quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Diacrônico 1

Será que eu deveria ter superado desejos um tanto idealistas? Claro que hoje em dia, encaro meu idealismo um tanto nato de uma maneira mais real. Mas me pego enganando a mim mesmo que não sou mais idealista. Eu busco isso. Resolvi colocar aqui algumas passagens que me espelham, e, mesmo vendo que não foram escritas por mim e isso para mim denota que talvez isso não seja algo a ser superado, porque é característico de pessoas, mesmo assim, eu sinto como se tivesse mais a aprender. Pode ser, então, a próxima lição. Mas a questão é: isso é algo a ser superado? A maioria deveria ser um modelo para mim? Até que ponto minha autenticidade se basta?


My romantic gene is dominant
And it hungers for union
Universal intimacy
All embracing
May I, should I or have I too often
Craved miracles
Como se tudo o que eu quis, mesmo que simples em palavras, fosse tão irreal a ponto de ser um milagre e isso seria a causa das minhas sempre frustrações. Pelo menos acho que passei da fase de jogar essas frustrações nas minhas costas. Trazer para o biológico a causa do amor me acordou como sendo algo mesmo inevitável, impossível de superar, mas hoje, mesmo sabendo que isso é a raiz de minhas quedas, não é algo do qual eu queira me livrar. Mas, como ter certeza quando eu estiver frente e frente com o que pode realmente valer a pena? 
I'm 13 again am I 13 for good?
Essa sim foi uma idade-chave para mim, foi lá que tudo tornou-se mais claro. Devagar, mas aos poucos, tudo foi fazendo mais sentido... Foi ali que comecei a encerrar-me em auto-análise profunda, quando os anos passaram envoltos em auto-críticas, em desespero, em dúvidas, eu estava sozinho e de mãos atadas, as quais eu mesmo atei. Eu me queimei por dentro até tornar a ausência uma parte de mim para que eu me acostumasse com ela e ela fosse uma comigo e eu não mais a sentisse. Naquela época, eu me bastei. Quando abri os olhos, tinha-se passado tanto tempo... Esse imenso vazio eu jamais consegui superar, esse vão que foi eu me conhecer durou o que a minha vida deveria ter feito acontecer. E eu aprenderia assim naturalmente? O que aqueles seis anos de lapidação interna, de burilamento mental, letras a fio, noites em auto-consumo, imaginação profusa de espectros construídos a minha volta na ânsia automática por acalmar-me, o desejo de auto-punição que recentemente emergiu, porém já dominado, o que esses anos significaram de fato? E vencer essa sensação de vazio tem sido mais fácil agora... Mas eu me moldo ainda por essa época, o que eu era com 13 anos ainda está aqui, ressurge em saltos, cobra uma vida que abafei em nome de que? Em nome de descobrir uma forma de domar meus medos... E novamente, depois, eu repeti esse erro, mas de outra forma. Isso me modificou de uma forma que eu não queria, que eu repudiava... Mas, devagar, estou começando a voltar a ser eu mesmo. Eu sei disso. Eu amo o que eu era. Estou começando a amar novamente.
Stars fading, but I linger on, dear,
Still craving your kiss;
I'm longing to linger til dawn, dear,
Just saying this:
Sweet dreams til sun beams find you,
Sweet dreams that leave our worries behind you;
But in your dreams, whatever they be,
Dream a little dream of me
Parece que é algo que limparia qualquer sofrimento ou daria um sentido a outros sofrimentos. Eu consigo entender quem não consegue desprender-se de um sentimento antigo, ou de um sentimento platônico, mas e quanto a desprender-se de um sentimento embrionário? Algo que urge por tornar-se real, por desenvolver-se? Mas aqui eu voltaria à questão anterior: é algo do qual deve-se desprender-se? Parei de lutar contra isso. Quero apenas sentir autenticamente, sempre racionalizei impulsos, querendo achar a explicação, a rezão, o motivo pelo qual o sentimento brota e, mesmo isso talvez sendo uma vontade oculta, por medo, de deixar que ele de fato brotasse, eu acabei não conseguindo evitar o orgânico, mas, bloqueando o mental, eu impedi o físico e toda a apatia que derivou disso parece ter me congelado ao longo do tempo. Eu consigo enxergar em mim agora um leque de fatos que fazem de mim além de meras palavras depreciativas, as quais afixei tão intimamente em cada célula viva e ainda por nascer. Perdendo a naturalidade com a qual eu raciocinava através de toda a reflexão e todos os fatos conjugados que despertaram em mim uma luz a cada segundo de vida, eu renovei a forma como a minha mente conduz seus pensamentos e perder a essência depressiva na qual é fácil acomodar-se deixou-me leve sem motivo. Estou feliz, então, posso dizer por ter estado sozinho quando me conscientizei do fim de um aparentemente infinito processo. Acho que "fim" não é a palavra mais apropriada... Digamos o fim de uma etapa de um infinito processo, pelo menos infinito até onde posso conceber. Sei que o que eu quero teria me desnorteado a tal ponto que eu confundiria a razão que me fez libertar-me. Eu consegui por mim mesmo e agora sim, estou a caminho de agregar sensações e crescer, não mais usar experiências como muletas para uma salvação mítica.

