quarta-feira, 15 de maio de 2013

Tratado de Sepultamento do Passado

É universal, pois que não parte de apenas um foco, o desprezo que cresce e se alastra por minhas opiniões acerca da massa ignorante que ambula por ruas amontoadas de estagnação e indiferença, conceitos arcaicos e mediocridade, leviandade e pequenez. O ser humano é traduzido em apenas nojo, a vergonha que se abate por precisar estar conectado a esse bando de lixo obtuso, seres dispensáveis de uma complexidade microscópica, apenas contentes em enxergar a partir de suas próprias visões deturpadas pelo egoísmo. Onde está qualquer amor por parte desses ignóbeis abortos da natureza? Onde está qualquer consideração? Onde está o sentido humano atribuído a essa palavra positivamente? Apenas vejo um mar de células dissociadas, pulsando por si próprias em nome de vícios e prazeres momentâneos, falta de interesse em construir e prazer em destruir, em condenar, em sabotar, em provocar a dor. Anseio que se aniquilem em seus próprios erros e passem a deixar que seja, o planeta, enfim, um ambiente de paz e harmonia. A vida não lhes cabe.

A dor da frustração por falhar em entender o porquê da inferioridade estúpida desses seres mal-feitos cresce em forma de agonia por pertencer a essa natureza fadada a autodestruição. Que sofram por seus erros "em busca da felicidade", porém, mais do que isso, buscam-na partindo apenas da própria e mal sabem, imbecis que são, ser impossível atingir a plena felicidade sem que ao outro façam o bem antes. Tantas foram as chances dadas por atos de bondade de abnegação, de puro amor e compreensão, de afabilidade e mansidão, de desejo de união e perpetuar a vida para que, através deles, a felicidade pudesse dar lugar a essas crises de sofrimento e instaurar-se-ia o divino prazer de poder descansar. Em vez disso, porém, ignorando a preciosidade de um diamante a vista, prefere-se retornar ao ciclo de erros e choro. Não me é possível entender! O que tudo isso quer dizer? Por que o destino não se cumpre? Por que o erro é escolhido? Quando sempre achei-me assoberbado por fatalidades, neste âmbito o sofrimento é menor pois atribuiria ao acaso a origem do meu sangramento. Mas quando é voluntário... Eu não consegui digerir essa destruição do ideal por mim cultivado durante tantos anos. O que fazer de agora em diante? Por vezes quero tanto seguir em frente e outras tudo me parece tão sem sentido.

Eu vos odeio e amaldiçoo, posto que sois, em verdade, alegoria de um conjunto humano. E descanso, pelo fato de saber-me detentor do esforço maior na direção do progresso e, garanto-vos que, enquanto afundais na lama de vossas escolhas erradas, subo eu degraus de ascensão à felicidade, construída lado a lado com o amor que se deixa brotar, o amor que se constrói na naturalidade e na calma, o amor verdadeiro e profundo, independente do destino e das palavras ditas. Eu não fujo ao compromisso, eu sou tudo de mim e, apesar da infelicidade que perdura em meu coração, estou consciente de que minhas mãos lutaram para que se honrasse um compromisso com a purificação. Ao passo que fugiram, todos, a esse compromisso, meramente lamento e que minha dor se multiplique em vós setenta vezes sete. Pois minha consciência adormece pacificamente e os tormentos que abater-se-ão sobre vossas existências miseráveis apenas se iniciam.

Decerto que transformou-se em entrave todo o sentimento que alimentei por meros minúsculos amalgamados de falhas, uma vez que a razão esforça-se em vão para entender a origem do querer bem aos outros. Faz-se imperiosamente necessário, para que o progresso se conclua, enterrar esses vírus em arcas lacradas, acorrentadas e sepultadas nos confins de um passado remoto o qual a memória apenas vislumbra. Nesse sentido, qualquer resquício de carinho a esses patéticos, torpes indivíduos dedicado ambiciona ser extirpado de mim, de forma que deixe de alimentar uma sabotagem de mim mesmo, guiando-me em direção ao novo, ao maduro, ao que apenas transborda momentos felizes e, se cravados por tribulações, um desejo maior de que essa felicidade se perpetue resolverá qualquer conflito em nome apenas do bem. Um suspiro de alívio, sementes de uma vida realizada e produtiva, medos e cortes profundos cuidadosamente curados e a torrente de mágoas sublimada. Todo o pranto terá valido a pena, todos os desencontros terão o seu sentido costurado por haver-se chegado aonde chegarei: o resultado de tudo isso que apenas configura-se em um concreto novo começo.

Debruçando-me sobre os anos antes deste, como transmutei-me em outra pessoa e observo, afastado, como simplesmente sois a mesma porcaria de quando dissemos, todos nós, as últimas palavras uns para os outros. Certo dia, será consolidada, finalmente, a sensação de haver perdido quase nada por terem dilacerado um coração gentil que pulsava por vós, que, de certa forma, ligou-se, tão profundamente aos vossos que, ainda que fisicamente a distância seja essencial, desgarrar-se é trabalho diário e doloroso, enquanto seguis vossas vidas alegremente, ausentes de vós mesmos, cercados por vossos vilipêndios autoprovocados. Ofereci-vos alívio, sois a personificação da autopiedade, a exegese do vil. Ao que eu entenda o quão ínfimo sois, libertar-me-ei e pronto estarei para abraçar com amor novamente.

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