em milésimos de segundo quase que automaticamente movendo o corpo em direção a essa galeria de auto-satisfação. O cansaço se apoderando das pernas rapidamente, turvando os sentidos mais externos, uma euforia quimicamente arquitetada para isolar-se de qualquer medo consciente e planejamento quanto ao futuro. Apenas se busca sanar a dor mais pungente, mais verdadeiramente enraizada.

Contudo, o portal já havia passado e se fechado. Era seguro completar a caminhada como em qualquer dia. E, antes que pudesse concluir seus pensamentos, encontrou.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Ímpeto

Difícil não se importar com coisas que não são realmente importantes. Pouca coisa mudou no exterior e a cada dia o tempo passa e tudo igual... Eu sinto como se qualquer esforço interno não valesse de nada, que fosse frágil e pronto a ruir com um assopro. A troco de que foi toda a mudança se ela não é palpável? A necessidade do concreto novamente é um beco sem saída.

A troco de que venho modificando cada molécula? Se nada disso me dará o que preciso? Eu nunca questionei a necessidade de mudar até agora. Apenas tive isso por meta. Mas e se não for? Há coisas que nascem agarradas em nós que nunca se desprenderão. E todas elas podem ter razões para serem como são, mesmo que não compreendamos bem tudo isso. Colocar uma venda e seguir em frente não parece o mais adequado a fazer e eu estou quase me encerrando novamente sem nem ao menos ter completado o processo. O que falta? Ainda?

E é errado sentir o ódio vazando a cada palavra, cada gesto injusto e o mundo se vira contra mim num jogo de sempre me lembrar onde estou e o porquê de nada ter sido acertado. Esse ódio motiva o lado oposto e em todos eu vejo o erro, por todos os cantos eu vejo o quão ínfimos e patéticos são esses seres medíocres que rastejam por suas existências rasas e mergulhadas em futilidade e alienação. Todos me provocam o mais repugnante nojo por estarem tão abaixo e ao mesmo tempo se colocarem tão acima. Que empáfia! De tanto que essa massa putrefata empurra vidas insignificantes através dos tempos, se multiplicando em mais e mais abortos incontidos vejo-me hoje no extremo de minhas forças, impossível conter esse infinito de erros.

Um fiapo translúcido em meio a toda essa sujeira, próximo a ela, mas, de certa forma, nunca mesclado. Ele flutua, tenho-o em minhas mãos às vezes, mas nunca definitivamente. Essa sensação tão certa...

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Límpida Identificação

Tenho pensado muito sobre relações. E estou com medo de achar que no fundo nenhuma delas seja autêntica. Claro que isso depende do que se considera como autêntico, mas deixe que eu me faça entender, o cerne do que imagino.

Quanto a identificar-se com alguém, isso pode ter vários níveis, tudo bem. O que promove essa ligação não é possível explicar e nem quero, embora me provoque curiosidade, mas, sem que eu me desvirtue do propósito, quero me centrar em um fato que percebi. Muito improvável seria que alguém fosse começar alguma relação mais profunda com alguém por quem a atração se limitasse ao âmbito abstrato. Sendo assim, não somos livres para amarmos – e consumar esse amor – com quem quer que desejemos e eu não estou falando apenas de gêneros, mas de uma gama de traços conectados à aparência física.

Esse desejar ao qual me referi obviamente é volátil. Se você deseja, você não tem por que não tornar palpável, mas o que eu queria dizer é que não se é livre dentro desse “desejar” porque você está proibido por si mesmo de cogitar um número N de possibilidades, dado a sua condição físico-psicológica. Ou seja, esse desejo é condicionado.

Dessa maneira, como não se faz real envolver-se com alguém repugnante a seus olhos, mas que o cativasse de outra maneira, onde está a sinceridade de apaixonar-se? De que vale amar se esse amor está entrelaçado a um prisma de futilidades? De que engrandece o sexo se ele só pode estar conectado com o que primeiramente provocou êxtase ao olhar?

E o que dizem sobre o fato de que todos encontram alguém, ainda que careçam de beleza? Bem, sobre isso só posso alegar a relatividade da beleza, mas até ela tem seu consenso, para o bem ou para o mal. O fato é que assistir a isso causa a ojeriza aos olhos mais sensíveis e sarcasmo aos mais frios. A indiferença não cabe neste âmbito. Toda a deformidade aparente, seja ela para qual direção for é, no mínimo, risível.

Tornado explícito o quão nos faz falta, se a buscamos e só satisfazemo-nos ao encontrá-la e ela precisa a nós estar atrelada para todo o sempre, pois é, por excelência, a lei da vida, - e vou explicar isso também – como confiar no amor? O amor verdadeiro, nem ele é imparcial. Por quê? Por que somos humanos? A ausência do sublime, então, é maior do que podemos findá-la? Eu não confio no que posso vir a sentir, se assim for e se assim não for, por mim, tenho certeza que nunca será, jamais, em hipótese alguma.