Eu vou continuar esse post, em um próximo post.



segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Caminhando

Basta que eu conheça alguém e esta pessoa já pertence inteiramente a mim. Basta que eu a veja passar para que seja enclausurada em celas que mantenho para uso em momentos que eu esteja distraído ou vazio. As mutações pelas quais passam inundam o ar com brumas invisíveis das quais apenas pode-se depreender o que elas provocam. Como se fosse feito apenas do que é calmo e frio, abraço essas brumas involuntariamente enquanto convido quem quer que seja a partilhar o que de mais precioso tenho a oferecer em forma de sonhos irrealizáveis, experiências elevadas do desfrute do mais puro sentimento, o cerne das sensações, lapidando um simples toque em uma união físico-mental transcendental, passando pelos contornos da vida unida, mantida separada dentro da união, passando pelo sombreado de dentro dos contornos, caminhando até preenchê-lo por completo.

E não há quem se doa desse encontro cósmico encarcerado. Porém, entrevejo pelas redomas espalhadas num espaço vácuo pequenos rompimentos, mais como buracos, algo fácil de ser conseguido, mas até aqui evitado. A coragem com que se estabelece uma micro-comunicação reticente, o lastro de um impulso embrionário contido por uma gestação secular, a maturação do ímpeto, cuidado pelos dias para que não promova um ataque ao equilíbrio de toda uma estrutura dita vital do cotidiano, talvez o cotidiano em si. O nascimento deste impulso, metamorfoseado no que a mente já tantas vezes concretizou no invisível é temido tanto quanto a felicidade. Ele, assim como ela, paralisar-nos-iam, esvaziar-nos-iam de toda a filosofia que nos conduz ao melhoramento de nós mesmo. E não sempre foi esse nosso intento? Por isso estamos tão afastados. Dourando nossos corpos nestes espinhos que são todas as pessoas, e saindo ilesos, quando assim conseguirmos, saberemos, que estaremos finalmente prontos um para o outro.

Porque uma via crucis encerra-se. E sem seu sentido amargo, como se deixasse rastros de decepção e derrota. Tenho reparado que o suplício é o alvo, conquanto estaríamos afogados em júbilo a princípio, mais tarde abater-se-ia sobre nós uma diferente sequência de calamidades, a qual só faz sentido sofrer junto.

Estranho que eu ainda desconheça quem faria todo o sentido. Mas foi então que eu achei. E não era uma pessoa, era um momento, era uma união de diversos fatores entrecruzados e o mais importante foi que tudo ocorreu exatamente comigo, da maneira como foi, cada passo, cada ausência, cada falha, cada dúvida, cada dor, cada incoerência, cada não, cada sim. O tempo de eu tornar natural o que eu sempre apenas entrevi. Quantos anos eu avancei neste relativamente curto espaço de tempo? Esta pode ter sido a mais importante de todas as lições, mas e agora? Agora eu estou pronto para começar algo. Mas eu não sei ainda o que é.  

