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sábado, 4 de maio de 2013

Traços

Em hiatos proporcionados,
à mente me vem durante a solidão
o que obtenho apenas do silêncio:
o profundo esboço do que não vem à tona
quando me transvisto do que me conhecem por ser

E tendo decifrado desde os primórdios o enigma,
os acessos de ociosidade ejetam-me
do estigma da mediocridade de ser obrigado a permanecer sendo corroendo um hediondo emendo
da multiplicidade de seres que cabem
na vontade, na ânsia, no desespero, na lacuna, na falta, na saudade, na ausência...
das bordas dos meus dedos limpo o último resto de memória que deixaram-me

E partem
E esfriam
E desaparecem
E emudecem
E perde-se nos segundos um instante que é impossível reproduzir uma vez que houve morte e [ressurreição,
o corpo que deixou-se cadavérico sucumbir a um momento de loucura,
outrora o vissem, não lhe duvidariam a cordura
jazia, agora, a boca aberta, os olhos empapados, as mãos trêmulas, saliva escorrendo, o sangue [brotando
e os pontos minúsculos de onde escapava sua pena de si próprio
eram chagas que não doíam, porquanto
embebedava-se do motriz de sua sobrevivência: um auto-infligido e por suas mãos elaborado ópio.

Ao tomar para si o outro
em verdade tomava-se a si próprio, refestelando-se por ser quem era e comprazendo-se em existir [milimetricamente em cada fibra de seu corpo pulsante de vida e desejo de [que o mundo o coagisse a cada vez mais e intensamente fulgurar como o
[primor da criação.
Em verdade, doía-lhe que não fosse
talvez
o que tinha a certeza que era.
Mas era
e é
e todos disso não tinham dúvida
apenas ele:
o maior cético do mundo.  

domingo, 29 de abril de 2012

Big Bang


Movendo-me levemente no início,
os espinhos fincados em minha cabeça despregavam-se
tanto mais forte era de pura insatisfação o indício
do que me guiava, as amarras afrouxavam-se.

Envolto por enevoadas brumas hilariantes
perscrutei toda uma estrada transparente e povoada
por fantasmas esmeramente desenhados pelos semblantes
e expressões sorridentes e convidativas, a alma lavada.

E era o princípio da paz eterna,
mais leve de mim,
todo um asqueroso passado que hiberna,
julgado morto, sem provas de seu fim.

Vem desse passado uma fagulha,
a rasa previsão de um futuro em miragens
concretizando, antes do meu pensamento, meras imagens
com o peso final e tamanho de uma agulha.

Estupefato com a minha vida convergindo
de acordo comigo, como o centro de mim externado
o universo fazendo sentido, o sofrimento antes amalgamado
agora desfeito, a compreensão suprema, o esperado fluindo

E com a força da justiça embrenhada em tudo o que faço,
por dentre mim, rasgando meu ponto fraco exposto
meu esqueleto pulverizado, deformado meu rosto
inerte agora, os olhos vidrados, impossível qualquer passo.

Por horas estagnado, minha mente um turbilhão,
eu ainda vagando fora de mim atônito,
um grito afônico,
mas não cabia mais o modus operandi de até então.

Eu não era mais capaz de ser o de costume
e uma distração que me elevou para além do superficial
e se apagou na hora certa, um mal?
Em nenhum momento fora, mas nas trevas um lume.

Travestido de mil máscaras e adornos, jóias e panos,
maquiagem e trejeitos, scripts e planejamentos,
ordem e previsão, desejos moldados há anos,
vontades artificializadas, cálculos enfraquecendo momentos...

Era eu, como hoje me vejo, e me despi de toda a carapaça
e nu, com meus pelos humanos e meus defeitos e feiúras
caminho pela rua, e o mundo inteiro passa
ao meu lado e me toca com todas as mãos duras
de quem não sabe o que é um corpo humano
as correntezas do planeta fechando meu primeiro ano.
E neste quarto completamente vazio
espio dentro da minha boca a alguma procura
de qualquer som esguio
que me dê a resposta, a gota mais pura
de incrível satisfação simplória
em vez de toda a ostentação, para mim, peremptória

Não havia nada e volto a olhar
as paredes brancas, geladas, são confortáveis
e a cama, tão doce, tão cômoda, um mar
onde sinto meu corpo afagar-se, em ondas amáveis
e posso ser tranquilo novamente
e ser, a todo o tempo do mundo, ausente.