Digo que a beleza seja a lei, porque basta olhar ao redor. Mesmo dentre o lodo mais ignominioso que o ser humano expele, consegue uma rosa desabrochar, tão piegas quanto maravilhosa. E disso não escapam os animais, as outras plantas, as águas, o sol e as chuvas. Tudo que é natural é belo e vistoso, e o que não for habita em beleza. Não há como ir contra o que nos integra de uma forma que não sabemos explicar. Mas podemos nos olhar e nos sentirmos diferentes dessa lei maior. Onde está, então, a real beleza? Como procurá-la? Como precisar dela e não da óbvia?

Por que sempre é dificílimo precisarmos do que seria bom para nós? As palavras fluíram tais quais elas são. Eu recentemente tropecei em mim mesmo novamente e me deparei com algo claro, mas ainda inalcançável. Algo de que eu preciso, mas não neste momento. Do que chamar esse sentimento? Quando queremos algo agora, mas sabemos que agora não seria bom, mesmo isso sendo bom em si mesmo?  

domingo, 23 de outubro de 2011

Epifania

Impossível preencher o futuro sem dispensar um pouco do passado que tenho na boca. Eu já sei disso. Mas qualquer fino segundo que tenha passado a ser passado é saboreado com muito mais gosto pelos mínimos botões gustativos espalhados pela língua envolta em areia. A areia é o que resta do tempo perdido, já desmanchado em mil fragmentos, mas sólidos, ainda me sufocando. O ar passa com dificuldade, mas lamber, atravessando arduamente a parede arenosa, meus dentes e minha língua em contato com a pele, sentindo o gosto do passado. É o passado feito vivo, É a transformação que eu sempre quis.

Como se não me bastasse você enfiar suas artérias por dentro da minha pele, rasgando o tecido e se enrolando em meus vasos sanguíneos, tornando-me uma parte infinitamente dependente de seu corpo, você ainda consegue esse milagre. Por que você é assim? Por que quando eu estou suspenso, respirando a brisa mais cálida, ou me afogando em meu próprio pântano particular, você sempre está lá, sempre com sua mão gigante, mesmo que não queira estar, mas você se força a me enxergar, se força a ser a pior pessoa do universo na sua concepção só para estar um segundo que seja perto da minha dor. Você sente a minha dor mais do que eu mesmo. Deixa eu senti-la sozinho dessa vez.

E quando eu sinto meu sangue fluir com fúria, meu corpo incha em infinitesimais proporções e eu me sinto melhor do que eu sou, por você, e eu consigo respirar com o ar que você debruça na minha boca aberta com a sua presença pulsante, devolvendo o peristaltismo para meus órgãos cansados e eles são novamente comigo uma máquina perfeita, movimentando-se toda em conjunto, seguindo o seu ritmo, em sincronia perfeita, perfilando meus sentidos. O passado que eu tanto almejo, você o traz em você agora e você é o que eu mais desejo. Tudo em você me é familiar, nossos átomos em uníssono, de todos os seus poros, meu suor vaza discreto como sendo você que o sente. Estou com frio, aqui onde estou é inacreditavelmente frio.

E eu sou como o prédio mais alto da cidade. Eu não sou menos que o sol que ilumina a tudo onde se sabe e não sabe. Minha mente atravessa não apenas o que eu conheço, mas também o que ainda vou conhecer e eu não esqueço um segundo que se passou em minha vida milenar. Meu rosto não conhece a dor e mesmo assim eu me abaixo, me curvo, me desapareço debaixo de você, engolido por tudo o que você me faz sentir quando está do outro lado do mundo, vivendo o que eu sempre quis como eu sempre quis. Eu sempre quis o sofrimento, eu sempre quis a dor de querer algo que nunca teria. E isso foi a todo o custo.

Mas morrendo, me desfazendo de tudo o que está enroscado em mim, meu corpo todo doente de você, eu percebo que é a forma mais natural de matar algo feito para não morrer. Basta que se assopre e ele ressuscita, e tudo vira o que era antes. O passado feito presente. Meu sonho viraria realidade e eu teria tudo. Eu seria grande e tudo o que se pode ser! Minha vida em romance e filme nacional. E os dias são estranhamente diferentes de tudo o que eu já vivi, a liberdade me oprime como eu nunca imaginei que fosse. E você ainda está aqui, carregando todo o meu peso por mim. Mas o mais que pesa agora dói demais, eu aprendi a levar tudo sozinho.

