quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Pouquíssimo Tempo

Quando um instante é ausente de todos os porquês, ele é livre em si próprio apenas por existir sem poder ser explicado. Mas mais do que isso: sem a necessidade de ser explicado. Hoje eu queria falar um pouco sobre ao que raramente se dá atenção. Falar sobre o que, quando não se tem, pesa tanto que o desejamos, mesmo que toscamente.

O instante se esgueira e o corpo todo fica sem saber bem como agir ante um súbito anseio, pegar-se envolvido em uma corrente de sensações sem princípio e querendo seu fim, mas machucando-se na busca por aniquilá-lo. É assim que se começa? O sentimento carece de toda a lógica que o mundo exige. Ou nós exigimos? Inventar e acreditar em mil empecilhos parece mais uma forma de nos resguardarmos e parecermos mais fortes, como esperam que sejamos. Mas esse instante evoca para a vida além de sua presença o sentimento que se impõe, que grita e é extravagante, sem perder sua delicadeza, que é belo de se olhar e não consegue ficar sem ser tocado, a pele inteira do sentimento desdobrada em centenas de camadas, revelando o cerne do sentir. A autenticidade das emoções não precisa ficar coberta por fragilidades e o orgulho que todos cultivam tão cuidadosamente.

Naquele instante, por pouquíssimos segundos, estar-se em falta de si e do que está ao redor parece a maneira mais pura de se despir de toda a armadura que nos forçamos a vestir ao nos percebermos vivos. Todo o gesto ausente de uma condição, toda a fala ausente de um intuito, todo o toque buscando apenas conhecimento, buscando um núcleo no qual ambos ou todos possam viver fora da vida que nos foi imposta.

A imposição. Vivemos entre o patético e o sublime, misturados em uma pasta de mediocridade e subjetividade. E se as coisas de fato se mesclassem? Naquele instante, tão vivo, tão separado de todas as horas passadas e seguintes, um amor infinito, uma vontade arrebatadora e incontrolável, um sentimento mágico de completude e simbiose com... Uma vida inteira resumida em um instante, a dor excruciante da perda do momento e a sua superação apenas para viver de outros instantes e mais e mais até que se acumulem e virem algo concreto. Por que precisamos do concreto?

A busca, então, é não precisar? E quando se alcança? E como saber se chegamos ao fim? Eu quero esse instante eternamente colado entre meus dedos, eternamente revivido, eternamente unilateral. Ele não tem a capacidade de se expandir, ele é enclausurado, ele não se move, ele apenas observa, apenas consegue ser visto, olhando bem de perto, querendo olhar, já esperando. A alegria brota em meio a todas as pedras, dúvidas, incoerências e frustrações. Quem diria?

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