Que todas as direções me levem ao ponto de partida,
e passarei por mim sem saber
como numa nova vida
sem ter
o que sempre sonhei que teria
e não tendo é que eu conseguiria
nunca se tem como saber.
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Como pode o ser humano magoar tanto, ser tão gentil, ser tão incoerente, ser tão atencioso, ser tão insensível, ser tão sublime, ser tão patético, ser tão artificial, ser tão cruel, ser tão amável? Eu tiro por mim que sou algo diferente a cada instante, mas sei hoje quem eu sou. E sei mais sobre o que eu quero, ainda que não consiga concretizar tudo isso. Mas eu sei. eu sei onde tenho pisado e onde não quero pisar, eu sei milimetricamente o que se passa e o que todos têm em seus pensamentos, eu consigo ler as mentes do mundo e eles não falam, eles não dizem uma palavra e eu conheço tudo sobre todos e espremo seus coraçõezinhos amedrontados num abraço infinito de amor ou de ódio profundo. O sentimento sou eu agora, completamente humanizado e eu estou em tudo o que todos sentem e compreendo o amor do mundo, mas pouquíssimos de fato amam. A maioria não passa de egoístas, não passa de orgulhosos, não passa de mentirosos falsários. São como os dois pássaros no fio. Mas eu não apenas tentei. Eu voei para bem longe.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

No Enquanto

Pela madrugada, farpas invisíveis.
Por mais que eu me rebata, é constante
a paraplegia de limitações intangíveis,
por todos os meus músculos, e além, tornando-se contagiante.

Ninguém ousaria falar frente a minha dor,
Pois que ao senti-la, em tormento, a língua se desfaz,
o grito não tem por onde evaporar e o torpor
dessa sensação excruciante esmaga, uma origem mística,
de há milênios condensados em anos atrás,
vaga, inóspita, fagulhas embebidas em veneno de uma ironia artística.

Embalde compus, de poéticas fibras, uma vítrea redoma
e canonizei uma imagem de mim mesmo em chuvas de pétalas,
admirando-me a pureza, de tão alto, de sublimes qualidades uma soma.
Inabalável estrutura e complexos compostos cerebrais, formando
tão inigualável obra-prima de altivez e hombridade excelsas,
cego por seus auto-clamores, ao toque de si próprio, tombando.
Eu me vi em pedaços, obrigado a curvar-me para reconstruir-me.
A humilhação de não ser inteiro, os sentimentos escorrendo em terra firme.

Eu corto em um braço e arregaço a pele com os dedos,
quanto maior a ferida, mais ela é o eu mais sincero,
mais ela diz de mim, mais ela afaga meus medos,
que adormecem, então, um adormecer singelo.

Tudo um ar tão presente, embora o mesmo espectro
de um passado enterrado, o cheiro do cadáver entorpece,
como se diariamente vivesse em retrospecto,
dia após dia se torna um passado, amalgamado, alimentando um cadáver.
Quero parar o passado de existir, ele se envaidece
de me atar e logra que eu não passe a ser
mais do que eu mesmo,
infinitesimal agora,
vivendo a esmo,
(por hora.)

O futuro convertido em pré-memória,
O amor convertido em carga viral,
de muitos a mesma história,
de apenas um, algo real.

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Poesia sempre me cerceia de alguma forma. Nada mais adequado, acho eu. Mas ainda assim tento evitar. Me traz muitas lembranças e não é do que eu preciso, lembranças.

sábado, 1 de outubro de 2011

Efêmero

É exterior a minha vontade.
A eletricidade aproxima-se por qualquer brecha
e torna-se o fio condutor
de impulsos e

redireciona olhares,
guia gestos,
comanda movimentos,
cerceia exposições violentas.

Toda a pasta que cobre essa coisa que nos move
vagarosa, arrastada, oblíqua,
toda ela se desfaz, a mente por si só.
Apenas poucos sons,
apenas um milésimo,
um som,
um erguer,
um...

total se formando a partir de milhões de células adormecidas há milênios
debaixo de todos os continentes dentro de mim
irrompe e espreita na velocidade da luz, se firma
e se cala,
adormece,
reclina,
relaxa,
des-existe.

Passo ao que era antes, uma fórmula química ambulante,
refinando cada atitude na mais pura virtude,
esperando, tanto quanto for, portanto,
esse foi apenas uma faísca percebida como raio elétrico.
Ele simplesmente, aleatoriamente, despreocupadamente

aconteceu por aqui.

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E faz o que? Anos que eu não escrevo um poema? É, uns 10 anos. às vezes eu queria ter tudo o que eu não tenho mais, todos os que eu joguei fora, que eu destruí em momentos meus, meus "emotional stunts". Eles eram péssimos e infantis, eram. Mas eles eram o que eu era, eu era aquele sentimento e agora? Foi ótimo ainda conseguir fazer um poema, mas tão diferente... Tão, mas tão. Ainda não me precisei.