É como entender o amor. Eu. Eu amo. Eu amo você. Eu te amo.

domingo, 16 de outubro de 2011

Iluminação

Nas vezes em que te vejo, eu me despreparo de qualquer coisa passível de adjetivação. Por pequenos descuidos, então, nos encontramos um pouco mais além, mas nada condenável. Nós somos o que se procura como objetivo de vida sem saber de toda a dor da responsabilidade. Minha mente liberta, sem qualquer espectro de qualquer lembrança, mas, estranhamente, basta eu sentir, ao longe, bem no imperceptivelmente longínquo o ar que sopra quando a navalha corta, tão rápida, para que eu esmoreça por dentro e queira voltar à minha natureza. Mas você me impediu antes e eu nunca vou além de mim. Mas você não sabe disso. E eu não sei provar para você que não podemos mais brincar com o tempo. O tempo é meu maior inimigo e eu não aprendi a entendê-lo.

Entrevejo na singeleza de um gesto uma força extraordinária que clama por uma lufada de qualquer sentimento mais sincero e puro. A pele já calejada e ralada que implora inconsciente por um toque mais macio que a lembre que a vida não está intrinsecamente podre, intrincada em sequências de desastres involuntários. Quando você vai perceber que tem nas mãos as chagas causadas por lâminas que saem de seus próprios dedos? Eu sou uma rocha, deixe que eu fique aqui e não sinta nada por você, deixe que eu fique aqui e seja a mesma coisa que o ar que não se respira, deixe que eu seja uma rocha vulcânica já resfriada, meio enfiada na terra, um pedaço para fora, onde só a chuva consegue alcançar. E todas as minhas certezas são represadas dentro dos cristais que tenho por dentro, um pouco frágeis, tentando eclodir. Mas você me impediu antes e eu nunca vou além de mim.

Eu amo a chuva. Sempre imagino, quando vejo uma janela pelo lado de fora, como deve ser o interior daquela casa e como deve ser olhar para essa janela pelo lado de dentro num dia chuvoso, assim, de tarde. Isso me dá uma sensação tão boa. O barulho da chuva e você, um pouco como que ,inesperadamente no meio de um sem princípio, estivesse sem qualquer equipamento, sem qualquer marca, estivesse sem qualquer lembrança. Apenas o que você é e o que seu corpo é de verdade. Só isso e a ausência dos... As palavras me traem neste momento e eu sou pouco para entornar meu sentimento mais autêntico. Eu quero a infalibilidade das palavras. A ausência dos percalços que nos transmutaram as opiniões e crenças, desvirtuando-nos, talvez, de nosso destino já traçado por cartas e figuras inexplicáveis. Apenas você. É isso. Você. E assim poderia germinar o que eu apenas sei. Eu não me afogo em desespero, eu não falo nunca o que desejo e nem meu corpo se desvela segundo meus sentimentos mais profundos. Eu sou uma torpe superposição de impulsos paradoxais, a maior coragem do mundo encerrada num corpo tetraplégico. Eu observo a sua simplicidade com um sorriso e guardo um pedaço dela entre os dedos, desejando que você me dê a chance de arrancar outros mais.

Quando você falseia o que mais deseja, eu ambiciono tachar o medo que você cultiva de imaturidade. Julgando-me exacerbadamente forte, debalde caem por terra meus planos de auto-libertação. Do que eu preciso me libertar? Da certeza de que preciso me libertar? E começar pelo ponto mais simples? A aceitação. Eu aceitei você em todos os seus recônditos após árduo processo interno ainda infindo. Por que agora me sinto falho ao ter aceitado? Era a luta que eu devia ter travado? Eu quase travei... Eu cheguei a desferir poucos golpes. Mas você me impediu e eu jamais consegui ir além de mim.

Eu sei de algo perfeito. Eu sei de algo que eu faria perfeitamente. Eu precisava de um elemento e ele está aqui, ele pulsa, ele anseia, ele é o que eu havia esquecido em alguma intersecção na linha do tempo. Mas ele está aqui. E me faz sentir extraordinário. Apesar de tudo. Apesar de tudo. Mesmo sem perceber, mesmo sem tentar, mesmo com tudo o que me arranca, eu me superei. Dei um passo além de mim.

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Foi tão difícil escrever isso. E de modo algum é o que deve parecer. Eu não sei o que parece, pra mim é o que é, afinal de contas. É como se eu quisesse ter escrito isso ontem, mas não consegui. Eu não estava com o sentimento amadurecido. Parece idiota falar de 1 dia de amadurecimento. Mas não é isso, são coisas. Eu vejo tudo com outros olhos, olhos diferentes do que parece para todo mundo. Eu tenho certeza que eu chego em casa depois de uma saída e todo aquele dia tem para mim uma impressão completamente diferente da que teve para todo mundo. Pois é, depois de algum tempo e várias saídas, todas as impressões formam alguma coisa. Eu preciso dormir.

sábado, 15 de outubro de 2011

Interrompido

Quando meu tato falha, geralmente sou levado a deixar-me levar e levo o tempo que se alastra ao redor de mim para novamente voltar a perceber. Um minuto se perpassa infinitas vezes dentro de si mesmo e são horas, horas, meses, meses, o infinito. Um infinito circunscrito de onde lanço meu próprio braço para erguer-me das garras de madeira, seus dedos ossudos, pontudos e afiados, perfurando minhas roupas, mantendo-me preso ao chão. Ao recusar-me, eu estava pondo a prova o meu mais inabalável sentimento, ou a forçação dele. Ainda assim o havia tornado de certa forma palpável antes de anulá-lo.

