segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Projeção

Estou constantemente colocando a mão por dentro de minha boca e puxando o que encontrar que toca o coração, vindo de cada vaso do meu corpo, misturando os elementos químicos que me definem. O epicentro dessa confluência guarda o que sou. Se eu pudesse desmembrar o altar, se eu conhecesse a fundo todas as reentrâncias do meu corpo, se eu soubesse o que há e como se processa tudo o que explode onde eu posso ver. Eu só percebo a explosão, e o que eu faço para alcançar a origem?

I couldn’t have been misguided when perceiving all I felt surrounding me. My spine bent in awe, myself holding it all against my will to believe it, but having it all been so accurately drawn... It just couldn’t have been another deviant experience. But for finally going against my being sure about the outcome, I pay the price I’ve gotten used to paying, and it smarts nothing to anyone. They look, they think, they laugh, they sadden, but they always go back home and sleep afterwards.

Finalmente me opus a mim mesmo neste ciclo de certezas.

Esbaldando-me em abraços, sinto de leve o correr dos dedos, tocando cada pelo, sensibilizando cada poro. Por dentro, os reflexos límpidos de tudo o que o exterior percebe. O corpo, avisando de dentro a emoção dos lábios ao serem mais um vez reanimados. Pequenas gotas de sensações mútuas se misturando, se identificando no entrelaçar de qualquer parte, a força da respiração ausente de estar viva e, finalmente, vivendo, agora, sendo o centro da existência. Os olhos não conseguem deixar de notar cada fragmento dessa beleza inexplicável. E todas as palavras que se antecederam a esse momento o fazem uma ilha cercada por ideias, percepções de trejeitos e modos, cercada de situações risonhas e momentos de silêncio, de ausência pungente e plácida presença. O correr das mãos, querendo aquilo que tem neste momento mais profundamente, querendo mais do que o querer engloba, as mãos em desespero contagiante, querendo conhecer além do toque. Uma vida inteira pautada no que acreditamos que somos, agora provando para nós mesmos que somos o que não encaixa onde todos estão deitados, confortavelmente sorrindo em seu sono profundo. Por que estar desperto agora soa tão leve? O sono não devia ser o alvo de todos?

Enquanto nos fazemos mais humanos, todos os seus traços vividamente estampados na minha imaginação seguem sendo exatamente perfeitos. Nossos corpos, assim, imperceptíveis, neste momento, inconcebíveis como elementos distintos, foram feitos para este instante no qual não sabemos como será o próximo segundo. Nos envolvemos como há bilhões de anos, quando surgimos, nos conhecendo a cada novo encontro na espiral do tempo. Um milésimo que pulamos na contagem das horas, quando conseguimos ver e sentir a vida toda de uma forma idêntica, nossos olhos sendo dois olhos, nossos cérebros sendo um cérebro, nosso sangue misturado, conservado dentro de nós ainda, ele passa por entre nossos beijos, banhando tudo por dentro.

O tato percorre cada recôncavo, a língua perpassa cada canto, explora cada pedaço, o interior permanece imiscuído em cogitações. Não precisamos preencher todo o íntimo de nós mesmos e nem um do outro. Todos os planetas de repente ficaram frios e hostis. Todo o universo apagou-se e virou uma nota rasgada. Eu busco o que está ao meu lado, com um sorriso no rosto, com a respiração ofegante, o suor escorrendo, os olhos abertos e fechados, as mãos tateando por carinho e procuro ser parte desse cansaço, parte dessa necessidade de não mais ter o que fazer o resto do dia inteiro e ficar ali, deitado por quanto tempo ainda restar, sentindo a indiferença do mundo e sem conseguir vislumbrar coisa alguma.

Nenhum comentário:

Postar um comentário