quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Iminência

Por que eu sei?
Uma ultra-sensibilidade não seria capaz de apreender mil quilômetros de distância, então os sinais se propagam sem contato, mas infimamente distantes. E se eu novamente me forçar para dentro do idílico santuário de verdades absolutas? Suas paredes de cristal muito fino e transparente fazem dele uma profusão de sensações seguras. Eu deixo escapar por segundos que estou nele, mas você não notaria.

Em sua idônea existência, você nunca deve ter-se deixado perceber pelas mil farpas que cultivamos tão gentilmente ao redor. Agulhas recém-emersas do veneno grosso de bocas desdentadas relam por sua pele mansa incapacitadas de adentrar o corte. Eu vi. E descobri o quanto me fascinou a aparente loucura de estar em hostilidade e, talvez por ignorância, não se importar muito. As agulhas que eu fabriquei, mantive-as perto de mim o tempo todo, talvez por vergonha, talvez por medo, mas com certeza por egoísmo.

E pode ser que eu nunca mais esteja diante de tal leveza, de tal raridade. Eu que sempre busquei o autêntico. Eu consigo vislumbrar o tudo que se seguiria a um primeiro sucesso, está tudo claro, límpido, ofuscante em minha mente como se fosse real e palpável e o que é essa enxurrada que me opõe? Eu ganhei sobre mim novamente, mas desta vez, como das outras, definitivamente? E se eu atirasse para o ar? No escuro eu acertaria? E se eu não tiver que acertar?

Por voltar a mim sempre que os olhares se abrem, por mal-interpretar o que quer que seja para o meu bem, por erguer pilastras em solo fértil... O toque. Apenas o toque por entre um corredor de ventos pesados atingiria o inenarrável, mas eu o sublimo novamente e ele não quer ser sublimado. Ao que me atenho está, na verdade, sem resposta, está em aberto, está virgem. Mas eu já o antecipei por ele e ignorante de si mesmo. O meu orgulho é infinitamente superior. Vomito sentimentos em minha prisão estratificada, que apodrecem um por cima do outro e se configuram de acordo com meus desígnios inconsequentes. O que eu almejo afinal? No que se baseia a raiz do pensamento? Para onde quero me conduzir? Por que todas as atitudes que me movem para mais evocam a sensação que tenho ao mergulhar meus dedos nessa massa vomitada encarcerada? Eu a remexo para no fundo alcançar algum resquício da origem deste sentimento, de algum deles, uma pequena pedra com mil cores, alternando-se, muito cintilantes, dentro de minhas mãos cerradas.

Eu não sei bem o que fazer com ela.
Fico então sentado, sem coragem de fitá-la, com as mãos fechadas, uma contra a outra, segurando esse fragmento que exala feixes de luz por entre as brechas de pele sobre pele. A emoção me toma e, por um segundo, eu não me importo com “o que devo?” É um pouco de você que me faz sentir assim também, de longe.
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Acho que no próximo escreverei sobre Deus. Estou melhorando aos poucos comigo.

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