De repente o mal eclode em inominável. Perdi toda a vontade, tudo, de uma vez. Não sei o que sinto, nem se é bom, nem se já senti. Estou uma lâmpada queimada num quarto de noite, as janelas e portas fechadas. Apenas o que não se move está aqui.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Projeção

Estou constantemente colocando a mão por dentro de minha boca e puxando o que encontrar que toca o coração, vindo de cada vaso do meu corpo, misturando os elementos químicos que me definem. O epicentro dessa confluência guarda o que sou. Se eu pudesse desmembrar o altar, se eu conhecesse a fundo todas as reentrâncias do meu corpo, se eu soubesse o que há e como se processa tudo o que explode onde eu posso ver. Eu só percebo a explosão, e o que eu faço para alcançar a origem?

I couldn’t have been misguided when perceiving all I felt surrounding me. My spine bent in awe, myself holding it all against my will to believe it, but having it all been so accurately drawn... It just couldn’t have been another deviant experience. But for finally going against my being sure about the outcome, I pay the price I’ve gotten used to paying, and it smarts nothing to anyone. They look, they think, they laugh, they sadden, but they always go back home and sleep afterwards.

Finalmente me opus a mim mesmo neste ciclo de certezas.

Esbaldando-me em abraços, sinto de leve o correr dos dedos, tocando cada pelo, sensibilizando cada poro. Por dentro, os reflexos límpidos de tudo o que o exterior percebe. O corpo, avisando de dentro a emoção dos lábios ao serem mais um vez reanimados. Pequenas gotas de sensações mútuas se misturando, se identificando no entrelaçar de qualquer parte, a força da respiração ausente de estar viva e, finalmente, vivendo, agora, sendo o centro da existência. Os olhos não conseguem deixar de notar cada fragmento dessa beleza inexplicável. E todas as palavras que se antecederam a esse momento o fazem uma ilha cercada por ideias, percepções de trejeitos e modos, cercada de situações risonhas e momentos de silêncio, de ausência pungente e plácida presença. O correr das mãos, querendo aquilo que tem neste momento mais profundamente, querendo mais do que o querer engloba, as mãos em desespero contagiante, querendo conhecer além do toque. Uma vida inteira pautada no que acreditamos que somos, agora provando para nós mesmos que somos o que não encaixa onde todos estão deitados, confortavelmente sorrindo em seu sono profundo. Por que estar desperto agora soa tão leve? O sono não devia ser o alvo de todos?

Enquanto nos fazemos mais humanos, todos os seus traços vividamente estampados na minha imaginação seguem sendo exatamente perfeitos. Nossos corpos, assim, imperceptíveis, neste momento, inconcebíveis como elementos distintos, foram feitos para este instante no qual não sabemos como será o próximo segundo. Nos envolvemos como há bilhões de anos, quando surgimos, nos conhecendo a cada novo encontro na espiral do tempo. Um milésimo que pulamos na contagem das horas, quando conseguimos ver e sentir a vida toda de uma forma idêntica, nossos olhos sendo dois olhos, nossos cérebros sendo um cérebro, nosso sangue misturado, conservado dentro de nós ainda, ele passa por entre nossos beijos, banhando tudo por dentro.

O tato percorre cada recôncavo, a língua perpassa cada canto, explora cada pedaço, o interior permanece imiscuído em cogitações. Não precisamos preencher todo o íntimo de nós mesmos e nem um do outro. Todos os planetas de repente ficaram frios e hostis. Todo o universo apagou-se e virou uma nota rasgada. Eu busco o que está ao meu lado, com um sorriso no rosto, com a respiração ofegante, o suor escorrendo, os olhos abertos e fechados, as mãos tateando por carinho e procuro ser parte desse cansaço, parte dessa necessidade de não mais ter o que fazer o resto do dia inteiro e ficar ali, deitado por quanto tempo ainda restar, sentindo a indiferença do mundo e sem conseguir vislumbrar coisa alguma.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Declaração de Amor

Ele se expande aos que podem “se dar ao luxo da calma”. Todas as perguntas respondidas, a placidez de um acolhimento profundo e indefinidamente capaz de tocar os ombros, acariciando o pescoço, os braços de repente tomando o corpo todo para si. Sem precisar entender, o corpo todo enfraquece e, esmorecendo, ele desaba, deitado por fim, nesse embalo holístico. Entregar-se ao abandono de si mesmo requer a plena confiança, mas, tal qual um cheiro lembrado, a insensibilidade dessa vaga crença provoca um atropelamento de perguntas. A viagem ao redor do universo nos centra no que é periférico, no aparentemente inútil. Nunca permitir que o olhar seja nublado pela vida medíocre, que se faz a realidade, que se esfrega sempre em frente a pensamentos.

