domingo, 10 de março de 2013

Perdurando

Havia encontrado um súbito suspiro escapando por dentre seus lábios rotineiramente tão relaxados. E ao balançar seus braços, notava como era belo que pudesse cortar o ar e sentir o peso de seu corpo existindo tranquilamente. A certeza de que sempre estivera certo sobre si mesmo finalmente chegara, ante os recentes acontecimentos, sentia que tudo havia sido necessário. Tudo o que fizera e o que não fizera. Era, então, isso,  o estar em paz consigo mesmo? Ele não conseguia agir através de fingimentos, como simulando algo que não sentisse e, fazendo disso um hábito, pudesse acostumar-se a sentir-se daquela forma. Era guiado pela vontade. E estava à vontade sendo ele mesmo apenas. Aquela busca incessante por completar-se havia vindo corroborar-lhe a incompletude, a qual inexiste. Se há algo que juntar com o que se tem, é algo que estava dentro de dele e ele não havia descoberto. Mas não vazava simplesmente, estava intacto em um ponto aonde apenas se chega através das experiências. Por isso, nada do que se faz é perda de tempo. Até o que não ocorre é perda de tempo.

Deu a mão para sua outra mão e adormeceu em paz desta vez, confiante que o amor que brotara era real e crescia largamente dentro dele, um amor que se estendia aos outros, porque partia dele e não porque nascia nos outros e, assim, era transportado a ele. E, ainda que esse amor não lhe fosse outorgado, não importava. Ele criava cada fagulha de amor independente de qualquer circunstância e isso era dar-se paz. Em vez da ânsia que se apoderava dele toda a vez que se via sem ter sobre quem depositar esse sentimento, agora ele se via como receptáculo e deixava o caminho livre para que pudessem andar, flutuando, levemente entorpecidos, aqueles que quisessem dividir alguns momentos em sua companhia, uma vez que a ele também fosse benéfico. Acontece que era mister que fizesse parte deste processo o enxergar-se. Não se trata de orgulho, como antes pensara. Não se trata de empáfia, trata-se de amar-se, o que descobriu ser primordial.

Resultante do afirma-se como ser humano estava o abraçar mais do que fortemente quem outrora pensara ignorar por não ter a coragem de sentir o amor transbordar. As lágrimas legítimas que escorrem de um coração pleno de saudade são mais dignas do que as que escorrem do vazio tão arduamente construído por detrás de sorrisos calculados e palavras medidas. E palavras de carinho não deviam ser poupadas e toda a demonstração de amor deveria ser cultivada e toda a paixão deveria ser concretizada para que se viva tendo aprendido a ser feito de sentimento. E é lícito repudiar o que desanda ao que se definiu como prioritário. E ele havia definido. Sabia que o prioritário era que distribuísse essa placidez recém-fundada, por seus olhos, ainda que carregados de tristeza, mas deixava a mágoa ser enxugada por cada fragmento de pensamento feliz, cada projeção de uma cena em que estivesse junto com quem ama. Sendo feliz. Não é pecado ser feliz, ainda que seja apenas uma intenção. Naquele universo, o da vontade, ela é autêntica.

Ele queria saber mais de seu amor. Ele queria abraçar, beijar o dia inteiro, dormir junto, sair para um programa tão banal e íntimo, chorar quando se afastassem, dar um presente em uma data na qual se dá presentes, receber uma mensagem de fazer chorar pela simplicidade, dizer que ama...


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