segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

No Enquanto

Pela madrugada, farpas invisíveis.
Por mais que eu me rebata, é constante
a paraplegia de limitações intangíveis,
por todos os meus músculos, e além, tornando-se contagiante.

Ninguém ousaria falar frente a minha dor,
Pois que ao senti-la, em tormento, a língua se desfaz,
o grito não tem por onde evaporar e o torpor
dessa sensação excruciante esmaga, uma origem mística,
de há milênios condensados em anos atrás,
vaga, inóspita, fagulhas embebidas em veneno de uma ironia artística.

Embalde compus, de poéticas fibras, uma vítrea redoma
e canonizei uma imagem de mim mesmo em chuvas de pétalas,
admirando-me a pureza, de tão alto, de sublimes qualidades uma soma.
Inabalável estrutura e complexos compostos cerebrais, formando
tão inigualável obra-prima de altivez e hombridade excelsas,
cego por seus auto-clamores, ao toque de si próprio, tombando.
Eu me vi em pedaços, obrigado a curvar-me para reconstruir-me.
A humilhação de não ser inteiro, os sentimentos escorrendo em terra firme.

Eu corto em um braço e arregaço a pele com os dedos,
quanto maior a ferida, mais ela é o eu mais sincero,
mais ela diz de mim, mais ela afaga meus medos,
que adormecem, então, um adormecer singelo.

Tudo um ar tão presente, embora o mesmo espectro
de um passado enterrado, o cheiro do cadáver entorpece,
como se diariamente vivesse em retrospecto,
dia após dia se torna um passado, amalgamado, alimentando um cadáver.
Quero parar o passado de existir, ele se envaidece
de me atar e logra que eu não passe a ser
mais do que eu mesmo,
infinitesimal agora,
vivendo a esmo,
(por hora.)

O futuro convertido em pré-memória,
O amor convertido em carga viral,
de muitos a mesma história,
de apenas um, algo real.

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Poesia sempre me cerceia de alguma forma. Nada mais adequado, acho eu. Mas ainda assim tento evitar. Me traz muitas lembranças e não é do que eu preciso, lembranças.

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