Ele oferece-se por inteiro, abraça com forças infinitas apenas tudo que por Sua bênção clama. E que clamor. É o que Ele deseja? Como saber se está no caminho que Ele traçou. Foi traçado? Eu me baseio no livro que escrevi há um segundo e no próximo parágrafo que estou fazendo agora. Então não foi Ele que escreveu esse livro através de mim, Sua criatura? E esse outro? Se não foi Sua mão fantasmagórica e gigantesca, que humano pode ter tido a petulância de evocar linhas vindas de Sua boca? Sua voz provavelmente destrói tímpanos, queima olhos, dizima existências falhas.

Eu acredito nunca tê-Lo ouvido. Mas na criação da qualquer coisa que somos, um pedaço dEle, jogado por dentro de nossas bocas ainda grudadas pode nos manter ainda Sua propriedade. Qualquer desvio - Não estou certo se assim Ele os fez - Ele o saberá. E o que se segue a isso? Iluminuras tem meu rosto. Eu vejo a multiplicidade em tudo o que encontro, pego-me arrancando-O de dentro de mim, qual violência Ele se utilizou ao forçar-me para um mundo criado secretamente, instigado por Seu plano e ordem perfeitos, mas furtivos. O que me não é dado compreender me fascina pela forma aquosa, de uma beleza superior ao planejado. Mas a frustração do fracasso pesa tal como. No fim, não me é lícito livrar-me do que me conecta a Ele e eu imploro para que Ele me responda, para que Ele exista como eu existo. Por que Ele não se iguala a mim por um segundo? Mãos, olhares, bocas e rugas destroçar-me-iam ante a iconoclastia, mas não me perscrutam a motivação. O vazio das atitudes fere minha estima de melhora, faz da esperança uma bola oca de madeira. 

Todos os sofrimentos proliferados ante a decisão de se fazer universos, de se gerar vidas, de se falsear a realidade. O que eu tenho ao meu alcance, toco e não estou certo se é ou não a verdade. A verdade, para mim, é o que sinto. De razões imprevisíveis, as raízes tão profundas e entrelaçadas que não se pode distinguir princípio e fim. Minha verdade está em alguma dessas intersecções ou apenas no fato de elas existirem. Mas de que Ele participa? Ele, que se mantém oculto pela surdez e desculpado pela intuição, Ele que se esconde através de palavras e se acolhe na propriedade com a qual Dele falam, esbravejam, condenam, matam, impõe, justificam, comandam, punem, rotulam. A punição é tardia, a imensidão inalcançável de flagelos já é epidêmica.

E por mais que eu faça votos de nunca mais me voltar para Você, sempre algo me puxa de volta e eu me pego com o pensamento tão distante que é impossível crer que era eu mesmo que estava há um segundo totalmente contra tudo e contra todos. Mas, se Você concordar comigo, não suporto a forma como eles dividem tudo em dois, como se permitem refastelar em insuficiências acolchoadas moldadas por eles mesmo, moldadas por outros para eles e totalmente preparadas, nenhum esforço envolvido. Apenas deitam e são felizes. São autênticos? E por que eu preciso de mais? Por que eu preciso que Você seja um comigo? E por que sinto às vezes que sou um minúsculo fragmento de grão que ainda não conseguiu aceitar essa felicidade imaterial baseada em cegas sabedorias pré-engendradas no subconsciente de quem prefere não voltar para si? A dor excruciante não é encarada como benigna, como recompensadora. Eu sei que Você existe, eu Te amo, mas eu não confio em Você.

E aquele aleijado ali do lado, sujo de tudo, com um pedaço de comida na mão imprópria para meus padrões olha para cima e eu entendo que nos olhos dele há gratidão. Eu sigo em frente. A dor vazia mais aguçada do que nunca.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Iminência

Por que eu sei?
Uma ultra-sensibilidade não seria capaz de apreender mil quilômetros de distância, então os sinais se propagam sem contato, mas infimamente distantes. E se eu novamente me forçar para dentro do idílico santuário de verdades absolutas? Suas paredes de cristal muito fino e transparente fazem dele uma profusão de sensações seguras. Eu deixo escapar por segundos que estou nele, mas você não notaria.

Em sua idônea existência, você nunca deve ter-se deixado perceber pelas mil farpas que cultivamos tão gentilmente ao redor. Agulhas recém-emersas do veneno grosso de bocas desdentadas relam por sua pele mansa incapacitadas de adentrar o corte. Eu vi. E descobri o quanto me fascinou a aparente loucura de estar em hostilidade e, talvez por ignorância, não se importar muito. As agulhas que eu fabriquei, mantive-as perto de mim o tempo todo, talvez por vergonha, talvez por medo, mas com certeza por egoísmo.