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Metamorfose

Por que não mais olhar aquelas fotos? Se o fizesse sentir-se bem ou mal, não faria mais diferença agora. De tanto tempo que teorizara sobre os mínimos segundos que compunham o caminho até chegar à sua felicidade, agora ele acostumara-se ao deleite de sentir a falta. A falta, miraculosamente ele havia conseguido transformar algo vazio em concreto, palpável, o nada em tangível. Saudações a este pequeno milagre que era em si um atestado, uma prova inegável de que estava pronto para tirar de si a vontade de encontrar-se e, enfim, havendo encontrado prazer em sua companhia, poderia dividí-la. Mas e as fotos?

Ao passar de uma para a próxima, as conversas já não doíam mais e o sofrimento parecia tão longe... Mas estava um pouco descrente que houvesse superado-se, livrando-se do casulo que era em si uma proteção mais do que um receptáculo propenso ao seu desenvolvimento, amadurecimento. Ele continuou, olhos fixos, a tela movendo-se cada vez mais rapidamente por entre as lembranças que despertavam aquele sorriso franco, tão aberto e gentil. Por mais que escondesse os resquícios sentimentais, os pedaços pendurados de um amor embrionário, esquecido há tanto tempo por aquela pessoa, ele sabia, mas nada de concreto havia que o fizesse lembrar, com certeza. Aquela pessoa havia resistido à ânsia de entregar-se a esse amor. Uma vitória, um teste, era isso o que ele havia sido: um teste vencido.

E com as luzes ainda vivas em sua mente, cada feixe que ilustrava o canto de um sorriso ou uma mania marcante de ajustar a face dependendo do que era dito, todos os detalhes concentrados como marcas de um tempo bom. Segundos bons, horas... Ele sempre havia almejado além do que meramente acontece. E eternizar essa beleza, ainda que não fosse o ideal, era o seu ideal. Ele fazia questão, aos poucos, de esquecer-se do peso que acompanhava a lembrança e, fazendo-se além, tratava a saudade como natural. Não sofria mais, não estava mais apático.

Ao perceber-se, cessara a necessidade de abraços e quando sentia-se só, apenas vivia e lembrava do tempo feliz que passava sem pensar na necessidade. Por que realmente precisar de outra pessoa? Se estivesse isolado do universo faria alguma diferença? Sentia, talvez, o peso da pressão que ele mesmo absorvera, a pressão que o mundo gerava de todos os cantos, nas mais diferentes formas. Não sabia para onde iria, guiado por uma força maior do que a sua compreensão. Entregando-se ao prazer de si mesmo, sentia a felicidade partida ao absorver-se em êxtase. Quando foi que o sensível tornara-se tão palpável. Observava no vento o carinho de uma vida leve, um caminhar alheio aos perigos de se estar vivo e conseguia ver a beleza das pessoas e o peso de suas, muitas vezes, duras palavras.

Havia cavado por dentro da poeira de sua própria decepção e vulnerabilidade, impregnando-se com esses microscópicos flocos de desânimo e resiliência. Era o que sempre almejara ser, ou, pelo menos, começava a caminhar para o que achou somente possível a partir de um simulacro. Mas não. Enquanto pretendia fingir, nada brotou, mas naturalmente... Ele apenas sabia ser natural e sendo ele mesmo, conseguia ser alguém diferente. Não sabia se era esse quem ele sempre fora ou se realmente havia se transformado. E transformar-se não é ser ele mesmo? Nossa essência nos guia para a mudança, e não estava satisfeito, porém, descansara. Ele, que nunca achara possível dormir sozinho, agora cochilava e a energia de um dia inteiro a frente pulsava.

Agora sim, estava pronto.