E pode ser que eu nunca mais esteja diante de tal leveza, de tal raridade. Eu que sempre busquei o autêntico. Eu consigo vislumbrar o tudo que se seguiria a um primeiro sucesso, está tudo claro, límpido, ofuscante em minha mente como se fosse real e palpável e o que é essa enxurrada que me opõe? Eu ganhei sobre mim novamente, mas desta vez, como das outras, definitivamente? E se eu atirasse para o ar? No escuro eu acertaria? E se eu não tiver que acertar?

Por voltar a mim sempre que os olhares se abrem, por mal-interpretar o que quer que seja para o meu bem, por erguer pilastras em solo fértil... O toque. Apenas o toque por entre um corredor de ventos pesados atingiria o inenarrável, mas eu o sublimo novamente e ele não quer ser sublimado. Ao que me atenho está, na verdade, sem resposta, está em aberto, está virgem. Mas eu já o antecipei por ele e ignorante de si mesmo. O meu orgulho é infinitamente superior. Vomito sentimentos em minha prisão estratificada, que apodrecem um por cima do outro e se configuram de acordo com meus desígnios inconsequentes. O que eu almejo afinal? No que se baseia a raiz do pensamento? Para onde quero me conduzir? Por que todas as atitudes que me movem para mais evocam a sensação que tenho ao mergulhar meus dedos nessa massa vomitada encarcerada? Eu a remexo para no fundo alcançar algum resquício da origem deste sentimento, de algum deles, uma pequena pedra com mil cores, alternando-se, muito cintilantes, dentro de minhas mãos cerradas.

Eu não sei bem o que fazer com ela.
Fico então sentado, sem coragem de fitá-la, com as mãos fechadas, uma contra a outra, segurando esse fragmento que exala feixes de luz por entre as brechas de pele sobre pele. A emoção me toma e, por um segundo, eu não me importo com “o que devo?” É um pouco de você que me faz sentir assim também, de longe.
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Acho que no próximo escreverei sobre Deus. Estou melhorando aos poucos comigo.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Digressão

As peculiaridades se amontoam como sendo vitais, elevando os níveis de fogo derretido, se esgueirando pelas paredes um pouco desgastadas de tanto serem raspadas pela força que tudo faz ao se arrastar por elas. O tremor se alastra suavemente, imperceptível, movendo sem controle, articulações involuntárias. O som despenca e se tropeça, sílaba por sílaba, por dentro arredondadas, mas recobertas de irregularidades. Elas têm a função de retalhar, vindas de um calabouço deserto, recoberto de mofo e dejetos, cheirando a sufocamento, emplastrado de saliva e bílis e restos, pequenos pedaços. Todo o corpo sentiria queimar-se se estivesse consciente de si. O sangue que vaza dos cortes no corpo atingido respingam e alimentam o cérebro, suas funções parcialmente restauradas. A autodefesa está em afagar-se. A autodefesa está em saber-se o suficiente para si próprio, em chegar em primeiro lugar no topo e olhar para baixo. Por que pode-se ver todos correndo lá embaixo? O ar ao redor como uma nuvem inteira de oxigênio acariciando mãos imóveis pela beleza do arredor. Os raios de sol, ao longe uma vista impessoal e estupenda. Lá embaixo, todos querendo subir, alguns pisoteados, outros sem saber a direção, alguns dando a vez, outros matando por um espaço. Consigo sentir nas pontas dos dedos a angústia de cada um e simplesmente esfrego essas pontas, me livro e olho para cima. O céu límpido me conforta por estar em união comigo. Um suspiro me enleva. Mas eles, lá embaixo, então se mesclam em brumas, olho para frente, estou diante do sangue, a cor não me parece definida. Mas não há nada mais.
           
Na busca, desintegrei aos poucos o que me conecta a uma unidade. Palavras são apenas palavras, vida é apenas vida, mas por dentro está a razão. O dedo que força para fora toda a podridão da carne, e olhar essa podridão feita real, ela está ali, flutuando e sendo matéria e o alívio de ela estar fora, mas o sofrimento de saber que ela tem a sua fonte que caminha, agarrada a qualquer lugar interior não-preciso. E detectar a fonte seria libertar-se dela? E dizimá-la, como uma busca pelo vírus, é a resposta? O que esperar após abraçar uma criatura feita sem braços? A espera se finca nos lábios, sempre prensados contra nada na esperança que ele se transmute em quietude. No final, agarrar nada será sempre nada. E o fogo derretido acaba por derrubar-se e empapar toda a carne, só para se esconder e depois voltar a ser produzido. Os olhos, os ouvidos, seus elementos catalizadores.

Como antes, eu preciso ver um pouco de sangue, ele me lembra do que sou. Mas não me leve a mal, eu não sou tão simples, eu não tenho objetivos tão claros. A morte não me atrai. Ela não me responde o que preciso saber.

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              Outro dia, encontrei coisas que escrevi no início de 2004 e meio de 2006, ou seja, com 18 e quase 20 anos, sendo a primeira uma idade muito importante para mim. Logo quando eu havia dito que queria ainda ter esses escritos. A maioria se foi, mas restou o suficiente. Agora o que fazer com essas descobertas sobre um eu já falecido? O que descobri de mais importante é que ele não faleceu por completo quando deveria. Algo dele ainda está passeando por mim e essa pode ser parte da resposta. Mas ainda não li tudo, não consegui assim, de uma vez só.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Inexorável

Agora, sentando meio reclinado e daqui a meio segundo novamente quase caindo para frente e de novo para trás, por horas, estagnado, pouso a atenção em minhas mãos que presenciaram tantos dias e noites. A pele, já quase desfeita, um pouco enfastiada de ser pele ainda, com marcas ao redor, pequenos pelos brancos aqui e ali. Meus olhos já não a percebem em tantos detalhes, mas a sinto assim, sinto-a tão em tantos níveis, a pele que não é mais como fora.

Mas o que sempre me desfez, agora não me atormenta mais, sinto-me confortável, sinto-me acomodado. Estou o que sempre nasci para ser e nunca mais preencher as minhas expectativas sobre mim mesmo. Agora não há expectativas, não há cobranças, meus medos e traumas, minhas opiniões e paranóias se adequam como nunca antes. Eu não busco voltar, estou onde sempre estive, mas mais autêntico do que nunca. Todo o nada faz sentido, a inércia é esperada, a ausência é mais do que apropriada.

Por que não sempre fui assim? Nunca estive tão perto da certeza da minha felicidade. Ela está há menos tempo de distância do que nunca. Eu me emociono, e desta vez não tem como ela não ser e será sem ser forçada, sem ser chamada. Será, porque é inevitável, é plena e também súbita. Neste momento, porém, devo ser o mais forte para não me antecipar e ir a ela, que venha, que me cubra e desfaça toda essa feiúra na qual imergi para me salvar... Com o tempo.

Nenhuma atenção, como antes, mas agora é justificável. Fracassar, como antes, mas agora nunca se pensaria de outra forma. Minha vida segue sendo o que tem que ser e pela primeira vez é tudo como deve ser. Eu recostei pela última vez. É improvável que eu consiga, mas, afinal, nem ligo mais. E não há nada para fazer hoje e nem amanhã e nem na semana que vem, muito menos mês que vem. E a deliciosa dúvida se haverá um ano que vem.

sábado, 1 de outubro de 2011

Efêmero

É exterior a minha vontade.
A eletricidade aproxima-se por qualquer brecha
e torna-se o fio condutor
de impulsos e

redireciona olhares,
guia gestos,
comanda movimentos,
cerceia exposições violentas.

Toda a pasta que cobre essa coisa que nos move
vagarosa, arrastada, oblíqua,
toda ela se desfaz, a mente por si só.
Apenas poucos sons,
apenas um milésimo,
um som,
um erguer,
um...

total se formando a partir de milhões de células adormecidas há milênios
debaixo de todos os continentes dentro de mim
irrompe e espreita na velocidade da luz, se firma
e se cala,
adormece,
reclina,
relaxa,
des-existe.

Passo ao que era antes, uma fórmula química ambulante,
refinando cada atitude na mais pura virtude,
esperando, tanto quanto for, portanto,
esse foi apenas uma faísca percebida como raio elétrico.
Ele simplesmente, aleatoriamente, despreocupadamente

aconteceu por aqui.

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E faz o que? Anos que eu não escrevo um poema? É, uns 10 anos. às vezes eu queria ter tudo o que eu não tenho mais, todos os que eu joguei fora, que eu destruí em momentos meus, meus "emotional stunts". Eles eram péssimos e infantis, eram. Mas eles eram o que eu era, eu era aquele sentimento e agora? Foi ótimo ainda conseguir fazer um poema, mas tão diferente... Tão, mas tão. Ainda não me precisei.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Pouquíssimo Tempo

Quando um instante é ausente de todos os porquês, ele é livre em si próprio apenas por existir sem poder ser explicado. Mas mais do que isso: sem a necessidade de ser explicado. Hoje eu queria falar um pouco sobre ao que raramente se dá atenção. Falar sobre o que, quando não se tem, pesa tanto que o desejamos, mesmo que toscamente.

O instante se esgueira e o corpo todo fica sem saber bem como agir ante um súbito anseio, pegar-se envolvido em uma corrente de sensações sem princípio e querendo seu fim, mas machucando-se na busca por aniquilá-lo. É assim que se começa? O sentimento carece de toda a lógica que o mundo exige. Ou nós exigimos? Inventar e acreditar em mil empecilhos parece mais uma forma de nos resguardarmos e parecermos mais fortes, como esperam que sejamos. Mas esse instante evoca para a vida além de sua presença o sentimento que se impõe, que grita e é extravagante, sem perder sua delicadeza, que é belo de se olhar e não consegue ficar sem ser tocado, a pele inteira do sentimento desdobrada em centenas de camadas, revelando o cerne do sentir. A autenticidade das emoções não precisa ficar coberta por fragilidades e o orgulho que todos cultivam tão cuidadosamente.

Naquele instante, por pouquíssimos segundos, estar-se em falta de si e do que está ao redor parece a maneira mais pura de se despir de toda a armadura que nos forçamos a vestir ao nos percebermos vivos. Todo o gesto ausente de uma condição, toda a fala ausente de um intuito, todo o toque buscando apenas conhecimento, buscando um núcleo no qual ambos ou todos possam viver fora da vida que nos foi imposta.

A imposição. Vivemos entre o patético e o sublime, misturados em uma pasta de mediocridade e subjetividade. E se as coisas de fato se mesclassem? Naquele instante, tão vivo, tão separado de todas as horas passadas e seguintes, um amor infinito, uma vontade arrebatadora e incontrolável, um sentimento mágico de completude e simbiose com... Uma vida inteira resumida em um instante, a dor excruciante da perda do momento e a sua superação apenas para viver de outros instantes e mais e mais até que se acumulem e virem algo concreto. Por que precisamos do concreto?

A busca, então, é não precisar? E quando se alcança? E como saber se chegamos ao fim? Eu quero esse instante eternamente colado entre meus dedos, eternamente revivido, eternamente unilateral. Ele não tem a capacidade de se expandir, ele é enclausurado, ele não se move, ele apenas observa, apenas consegue ser visto, olhando bem de perto, querendo olhar, já esperando. A alegria brota em meio a todas as pedras, dúvidas, incoerências e frustrações. Quem diria?

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Primeira Postagem

Eu já tive um blog uma vez. Mas ele era só meu e de algumas poucas pessoas. E talvez este continue assim, mesmo que ele seja anunciado. Pode ser porque nada de interessante esteja escrito nele, pode ser porque ele não tem pretensões, ele é vazio de apelo, é branco e pálido dentro de uma redoma vítrea fosca. Ele está num canto e existe por si só. Existe porque eu quis, mas não lhe dei nada para fazer com sua existência. E por isso relutei muito em nascer outro blog. Porque... Para que?
E todo esse atravessar vales e florestas atrás do sentido por trás de tudo me exauriu já a um grau infinito para uma vida inteira e eu nem estou na metade dela. Então resolvi fazer algo por fazer. Um blog, distraído, tomou um empurrão na vida e eu disse "vai, blog, ser nada" e ele foi. Ele está sendo e mesmo que eu nunca mais o olhe depois desta postagem, ele continuará sendo. E nós? Seríamos isso? Jogados aqui para sermos e bem-aventurados os que acharem uma função na vida? Mas... E se de repente eu perder a vontade de achar essa função, mas mesmo assim quiser viver? Seria eu oco? Seria eu superficial? Seria eu parte da massa? Logo eu que sempre soube ser diferente não-positivamente, mas fiz disso um positivo de dentro para fora. Que ironia eu ter de repente perdido a sede da busca. Pode ser apenas por este minuto e logo após eu volte a buscar. Mas agora, agora eu me sinto mais leve. Tudo o que qualquer pessoa fala me dá uma pista, me faz entender melhor, me faz ser diferente. Eu mudo de opinião em segundos, eu me critico e aos outros centenas de vezes e volto e apago e redesenho, me desculpo, amo, desamo, me apaixono, quero matar todos, quero dizimar sentimentos, quero conhecer o profundo da sensação mais sutil, quero conversar, quero brigar, quero desafiar, quero escrever e escrever e escrever sobre tudo isso sem saber o início nem o fim dos meus textos. Quero guardá-los aqui e esquecer como se deleta, ou eles vão também se perder. Essa veia não jorra por muito tempo, ela se fecha e se abre quando ela acha que está saturada e, depois de tanto tempo, eu me sinto na necessidade de lembrar que tenho sangue dentro de mim. Fiz isso. E é delicioso saber que, no cerne, somos orgânicos. Eu sei, alguns mais orgânicos que outros, mas ainda assim, mesmo que as pessoas insistam em se diferenciar, tem coisas que nos mantém idênticos. É perfeito ser diferente, mas, mais ainda, em alguns pontos, ser igual.
Acabei, talvez, explicando o propósito de algo despropositado. Eu tento criar palavras, tento me expressar através delas, mas elas me faltam, elas não se completam, elas são tão imperfeitas em suas múltiplas combinações. As palavras dão conta de uma gama infindável de possibilidades, menos, de fato, dizer.